TVK Web Cultural

  • CULTURA
  • TURISMO
  • NEGÓCIOS
  • POLÍTICA
  • GALERIA
  • CONTATO

Discos para descobrir em casa – ‘Madrugada’, Mart’nália, 2008

por Administrador / quarta-feira, 20 maio 2020 / Publicado em Cultura

Capa do álbum 'Madrugada', de Mart'nália Eny Miranda ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Madrugada, Mart'nália, 2008 ♪ A trajetória de Mart'nália é exemplo de que, no universo pop, muito vezes o talento precisa ser aliado a uma estratégia de marketing para que um artista alcance a devida projeção. Nascida em 1965, a filha de Martinho da Vila tentou se lançar como cantora em 1987 com a edição de um primeiro álbum, Mart'nália, equivocado por diluir a descontração que se mostraria determinante para a expansão do canto leve dessa sambista de alma soul. Escaldada com o erro da estreia fonográfica, Mart'nália expôs a verdadeira face no segundo álbum, Minha cara, editado em 1995 com azeitado mix de samba, soul e funk que temperou repertório que apresentou a identidade da artista carioca, inclusive como compositora. Só que faltou na receita de 1995 a aura hype criada sete anos mais tarde em torno da edição do álbum posterior de Mart'nália, Pé do meu samba, lançado em 2002 com aval e samba inédito de Caetano Veloso. Com Pé do meu samba, Mart'nália conseguiu, enfim, ser vista e ouvida como cantora – àquela altura já com 37 anos, mas com o ar jovial que a artista ainda conserva neste ano de 2020, já a caminho dos 55 anos, a serem festejados em setembro. Álbum gravado com curadoria de Maria Bethânia, Menino do Rio (2005) ampliou a popularidade de Mart'nália três anos depois. Nesse disco, por influência de Bethânia, Mart'nália manteve um pé no samba do Rio de Janeiro e pôs o outro pé no samba da Bahia. Sintomaticamente, a faixa que garantiu o êxito do disco foi samba bem carioca da mineira Ana Carolina, Cabide. O sucesso do disco Menino do Rio foi o passaporte para a gravação de Madrugada (2008), álbum mais fiel à cara de Mart'nália. Gravado com produção musical dividida entre Arthur Maia (1962 – 2018) – baixista de groove black Rio que foi espécie de gêmeo musical da cantora e compositora – e Celso Fonseca (produtor e arranjador do disco definidor Pé do meu samba), o álbum Madrugada resultou carioquíssimo, leve, boêmio, desencanado, assumido, feliz, descontraído. Enfim, Madrugada foi disco com a cara e a alma de Mart'nália, expostas em sambas como Tava por aí – composto pela artista com Mombaça, parceiro desde os anos 1990 – e Deu ruim (Arthur Maia, Ronaldo Bastos e Mart'nália). Nessa linha espontânea, o samba Ela é a minha cara (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) – delícia suprema da parcela inédita do repertório – exemplificou com maestria a habilidade de Mart'nália de cair no samba com vibe pop. O apego de Arthur Maia à black music saltou aos ouvidos logo na balada de alma soul que abria o disco, Alívio (1992), parceria de Maia com Djavan. Intérprete original de Alívio, Djavan produziria no futuro o disco mais injustiçado de Mart'nália, Não tente compreender (2012), álbum em que a cantora se desviou da cadência do samba. A cadência que pautou Mart'nália em Madrugada na gravação de Não encontro quem me queira (Thiago Mocotó), um dos muitos sambas desse álbum editado em 2008 pela gravadora Biscoito Fino. A ginga pop de Mart'nália sempre foi tão singular que a cantora conseguiu regravar os sambas Batendo a porta (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1974) e Sai dessa (Nathan Marques e Ana Terra, 1980) com tamanha personalidade que driblou comparações como os registros originais de João Nogueira (1941 – 2000) e Elis Regina (1945 – 1982), dois bambas nas divisões. Explicitado na discografia de Mart'nália, o elo da artista com a África foi reforçado no álbum Madrugada com as gravações do sincrético samba Fé (Jorge Aragão e Evandro Lima) e, sobretudo, de Angola (Arthur Maia, Mart'nália, Maré e Paulo Flores). Também havia África na sensualidade baiana e no baticum que embalaram a sedutora regravação de Alegre menina (Dori Caymmi com versos de Jorge Amado, 1975), samba lançado na voz de Djavan em gravação feita para a trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975). Cantora que nunca primou pela rigorosa técnica vocal, Mart'nália afinou a belíssima canção Sem mais adeus (Paulinho Moska, 1999) em modo particular e sublinhou a identidade da nobre dinastia na lembrança do acalanto Tom maior (Martinho da Vila, 1969), tema do primeiro álbum do pai. No arremate do álbum Madrugada, a cantora acionou o “inglês de Vila Isabel” – assim caracterizado jocosamente pela própria Mart'nália – e o misturou com português na apropriação espirituosa de Don't worry, be happy (1988), composição do norte-americano Bobby McFerrin, apresentada na voz prodigiosa do autor em gravação lançada há então 20 anos. No canto da artista e na cadência do samba, Don't worry, be happy foi a mais perfeita tradução da felicidade entranhada em cada sulco do álbum Madrugada, a verdadeira cara de Mart'nália Mendonça Ferreira.

  • Facebook
  • Twitter
  • LinkedIn
  • Tumblr

Assuntos Relacionados

Lives deste domingo (19): Roberto Carlos, Ferrugem, Henrique & Juliano e mais shows para ver de casa
No Dia dos Pais, famosos fazem homenagens nas redes sociais
Ministro da Cidadania autoriza início de obras em sítio histórico de São Miguel das Missões (RS)

Destaques

  • Câmara de Campo Grande aprova projetos sobre cultura, meio ambiente e inclusão de estudantes com TEA

    Na sessão ordinária desta terça-feira, 13 de ma...
  • Semana Nacional de Museus 2025: Programação especial em Campo Grande homenageia Lídia Baís

    A 23ª Semana Nacional de Museus acontece entre ...
  • Porto Geral de Corumbá recebe Festival América do Sul 2025 com atrações nacionais e celebração da cultura regional

    Entre os dias 15 e 18 de maio, o histórico Port...
  • Campão Cultural 2024 traz programação intensa e gratuita até 6 de abril

    O Campão Cultural está de volta, levando uma pr...
  • Casa de Cultura de Campo Grande oferece cursos gratuitos em música e dança

    A Casa de Cultura de Campo Grande está com insc...
TOPO