Último filme do ator, que morreu em agosto aos 43 anos, é maior atuação de sua carreira. Produção com Viola Davis estreia nesta sexta-feira (18). Baseado em uma peça de teatro "Ma Rainey's Black Bottom", "A voz suprema do blues" é um filme que respeita o espírito dos palcos e despeja todas as suas atenções nas atuações da grande dupla de protagonistas. Com isso, se torna a obra ideal para provar o talento de Chadwick Boseman, ator que morreu aos 43 anos em agosto por causa de um câncer no cólon. O último trabalho do americano, que ainda conta com Viola Davis ("How to get away with murder"), estreia nesta sexta-feira (18) na Netflix como a maior atuação de sua carreira e se torna uma bela – e mais do que digna – despedida. 'A voz suprema do blues' ganha trailer com Chadwick Boseman O tamanho de Boseman "A voz suprema do blues" se inspira na figura real – e de certa forma lendária – da cantora Ma Rainey, conhecida como a "mãe do blues", para narrar um conto sobre a exploração da cultura negra na mão de produtores brancos. Na Chicago de 1927, a protagonista interpretada por Davis trava um tenso duelo com executivos brancos e com um dos membros de sua banda formada por negros, durante uma sessão de gravação em estúdio. Como Levee, o trompetista e oponente mais franco de Ma, o astro que ganhou o mundo como o herói de "Pantera Negra" (2018) ganha espaço para mostrar toda a amplitude de sua atuação. Chadwick Boseman em cena de 'A voz suprema do blues' Divulgação Ambicioso e traumatizado, o personagem é o que recebe os melhores monólogos, e através do ator vai de 0 a 100 em questão de segundos sem parecer forçado. Com o filme, uma indicação póstuma ao Oscar não será apenas uma bela homenagem, mas, acima de tudo, muito justa – e tem grandes chances de dar ao americano sua primeira estatueta em um ano com atuações masculinas louváveis como as de Gary Oldman ("Mank") e Riz Ahmed ("O som do silêncio"). A mãe do blues Apesar da presença no título original e de ser a força motivadora da história, Ma Rainey tem tempo reduzido. A cantora poderia acabar como um personagem quase secundária, não fosse o poder monstruoso e sem desculpas impresso por Davis. Viola Davis, no centro, em cena de 'A voz suprema do blues' Divulgação A atriz, ganhadora de Oscar por "Um limite entre nós" (2016), mostra por que é um dos maiores nomes de sua geração e entrega uma mãe do blues à altura da lenda. Graças a ela, não é preciso suspensão de descrença para acreditar em uma mulher negra batendo de frente com homens brancos em uma época tão racista e machista. A Ma Rainey de Davis pode encarar um policial no meio da rua em um dia quente, e ninguém nem olha duas vezes. Chadwick Boseman, Viola Davis e Colman Domingo em cena de 'A voz suprema do blues' Divulgação Apoio à altura A dupla de protagonista conta com o suporte vital de um elenco de veteranos que não deixa o ritmo ou a tensão cair. Sem Colman Domingo ("Euphoria"), Glynn Turman ("Fargo") e Michael Potts ("The Wire"), as atuações de Boseman ou Davis poderiam soar fora de tom, mas o trio que interpreta o resto da banda de apoio responde à altura, desafiando o trompetista como iguais e aliviando o clima quando necessário. "A suprema voz do blues" não é uma daquelas produções gigantes e comerciais, mas se junta ao belo catálogo de lançamentos neste fim de um ano atípico para o cinema. Com uma trama contida, que serve de palco para grandes atuações, funciona como uma excelente despedida a um ator memorável – ao mesmo tempo em que celebra o talento de todo o seu elenco. Chadwick Boseman, Glynn Turman, Michael Potts e Colman Domingo em imagem de 'A voz suprema do blues' David Lee/Netflix