
Um homem com pouca roupa repleto de argila. Sentado na grama, seus movimentos aparecem moldando a terra no rosto. Não sobram olhos, nem boca, nem nariz. Tudo fica coberto de lama. Na calçada, o público, de aproximadamente 50 pessoas, para e olha tentando entender o que vê. Performance como a descrita acima foi que causou surpresa ontem (8), na calçada do Centro Cultural José Octávio Guizzo, na Rua 26 de agosto.
Dudx é sul-mato-grossense mas hoje vive em SP. (Foto: Paulo Francis)
Ele usou elementos naturais para compor a performance.
Coberto de lama, às vezes agressivo e em outros instantes angustiado, Dudx provocou com seus movimentos um pensar sobre a natureza, em um momento que o país tem sido tomado pela lama, em desastres ambientais que levam para longe pessoas e animais. Através do espírito “Anhangá”, presente em lendas indígenas como o espírito protetor das matas.
Mas, sem estar embebido pela sinopse de poucas linhas na porta do espaço, quem passava na rua ou foi pela primeira vez ao “IPêrformático”, que segue até o dia 15 abril com performances pela cidade, saiu pensativo, confuso, criando para um significado próprio à performance, parte ainda mais interessante da arte contemporânea, capaz de estabelecer um diálogo com a sociedade mais solto e usar criativamente o espaço público de um jeito que nunca se viu.
Fotógrafa achou performance sensorial.
Visivelmente a expressão de Dudx também incomodou, especialmente, aos que passaram gritando o nome do presidente enquanto rolava apresentação. Mas o público não se abalou e seguiu firme assistindo a performance que mostrava Dudx sujo, rolando na terra, dançando, respirando o ar das plantas, outras vezes jogando tudo fora sentindo dor, angústia, aparentemente, medo.
“Mas o que você enxerga ali?”, perguntamos ao público que, em pouco tempo, criou sua própria resposta questionando a relevância da natureza, a importância da arte e expressão. “Eu senti uma angústia muito grande ao ver ele se cobrindo e sufocando, me fez pensar nessa vida em que a gente se sufoca com todos os problemas. Mas, ao mesmo tempo, achei muito libertador ele usando os artefatos que tinha em volta, especialmente, a terra que é nossa, que precisa ser cuidada, preservada. Ao mesmo tempo, o incenso me trouxe tranquilidade, uma paz”, descreve Rafaela de Souza Gomes, de 20 anos.
Leonardo pensou na necessidade da performance como força expressiva.
Eduardo Signor, de 23 anos, já tinha assistido outras performances de Dudx, mas saiu de novo surpreso. “Ele aqui teve um significado especial, porque vi um homem fazendo performance com terra dele, ou seja, existe um certo retorno, um acolhimento, é como ele se sentisse em casa”.
Também pela primeira vez, a fotógrafa Amanda Demarcki, de 28 anos, viu os animais. “Achei bastante sensorial e interessante como ele interpreta os animais, em vários deles a gente consegue definir o que é e isso é uma entrega muito grande à arte”.
A acadêmica Anna Beatriz, de 23 anos, não nega que a performance “causou uma confusão” na cabeça. Mas saiu pensando na angústia. “Eu vi um corpo deformado, sujo, em um incômodo muito grande, expondo às pessoas que observavam coisas que faziam muito sentido para ele e talvez não faça sentido para todo mundo. É muito louco pensar nessa bagunça”.
Fonte: Campo Grande News