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NA MÚSICA DE MS, NINGUÉM PASSA A RÉGUA

por Administrador / sexta-feira, 29 novembro 2019 / Publicado em Cultura

(Originalmente publicada na Revista da UBC – União Brasileira dos Compositores)

 

Manoel de Barros, nascido em Cuiabá e criado desde menino em Corumbá e falecido nos últimos dias de 2014 em Campo Grande era, segundo sua

própria sensibilidade poética, o inventor de amanhecer. Ao se referir ao Pantanal, local onde cresceu “entre árvores, passarinhos e

caramujos”, ele disse que “no Pantanal, ninguém passa a régua”. O Mato Grosso do Sul detém em seu território pouco mais de 70% da área

pantaneira, e a maneira que o genial poeta de vê este imenso e rico patrimônio se assemelha com a forma de o sul-mato-grossense se

relacionar com a música produzida por um dos mais jovens Estados da Federação.

 

A ocupação do antigo sul de Mato Grosso começou a acontecer, efetivamente, após o término da Guerra do Paraguai, no final do século 19 e a

emancipação político-administrativa só veio em 1979. E hoje, o território de tamanho aproximado ao da Alemanha abriga apenas 79 municípios,

sendo que apenas 4 deles com mais de 100 mil habitantes, num total de pouco mais de 2 milhões e meio de pessoas. E, mesmo assim, nesse

Estado do tamanho de um País e com baixíssima ocupação por quilometro quadrado, brotam artistas a cada novo dia que, independente do ritmo

e do estilo que escolhem, se orgulham de suas raízes culturais.

 

Em Mato Grosso do Sul se destacam exímios cantores, instrumentistas, compositores e produtores de blues, jazz, rock, entre tantos. Mas, é

no sertanejo que a produção musical é mais profícua. Boa parte dos artistas que mais vendem CDs e fazem show no mundo sertanejo tem origem

em Mato Grosso do Sul, como Michel Teló, Luan Santana, Munhoz e Mariano, João Bosco e Vinicius, Jads e jadson, entre tantos. Todos “nascidos”

aqui, mais especificamente na capital Campo Grande, mas não tem exatamente o mesmo estilo, e isso se explica observando atentamente as

raízes culturais deste interessante Estado.

 

A interessante mistura de ritmos e culturas que “contaminou” o sertanejo local começa a acontecer a partir de Campo Grande, com a chegada de

vários povos do País e do mundo na primeira metade do século 20. Paraguaios, libaneses, japoneses, portugueses – só para ficar em alguns -,

misturaram-se a mineiros, mato-grossenses, paulistas, paranaenses e gente de todo o Brasil, que “ouviram” falar de terra boa e belas paisagens,

notícia levada depois da passagem por essas terras de soldados e aventureiros, durante a Guerra do Paraguai. E tudo isso começa a se transformar

em um caldeirão efervescente de onde saiu a peculiar música de Mato Grosso do Sul, a partir da década de 1950.

 

Nessa década, Campo Grande já apresentava uma característica ainda forte nos dias atuais, que é atrair pessoas do interior que da Capital

fazem a sua morada. Entre eles, muitos dos novos cantores e compositores, que começam a fazer a música “made in MS’. Desta geração, destacam-se

Délio e Delinha, então conhecidos como “casal onça de Mato Grosso”, Zacarias Mourão, Amambai e Amambay, Zé Corrêa, Beth e Betinha. Essa geração

dá início a um ciclo de produção autoral da música local com efeitos sentidos até hoje, e nasce sob a influência direta da música paraguaia,

mas que consegue criar rapidamente o estilo campo-grandense de se fazer música, incorporando ao estilo – além da polka paraguaia -, o rasqueado

e o chamamé argentino da região de Corrientes, que o magistral instrumentista Zé Corrêa recria, com um novo jeito de tocar o acordeom de

forma que ao ouvir se dá a impressão de ter dois ou mais instrumentista o executando.

 

A geração a partir da segunda metade dos anos 1950 moldou a moderna música sertaneja sul-mato-grossense que, ao longo dos anos até hoje,

também incorporou novas influências e ritmos. Essa turma gravou seus álbuns em São Paulo – principalmente na gravadora Califórnia, sob a

direção e encantamento do mítico Mário Vieira -, vendeu muitos discos e alcançou grandes sucesso nas rádios paulistanas. Délio e Delinha

abriram a “porteira” e levaram Zé Corrêa que logo passaria a gravar seus próprios trabalhos. O acordeonista denominado “o rei do chamamé”,

por sua vez apadrinhou na gravadora artistas como Amambai e Amambay e Jandira e Benitez.

 

Toda essa enorme produção autoral plantou as sementes que deixaram o território sul-mato-grossense mais fértil do que suas terras vermelhas

abundantes do soja. A produção local apenas aumentou nos anos 70, com o aparecimento e consagração de artistas como Dino Rocha – acordeonista

o qual Zezé di Camargo se declara fã -, Maciel Corrêa, Aurélio Miranda, Tostão e Guarany e tantos mais. E com o tempo e o aumento da migração

para a região, foram incorporados novos ritmos na música sul-mato-grossense, principalmente oriundos do Rio Grande do Sul.

 

E é esse cenário multicultural que o agora Mato Grosso do Sul rompe os anos 1990 e 2000. Agora, os chamados “bailões” ditam a moda da jovem

música regional.

 

E assim caminhou nossa música. Dos bailões para as violadas, a explosão do chamado sertanejo universitário a partir dos barzinhos que rodeiam

a universidade católica e, nos dias atuais, para a gigantesca diversidade musical do Estado do Pantanal, que abriga uma das maiores bandas

de jazz do País (a Urbem), com uma cena efervescente no blues a partir do legado dos Bêbados Habilidosos; do rock and roll pulsante com

bandas jovens sempre aparecendo enquanto bandas como O Bando do Velho Jack já são reverenciadas em todo o Brasil, até uma já quase tradicional

cena eletrônica – entre tantos estilos -, que faz de nosso Estado e, particularmente, de Campo Grande um verdadeiro caldeirão de músicas e

ritmos.

 

Por: Rogério Zanetti

Foto: Rodrigo Teixeira

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