Liniker nunca tinha ido ao Lollapalooza, nem como público, antes de cantar pela primeira vez no festival em 2018. Mas, na ocasião, precisou se despedir mais cedo do que o esperado por causa de um problema técnico no palco.
Chorando, a cantora deu adeus ao público, que respondeu com carinho. “Foi uma surpresa porque nos preparamos muito para aquele show”, conta. “Mas ter essa resposta das pessoas foi, tipo: ‘Ok, não terminamos o show, mas foi bonito, foi potente’.”
O festival pediu desculpas, e este ano ela volta, em 6 de abril, para apresentar o segundo disco gravado com a banda Os Caramelows, “Goela abaixo”. Um trabalho “sobre autocuidado, ansiedade” e mais “maduro” que o anterior, “Remonta” (2016), nas palavras da paulista de 23 anos.
Não restaram mágoas na relação com o Lolla. Mas a cantora defende uma mudança de postura do festival para diminuir a distância em relação a quem, como ela no passado, não pode pagar pelo ingresso.
“É problemático um festival ter preços que não são acessíveis. É importante que seja pensado como ele poderia ser mais acessível.”
Ao lado do baixista Rafael Barone, Liniker propõe soluções para aumentar a inclusão.
Também relembra um encontro com David Byrne nos bastidores, defende o textão e mostra que tem tentado se afastar do conceito de “lacre”, pelo qual ficou marcada no início da carreira. “O jogo já é outro.”
Liniker – Foi lindo. Aquele telão gigante atrás de mim, às vezes começava a fazer show para o telão de tão linda que estava. Só via o Lolla da TV… Nem TV, porque não tinha TV a cabo, via na internet.
O fato de ser um show televisionado mostra que estamos chegando em lugares importantes. Vamos estar ao meio-dia aparecendo na TV, desse jeito. Fora as trocas…
“Conhecíamos David Byrne de Nova York. Estávamos no refeitório [dos artistas do festival], e aí eu falei: ‘Meu Deus, o David Byrne!’. Ele chegou: ‘Hi, I remember you from New York’ [‘Oi, eu me lembro de você de Nova York’]. E eu: ‘Hi, David Byrne, tudo bem?’.”
Essas bandas que fecham os dias são escolhidas milimetricamente com foco em qual público elas levam. E acho que essa questão precisa ser debatida: ocupar espaço em rádio, por exemplo. Quem ocupa esse espaço é major. De onde vem isso?
“Quem escolhe quais artistas vão ter investimento dentro das majors para conseguirem chegar no público de massa e virarem headliners desses festivais?”
Liniker – Mas também tem um lugar de espaço social. Quem é o público? Quais são as pessoas que têm dinheiro para pagar um festival desse? Como falar de inclusão sendo inclusivo na prática?
Esses festivais, com os anos, têm corrido atrás do futuro e do que está sendo dito agora, sem ficar reproduzindo um padrão de festivais que já aconteceram. Na arte hoje, a gente precisa ser um pouco mais ousado e estar atento aos movimentos.
Pelo fato de ser um festival televisionado, é algo que me deixa… Ok, pelo menos isso está sendo registrado. As pessoas vão saber que isso existiu. Mas realmente é problemático um festival ter preços que não são acessíveis. Nem todo o mundo no Brasil tem essa condição.
Não que eu esteja falando por todo o mundo. Estou falando por mim. Acho que meu trabalho reverbera e as pessoas que o acompanham começam a se potencializar. Sinto que é importante que seja pensado como ele poderia ser mais acessível.
“Será que não poderiam ter ações pela cidade de São Paulo? Um pocket show aberto de alguma banda? Para as pessoas saberem que não está tão distante. É um sonho…”
Fonte: G1