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Discos para descobrir em casa – ‘Gal’, Gal Costa, 1992

por Administrador / domingo, 29 março 2020 / Publicado em Cultura

Capa do álbum 'Gal', de Gal Costa Milton Montenegro ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Gal, Gal Costa, 1992 ♪ Se a diretoria artística da gravadora BMG-Ariola tivesse respeitado a vontade de Gal Costa e aceitado gravar o impactante show Plural (1990) para perpetuá-lo na íntegra em duplo álbum ao vivo, como desejava a cantora, o álbum Gal não teria vindo ao mundo em abril de 1992. O disco – um dos títulos menos ouvidos e badalados da obra fonográfica da artista – foi a resposta de Gal para a insensibilidade dos diretores da BMG. Álbum gravado em estúdio sob a batuta do produtor Marco Mazzola, Gal rebobina seis músicas presentes no roteiro do show Plural, mas ausentes no repertório do disco de estúdio também intitulado Plural e lançado pela cantora em 1990. Uma dessas músicas é Cordas de aço (Cartola, 1976), samba-canção cantado por Gal (como na abertura do show) somente com o toque do violão de Marco Pereira, músico que substituiu Raphael Rabello (1962 – 1995) no decorrer da temporada de Plural. Se o impacto do primoroso repertório foi menor em Gal, é porque faltou no álbum a fina costura alinhavada no roteiro do show pelo diretor Waly Salomão (1943 – 2003). Tanto que o nome de Waly figura no créditos do álbum quando a ficha técnica informa a relação de músicas extraídas do roteiro do show. Contudo, para quem não viu o show, fica difícil detectar na audição do álbum Gal que a ideia de alocar o samba Coisas nossas (Noel Rosa, 1932) ao lado da canção-manifesto Tropicália (Caetano Veloso, 1968) foi de Waly, para citar somente um exemplo. Aliás, o compositor Noel Rosa (1910 – 1933) figura em dose dupla no repertório do álbum Gal. Além de Coisas nossas, Gal grava o samba-canção Feitio de oração (1933), obra-prima da parceria do Poeta da Vila com Vadico (1910 – 1962). O arranjo é embalado por cordas orquestradas pelo maestro Chiquinho de Moraes. Tais cordas também adornam a abordagem suntuosa, em clima de bossa, de Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958) com o pecado de por vezes ofuscar o toque do piano de Tom Jobim (1927 – 1994). A temperatura esquenta com a Rumba de Jacarepaguá (Haroldo Barbosa, 1947), lembrança do repertório de Emilinha Borba (1923 – 2005) que ecoa no álbum a Gal tropical do fim da década de 1970 e começo dos anos 1980. Com latinidade vivaz, a rumba era herança do show Plural – assim como Revolta Olodum (José Olissan e Domingos Sérgio, 1989), gravada no disco com a base rítmica do grupo Raízes do Pelô, sob direção de Mestre Jackson, com certa diluição da força desse pilar roots por conta do uso de teclados no arranjo. Entrecortado por vinhetas da Saudação aos povos africanos (Mãe Menininha do Gantois) e da cantiga Ingena (tema do candomblé de domínio público), o álbum Gal alterna levadas afro-brasileiras com new bossas contemporâneas como a que ambienta o registro da canção norte-americana The laziest gal in town (Cole Porter, 1940) com vocais do cantor Bobby McFerrin. Duas faixas embebidas na Bahia africana (ambas ausentes do show) sobressaem no disco. Pérola da parceria de Roberto Mendes com J. Velloso, Raiz tem sido mais revolvida e conhecida nos últimos anos na voz de Mariene de Castro, mas a gravação original é a feita por Gal com leveza e o toque do violão do compositor Roberto Mendes. “Voz da canção”, como diz verso da música, Gal mergulha com segurança nas águas de É d'Oxum (Gerônimo e Vevé Calazans, 1995), no ritmo do ijexá, em condução feita pelo grupo de afoxé Filhos de Gandhi. Emendadas no álbum, as encantadas gravações de É d'Oxum e Raiz valorizam disco que inclui, deslocada no contexto, parceria de Gilberto Gil com Celso Fonseca, Comunidá. Sim, há encantos na mina d'água de Gal, álbum que surtiu pouco efeito comercial e tampouco foi incensado pela crítica como seria o posterior O sorriso do gato de Alice (1993), trabalho de ruptura e ousadias estilísticas que rendeu um do shows mais sofisticados (e menos compreendidos) da cantora. De todo modo, o ideal é que tivesse sido gravado o álbum duplo com o registro integral do show Plural, como Gal queria, para o público entender a costura do repertório. Mas não foi assim que a banda tocou e a cantora gravou Gal com a voz cristalina e com certa contrariedade, sem irradiar (toda) a luz habitual, como denuncia a expressão tristonha artista na foto de Milton Montenegro exposta na capa do disco.

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