TVK Web Cultural

  • CULTURA
  • TURISMO
  • NEGÓCIOS
  • POLÍTICA
  • GALERIA
  • CONTATO

Discos para descobrir em casa – ‘Sandra!’, Sandra de Sá, 1990

por Administrador / terça-feira, 28 abril 2020 / Publicado em Cultura

Capa do álbum 'Sandra!', de Sandra de Sá Jejo Cornelsen ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Sandra!, Sandra de Sá, 1990 ♪ Como muitos intérpretes negros associados ao funk e ao soul brasileiro dos anos 1970 e 1980, Sandra de Sá sofreu preconceitos e pressões da indústria fonográfica para gravar repertório mais pop. Cantora carioca revelada em 1980 na plataforma nacional do festival MPB-80, produzido e transmitido pela TV Globo, Sandra conseguiu gravar três álbuns iniciais dentro do genuíno universo musical black do Brasil entre 1980 e 1983. De 1984 em diante, essa cantora de voz grave e calorosa abriu mais o leque estilístico do repertório. Sandra acertou quando gravou samba para a abertura da novela Partido alto (TV Globo, 1984) – a obra-prima Enredo do meu samba, parceria de Ivone Lara (1922 – 2018) com Jorge Aragão – e quando fez álbum mais pop e eclético, Sandra Sá (1985), um dos títulos mais obscuros da discografia da artista. Contratada pela gravadora RCA em 1985, a cantora viveu a fase de maior sucesso comercial com as edições dos álbuns Sandra Sá (1986) e Sandra de Sá (1988), ambos promovidos com aliciantes canções de (des)amor compostas em escala industrial para as FMs da década. O disco de 1986 soou inclusive como greatest hits tanta a quantidade de sucessos radiofônicos gerados pelo repertório de apelo mais popular. Contudo, a permanência garantida nas playlists da época pareceu ter provocado certa insatisfação na cantora pela falta de autonomia na escolha do repertório. Tanto que, em 1990, Sandra virou o disco e a mesa com a ajuda do jornalista e compositor Nelson Motta, produtor ideológico de um dos melhores e mais arejados álbuns de uma carreira irregular que contabiliza 40 anos em 2020. Lançado no segundo semestre de 1990, Sandra! rejeitou a engessada fórmula do sucesso da RCA (na época já denominada BMG) e, por isso mesmo, foi solenemente minimizado pela gravadora. O que reduziu o alcance deste disco dedicado por Sandra ao amigo Cazuza (1958 – 1990), então recentemente falecido em julho daquele ano. Com exceções do funk pop Arrocho (Mu Chebabi, Hubert e Robertinho Freitas) e de Blue eyes (Jorjão Barreto e Ronaldo Barcellos), balada apaixonada que soou similar a tantas gravadas antes pela cantora por interferências artísticas da BMG, o repertório do álbum Sandra! foi composto por iguarias, degustadas pela intérprete sob a direção musical de Guto Graça Mello. A começar por Slogan (1973), funk de autoria de Cassiano, fino estilista do soul nacional que gravara a música há 17 anos no segundo álbum solo. O charme da gravação de Sandra foi a junção da cantora com Djavan e Marina Lima em trio tão inusitado e harmonioso. Do mesmo álbum Apresentamos nosso Cassiano (1973), Sandra e Nelson Motta recuperaram o funk folião Cinzas, arranjado no melhor estilo Black Rio por Serginho Trombone (1949 – 2020) com direito a gritos de guerra dos bailes da pesada na letra. Na mesma linha black, mas com outra pegada, a regravação do funkaço Eu quero alguém (1989) escancarou a urgência verborrágica de Cazuza, letrista da música de Renato Rocketh, gravada com toque de rap. Como Nelson Motta revela no faixa-a-faixa escrito para o encarte do álbum (lançado em LP e em raríssimo CD de tiragem limitada), Eu quero alguém entrou em Sandra! quando o disco já estava em tese fechado com 11 faixas. Embora Cazuza já tivesse gravado Eu quero alguém no álbum Burguesia (1989), a cantora – a julgar pelo relato de Motta – somente prestou a devida atenção na música quando Rocketh foi contratado para tocar como baixista no show de lançamento deste disco de Sandra. Afropop de Guto Graça Mello e Ronaldo Barcellos, Mandela celebrou a então recente liberdade do ativista político africano Nelson Mandela (1918 – 2013), que saíra da prisão em fevereiro de 1990 para continuar a luta contra o apartheid, câncer extirpado da África em 1994. Com os olhos voltados para o apartheid social do Brasil, Sandra deu voz a Charles Anjo 45 (Jorge Ben Jor, 1969) com o baticum do grupo afro-baiano Olodum, erguendo ponte que ligou as comunidades cariocas ao Pelourinho, epicentro do orgulho negro de Salvador (BA). Duas versões em português de canções norte-americanas – ambas escritas por Nelson Motta – mantiveram a classe do álbum em tons mais serenos. Como um rio era versão de Cry me a river (Arthur Hamilton, 1953), balada jazzy e bluesy popularizada na gravação lançada em 1955 pela cantora norte-americana Julie London (1926 – 2000). Já Love will lead you back (1989) era balada então recente da compositora Diane Warren que virou Quem é você na aveludada gravação de Sandra, feita por sugestão do executivo Mariozinho Rocha para a trilha sonora da novela Mico preto (TV Globo, 1990) e, por isso mesmo, escolhida pela gravadora BMG para promover (sem real empenho) o álbum nas rádios e TVs. Dentro das fronteiras musicais dos Estados Unidos, a cantora gravou dois blues no disco, um em bom português e outro no original em inglês. Ninguém comigo agora era blues inédito de Roberto Frejat, roqueiro que sempre cultuou o gênero, like a rolling stone. Já Send to me the electric chair (George Brooks, 1927), era blues feminino, altivo, empoderado, que fora amplificado pela voz de Bessie Smith (1894 – 1937). Não bastasse a alta qualidade do repertório do álbum, encerrado com a balada Imensamente só (Reinaldo Arias e Nelson Motta), flash lindo e melancólico de fim de festa, Sandra de Sá estava no auge da forma vocal em 1990, elevando os tons quando necessário, mas dosando o canto com a sofisticação das grandes intérpretes. Sem intensas ações de marketing na promoção, o álbum Sandra! jamais obteve o reconhecimento popular a que fazia jus, o que motivou a volta de Sandra de Sá para o padrão pop da gravadora com o álbum Lucky! (1992). Mas ficou na história este disco de 1990 que merece ser descoberto. Por tanta beleza esquecida no baú, o álbum Sandra! ainda justifica o ponto de exclamação do título e causa espanto após 30 anos.

  • Facebook
  • Twitter
  • LinkedIn
  • Tumblr

Assuntos Relacionados

Fernanda Abreu lança CD e DVD com gravação ao vivo, sem público, do show ‘Amor geral’
Drik Barbosa abre série de singles com música gravada com Rashid
Melim lança em maio álbum gravado em Los Angeles com colaborações de Projota, Rael e Saulo Fernandes

Destaques

  • Câmara de Campo Grande aprova projetos sobre cultura, meio ambiente e inclusão de estudantes com TEA

    Na sessão ordinária desta terça-feira, 13 de ma...
  • Semana Nacional de Museus 2025: Programação especial em Campo Grande homenageia Lídia Baís

    A 23ª Semana Nacional de Museus acontece entre ...
  • Porto Geral de Corumbá recebe Festival América do Sul 2025 com atrações nacionais e celebração da cultura regional

    Entre os dias 15 e 18 de maio, o histórico Port...
  • Campão Cultural 2024 traz programação intensa e gratuita até 6 de abril

    O Campão Cultural está de volta, levando uma pr...
  • Casa de Cultura de Campo Grande oferece cursos gratuitos em música e dança

    A Casa de Cultura de Campo Grande está com insc...
TOPO