♪ RETROSPECTIVA 2020 – Mesmo com os palcos e estúdios fechados na maior parte do ano, o mundo da música se manteve agitado ao longo de 2020. Embora inevitavelmente impactado pela pandemia, que forçou o adiamento de muitos álbuns planejados para este ano turbulento, o mercado fonográfico brasileiro operou com intensa atividade. A cada semana, singles, EPs e álbuns foram despejados com incrível regularidade nas plataformas digitais. Alguns discos foram frutos direto do isolamento social e por ele se justificam – caso de Só, álbum com músicas inéditas apresentado por Adriana Calcanhotto em maio. Outros foram álbum idealizados e/ou gravados ainda em 2019, dentro do que atualmente se pode caracterizar como “antigo normal”. Dentre a farta safra fonográfica de 2020, merecem menções honrosas álbuns de Kiko Dinucci (Rastilho, lançado em janeiro), Sepultura (Quadra, apresentado em fevereiro) e Leila Pinheiro (Melhor que seja rara, disco de voz & piano que celebrou em outubro os 60 anos de vida e os 40 de carreira da artista). Contudo, o Blog do Mauro Ferreira optou por eleger quatro exuberantes álbuns que transcenderão o ano de 2020 pela força atemporal da deusa música, se impondo como pontos altos nas discografia dos respectivos artistas, e um tributo coletivo a grande compositor brasileiro que merecia ter obtido maior projeção em vida. Eis, em ordem cronológica, tendo por base a data de lançamento do disco, os cinco álbuns que sobressaem em 2021 na visão do colunista e crítico musical do G1: Capa do álbum 'Tio Gê – O samba paulista de Geraldo Filme' Divulgação / Selo Sesc ♪ Tio Gê – O samba paulista de Geraldo Filme Artistas: Alaíde Costa, Amanda Maria, Áurea Martins, Clarianas (Martinha Soares, Naloana Lima e Naruna Costa), Cleide Queiroz, Ellen Oléria, Eliana Pittman, Fabiana Cozza, Graça Braga, Graça Cunha, Lady Zu, Leci Brandão, Luciah Helena, Maria Alcina, Paula Lima, Rosa Marya Colin, Sandra de Sá, Teresa Cristina, Virgínia Rosa e Xênia França Edição: Selo Sesc – Bamba do samba de São Paulo, o compositor Geraldo de Souza Filme (25 de agosto de 1927 – 5 de janeiro de 1995) tem a grandiosa e militante obra – alicerçada no orgulho negro e na denúncia das injustiças sociais que oprimem pretos e pobres – devidamente dimensionada por 22 cantoras negras de diferentes gerações em tributo lançado em 28 de fevereiro. Capa do álbum 'Nana Tom Vinicius' Divulgação / Selo Sesc ♪ Nana Tom Vinicius Artista: Nana Caymmi Edição: Selo Sesc – Em grande forma vocal, Nana Caymmi se afinou com o tempo eterno das canções do amor demais de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) e Vinicius de Moraes (1913 – 1980) em álbum lançado em 10 de julho. A direção musical de Dori Caymmi – responsável por sublimes orquestrações de cordas – contribuíram para que o disco da cantora alcançasse dimensão atemporal. Capa do álbum 'Dos Santos', de Fabiana Cozza José de Holanda ♪ Dos Santos Artista: Fabiana Cozza Edição: Agô Produções – Usando o sobrenome no engenhoso título do álbum lançado em 4 de setembro, a cantora Fabiana Cozza dos Santos se elevou em disco no qual o canto é reza feita em louvor da ancestralidade negra. Nesse álbum que simbolizou inclusive um ato político em favor da liberdade no exercício da fé e dos credos, Cozza deu voz a músicas – em maioria inéditas e feitas sob encomenda para a cantora por grandes compositores – que exaltam divindades das religiões de matrizes afro-brasileiras e indígenas. Capa do álbum 'O líder em movimento', de BK Divulgação ♪ O líder em movimento Artista: BK Edição: Pirâmide Perdida Records – Em atividade desde 2015, o rapper BK se agigantou na efervescente cena do hip hop brasileiro com o discurso e os beats poderosos do terceiro álbum do artista carioca. Lançado em 8 de setembro, o álbum O líder em movimento comprovou o talento de Abebe Bikila Costa Santos, em mérito que deve ser repartido com o diretor musical do disco, JXNV$, nome artístico do DJ e produtor musical Jonas Profeta, habitual colaborador de BK e responsável pelos beats que potencializaram a força do discurso. Capa do álbum 'Do meu coração nu', de Zé Manoel Kelvin Andrade / Máquina 3 ♪ Do meu coração nu Artista: Zé Manoel Edição: Joia Moderna / Passa Disco (CD) – O pernambucano Zé Manoel já vinha se insinuando como grande compositor desde o álbum anterior de estúdio, Canção e silêncio (2015). Mas foi com Do meu coração nu, álbum produzido por Luisão Pereira e lançado em 26 de outubro, que a música do cantor, compositor e (excepcional) pianista alcançou a forma ideal. No disco, Zé Manoel se vale de inspirado repertório autoral para desenterrar tesouros ancestrais e, despido dos pré-conceitos brancos, e reconstruir a narrativa social do Brasil, oferecendo o posto de vista negro da história.