Zeca Pagodinho avaliza disco do cantor português Nuno Bastos em tributo ao compositor Ratinho
Artista carioca interpreta um dos dois sambas inéditos que valorizam o álbum 'Coração em desalinho'. ♪ Morto há dez anos, o compositor Alcino Correia Ferreira (5 de março de 1948 – 10 de outubro de 2010) – imortalizado no universo do samba como Ratinho, apelido tornado nome artístico – foi criado no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro (RJ) desde os quatro anos. A vivência carioca fez o coração de Ratinho se alinhar na cadência do samba, a ponto de o compositor ter virado parceiro do bamba carioca Monarco. Contudo, a origem de Ratinho – dado desconhecido até por alguns sambistas – é portuguesa. Sim, Alcino Correia nasceu em Portugal, mais precisamente em Armamar, Distrito de Viseu. Esse dado biográfico conecta Ratinho a Nuno Bastos – cantor e músico também português, nascido em Estarreja, no Distrito de Aveiro – e, de certa forma, legitima o disco em que Bastos aborda a obra do compositor. Lançado no Brasil na sexta-feira, 28 de agosto, o álbum Coração em desalinho – Os sambas de Ratinho. Produzido por Alfredo Galhões e Ricardo Moreira, com 12 sambas gravados com arranjos de Galhões, o disco traz a participação avalizadora de Zeca Pagodinho no registro de Amigo, conselho não é sermão, título inédito da parceria de Ratinho com o próprio Pagodinho. Nunca gravada em disco, a música foi encontrada em esquecida fita cassete, presumivelmente gravada na época em que Alfredo Galhões e Ratinho batiam ponto no Gato de Botas, bar do bairro carioca de Vila Isabel. Outra parceira inédita de Pagodinho e Ratinho, Antes que eu me acostume, também ganha o primeiro registro fonográfico no disco de Nuno Bastos, tocador de cavaquinho. Capa do álbum 'Coração em desalinho – Os sambas de Ratinho', de Nuno Bastos Divulgação Zeca Pagodinho – cabe lembrar – é o principal intérprete da obra de Ratinho, tendo lançado sambas como Coração em desalinho (1986) e Vai vadiar (1998), ambos feitos pelo compositor em parceria com Monarco. Coração em desalinho e Vai vadiar figuram no repertório do disco de Nuno Bastos ao lado de outros sambas de Ratinho e Monarco, como Nunca vi você tão triste (2000) e Vou procurar esquecer (1996), também apresentados na voz de Zeca Pagodinho. Nuno Bastos também dá voz a uma rara parceria de Ratinho com os compositores cariocas Alcemir Gomes Bastos (1950 – 2013) – conhecido como Bandeira Brasil – e Nelson Cavaquinho (1911 – 1986), Amante da verdade, samba gravado por Bandeira no álbum A cor do Brasil (2003). Cantora que viveu durante três anos na cidade do Rio de Janeiro (RJ), frequentando rodas de samba, a fadista Raquel Tavares é a convidada de Loucuras de uma paixão (Ratinho e Mauro Diniz, 1996). Os sambas Parabéns para você (Ratinho, Mauro Diniz e Sereno, 1985), Termina aqui (Ratinho, Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, 1987), Meiguice descarada (Ratinho e David Correia, 1988) – samba de toque afro-brasileiro lançado na voz de Almir Guineto (1946 – 2017) no álbum Olhos da vida (1988) – e Lua de Ogum (Ratinho e Zeca Pagodinho, 1991) também figuram no disco de Nuno Bastos, impulsionando a batida luso-carioca de Coração em desalinho.
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Navio de resgate de migrantes financiado pelo artista Banksy está à deriva no Mediterrâneo
Barco está no mar há dias; tripulação diz que autoridades ignoram pedidos de ajuda. Pelo menos uma pessoa morreu, e outras 33 estão em um bote salva-vidas, pois não há mais condições de subir a bordo. Foto deste sábado (29) mostra o navio 'Louise Michel', financiado pelo artista Banksy, com quase 200 pessoas a bordo no Mar Mediterrâneo. Twitter @MVLouiseMichel via AFP Um navio de resgate de migrantes financiado pelo artista de rua britânico Banksy está há dias à deriva no Mar Mediterrâneo, informou a própria tripulação do navio, chamado "Louise Michel", no Twitter. Neste sábado (29), 49 pessoas foram resgatadas pela Guarda Costeira italiana, mas outras dezenas de migrantes e 10 tripulantes continuaram a bordo. (ATUALIZAÇÃO: Inicialmente, a informação era de que havia 219 migrantes sob responsabilidade do "Louise Michel", dos quais 49 foram resgatados pelas autoridades italianas. Depois, cerca de 150 foram transferidos a outra embarcação, da ONG SeaWatch, ainda no sábado – número que, segundo a tripulação do "Louise Michel", era o restante dos passageiros resgatados). Segundo a tripulação, o resgate foi feito pela Guarda Costeira Italiana por volta das 12h (horário de Brasília), que também resgatou o corpo de uma pessoa que havia morrido em um bote salva-vidas. Além dos migrantes que já estavam no "Louise Michel", outras 33 pessoas aguardavam resgate no bote, porque não havia mais condições de subir a bordo. Foto, retirada de um vídeo neste sábado (29), mostra o navio de resgate 'Louise Michel', do artista de rua Banksy, no Mar Mediterrâneo. TWITTER ACCOUNT MVLOUISEMICHEL / AFP Segundo o jornal britânico "The Guardian", há água entrando no bote, que está na zona de resgate de Malta. Vários passageiros estão feridos. Apesar de reconhecer o resgate, a tripulação criticou a falta de ajuda europeia. Eles afirmam ter feito várias tentativas de contato com autoridades de resgate marítimo em Malta e e na ilha italiana de Lampedusa, além de uma na Alemanha. "A Guarda Costeira italiana resgatou 49 dos sobreviventes mais vulneráveis! Isso é ótimo – e nos deixa com a maioria ainda esperando", disseram. Outro navio, da organização não governamental SeaWatch, que trabalha resgatando migantes de alto mar, foi prestar ajuda mas a própria embarcação da ONG tem 201 migrantes a bordo, informou o "Louise Michel". No ano passado, um dos navios do SeaWatch ficou à deriva na costa da Itália por mais de duas semanas com dezenas de refugiados líbios a bordo, até que a capitã decidiu atracar o navio à força em solo italiano. Resgates Foto, publicada na sexta-feira (28) pela tripulação do navio 'Louise Michel' no Twitter, mostra refugiados resgatados do mar a bordo da embarcação. TWITTER ACCOUNT MVLOUISEMICHEL / AFP Na quinta-feira (27), os tripulantes anunciaram, no Twitter, o resgate de 89 migrantes da Líbia que estavam no Mar Mediterrâneo. No dia seguinte, eles resgataram outras 130 pessoas, incluindo mulheres e crianças. Incluindo os tripulantes, a quantidade de pessoas no navio chegou a 229 pessoas. A capacidade máxima é de 120. Antes do resgate pela Guarda Costeira Italiana, neste sábado, a tripulação escreveu no Twitter que não conseguia mais mover o navio, por causa da superlotação e do bote junto dele. Os tripulantes afirmaram que a Europa ignorou os pedidos de ajuda. "As autoridades responsáveis continuam sem dar resposta", disseram, na madrugada de sábado. Ainda antes do resgate, os tripulantes narraram as dificuldades a bordo. "A tripulação conseguiu manter #LouiseMichel estável por quase 12h. Nossos novos amigos nos disseram que já perderam 3 amigos em sua jornada. Incluindo o cadáver em nosso único bote salva-vidas, isso faz 4 vidas desaparecerem por causa da Fortaleza Europa… E ainda estamos esperando", disseram. A primeira missão de resgate do navio foi em meados de agosto.
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Migrantes em navio financiado pelo artista Banksy são transferidos a outra embarcação
Com a chegada de ao menos 150 pessoas, navio Sea Watch 4 tem agora por volta de 350 passageiros. Tripulante acompanha navio Louise Michel, em foto divulgada neste sábado (29) Reprodução/Twitter Responsáveis pelo navio "Louise Michel", financiado pelo artista de rua britânico Banksy, informaram na noite deste sábado (29) que cerca de 150 migrantes na embarcação foram transferidos a outro navio, o Sea Watch 4, no Mediterrâneo. Segundo a tripulação, depois da transferência ao navio da SeaWatch, não restaram mais migrantes a bordo da embarcação de Banksy. Os ativistas pedem que esses solicitantes de refúgio sejam acolhidos em algum país europeu. (ATUALIZAÇÃO: esta reportagem foi atualizada às 08h10 de domingo (30) com o número de pessoas resgatadas do barco de Banksy. Foram cerca de 150, e não 200, segundo as informações publicadas pela tripulação do navio). Mais cedo, a Guarda Costeira da Itália havia resgatado 49 pessoas em situação frágil. Segundo a tripulação do "Louise Michel", a informação inicial era de que havia 219 migrantes resgatados pelo navio, incluindo os que estavam a bordo e os 33 que aguardavam resgate em um bote. Não está claro qual era a situação exata do navio e do bote no período entre o resgate pela guarda italiana e a transferência para o Sea Watch 4. Com a transferência, o Sea Watch 4 tem agora 350 pessoas a bordo, aproximadamente, segundo os tripulantes do "Louise Michel". "Mas não acabou: queremos um lugar seguro a todos os sobreviventes, agora", disseram. Falta de ajuda Foto deste sábado (29) mostra o navio 'Louise Michel', financiado pelo artista Banksy, com quase 200 pessoas a bordo no Mar Mediterrâneo. Twitter @MVLouiseMichel via AFP Segundo o jornal britânico "The Guardian", havia água entrando no outro bote, que estava na zona de resgate de Malta. Vários passageiros estão feridos. Uma pessoa morreu. Apesar de reconhecer o resgate, a tripulação criticou a falta de ajuda europeia. Eles afirmam ter feito várias tentativas de contato com autoridades de resgate marítimo em Malta e e na ilha italiana de Lampedusa, além de uma na Alemanha. Foto, retirada de um vídeo neste sábado (29), mostra o navio de resgate 'Louise Michel', do artista de rua Banksy, no Mar Mediterrâneo. TWITTER ACCOUNT MVLOUISEMICHEL / AFP "A Guarda Costeira italiana resgatou 49 dos sobreviventes mais vulneráveis! Isso é ótimo – e nos deixa com a maioria ainda esperando", disseram. No ano passado, um dos navios do SeaWatch ficou à deriva na costa da Itália por mais de duas semanas com dezenas de refugiados líbios a bordo, até que a capitã decidiu atracar o navio à força em solo italiano. Resgates Foto, publicada na sexta-feira (28) pela tripulação do navio 'Louise Michel' no Twitter, mostra refugiados resgatados do mar a bordo da embarcação. TWITTER ACCOUNT MVLOUISEMICHEL / AFP Na quinta-feira (27), os tripulantes anunciaram, no Twitter, o resgate de 89 migrantes da Líbia que estavam no Mar Mediterrâneo. No dia seguinte, eles resgataram outras 130 pessoas, incluindo mulheres e crianças. Incluindo os tripulantes, a quantidade de pessoas no navio chegou a 229 pessoas. A capacidade máxima é de 120. Antes do resgate pela Guarda Costeira Italiana, neste sábado, a tripulação escreveu no Twitter que não conseguia mais mover o navio, por causa da superlotação e do bote junto dele. Os tripulantes afirmaram que a Europa ignorou os pedidos de ajuda. "As autoridades responsáveis continuam sem dar resposta", disseram, na madrugada de sábado. Ainda antes do resgate, os tripulantes narraram as dificuldades a bordo. "A tripulação conseguiu manter #LouiseMichel estável por quase 12h. Nossos novos amigos nos disseram que já perderam 3 amigos em sua jornada. Incluindo o cadáver em nosso único bote salva-vidas, isso faz 4 vidas desaparecerem por causa da Fortaleza Europa… E ainda estamos esperando", disseram. A primeira missão de resgate do navio foi em meados de agosto.
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Nova York comemora reabertura do Metropolitan Museum
Um dos principais museus dos EUA reabriu após meses fechado por causa da pandemia de novo coronavírus. Com filas e máscaras, visitantes retornam ao Metropolitan Museum em Nova York neste sábado (29) Kena Betancur/AFP Visitantes com os braços levantados em sinal comemoração, aplausos e filas ao pé dos mostradores: o Metropolitan Museum reabriu as portas ao público neste sábado (29) em um clima festivo, um indício para muitos de que a maior metrópole dos Estados Unidos volta à vida depois de quase seis meses andando em um ritmo desconhecido por causa da pandemia. "Sou um grande fã dos museus e estou absolutamente emocionada por estar aqui. É um momento realmente importante para a cidade, tudo está começando a voltar à vida", disse à AFP a nova-iorquina Michelle Scully, de 39 anos, uma das primeiras a voltar ao imponente edifício da Quinta Avenida, a um lado do Central Park. "Nova York é a melhor cidade do mundo e estamos aqui, não vamos embora: será ainda melhor do que antes", acrescentou. Assim como centenas de pessoas, esta mulher de origem canadense fez fila desde as 10h locais (11h de Brasília) e cumpriu, sorridente, com as novas regras sanitárias — uso de máscaras, checagem da temperatura e reserva — para poder ver o Templo de Dendur e os tesouros, do antigo Egito à arte contemporânea. Primeiro passo 'Juntos', diz cartaz colocado em frente ao Metropolitan Museum em Nova York neste sábado (29) Kena Betancur/AFP A alegria era perceptível entre os presentes no Met, um dos museus mais visitados do mundo. Chris Martinetti, de 34 anos, e sua esposa, que vieram do bairro do Queens, voltaram a "seu lugar favorito", o museu onde tiveram o primeiro encontro há mais de cinco anos. Tracy-Ann Samuel veio da cidade vizinha Connecticut com as filhas de quatro e nove anos, ansiosa por estar mais uma vez "rodeada de belas obras de arte", que considera uma "terapia para a alma". A reabertura "significa que há uma aparência de normalidade", disse. E acrescentou: "o Met faz parte da história de Nova York durante 150 anos (…) É um primeiro passo importante". Visitantes tiram fotos no terraço do Metropolitan Museum em Nova York neste sábado (29) Kena Betancur/AFP Durante semanas, o Met viu seus grandes similares europeus, como o Louvre, reabrirem suas portas. Mas as autoridades de Nova York, que registrou um número recorde de mais de 23.600 mortes, especialmente na primavera no hemisfério norte, agiram de forma muito cautelosa para conter a pandemia. A reabertura dos museus foi permitida a partir desta semana. O MoMA reabriu na quinta, limitado a 25% de sua capacidade. Durante este tempo, os funcionários do Met aproveitaram para aprender com seus colegas e estão tranquilos ante a possibilidade de uma "segunda onda" de Covid-19. "Ouvimos o que está acontecendo em outros lugares e sabemos que (reabrir) de forma segura não é tão difícil", disse à AFP Daniel Weiss, presidente do museu. Mais inclusivo Visitante observa obras expostas no Metropolitan Museum de Nova York durante reabertura neste sábado (29) Kena Betancur/AFP Também houve tempo para adaptações ao movimento histórico contra as desigualdades sociais que agita os Estados Unidos desde a morte do afro-americano George Floyd, no fim de maio. O museu apresenta uma nova exposição dedicada ao artista Jacob Lawrence (1917-2000), refletindo um museu "mais inclusivo" com a comunidade negra, segundo Weiss. O déficit desta instituição, que depende mais do que os museus europeus da bilheteria e que comemoraria seu 150º aniversário com um grande evento em abril, é, no entanto, "muito substancial": uns 150 milhões de dólares em perdas em 18 meses, disse Weiss. Após o desaparecimento dos turistas, o museu teve que reduzir suas despesas e cortar cerca de 20% de seus 2.000 funcionários. E agora terá que lidar por meses com as limitações de capacidade: neste sábado eram aguardadas de 7.000 a 10.000 pessoas contra 30.000 a 40.000 em um sábado "normal" de agosto. Mas o Met poderá sobreviver, afirmou Weiss, por ser "uma grande instituição". "Estou muito mais preocupado com as pequenas", disse. Embora alguns vejam o futuro sombrio, vendo o êxodo de milhares de nova-iorquinos endinheirados ou a queda de distritos comerciais como indícios de que Nova York estaria "acabada", Weiss está convencido, como muitos, de que a cidade ressurgirá. Dos atentados de 11 de setembro de 2001 ao furacão Sandy em 2012 e à crise financeira de 2008, "Nova York passou por muitas, muitas coisas", disse. "Acho que todos querem ver os turistas voltarem (…) Quando isso ocorrer, estaremos prontos", assegurou. Bares e restaurantes em Nova York atendem nas calçadas para não perder os clientes Initial plugin text
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Músicas para descobrir em casa – ‘À flor da pele’ (Maurício Tapajós, Clara Nunes e Paulo César Pinheiro, 1977)
Capa de 'As forças da natureza', álbum de Clara Nunes Adolfo Krauniski ♪ MÚSICAS PARA DESCOBRIR EM CASA – À flor da pele (Maurício Tapajós, Clara Nunes e Paulo César Pinheiro, 1977) com Clara Nunes ♪ Talvez somente os seguidores mais atentos da obra de Clara Nunes (12 de agosto de 1942 – 2 de abril de 1983) tenham notado que, nos créditos da música À flor da pele, o nome da cantora mineira apareceu pela primeira – e única – vez como compositora. Sim, a composição À flor da pele – apresentada no décimo álbum solo da artista, As forças da natureza, lançado em 1977 pela gravadora Odeon – foi feita com a colaboração de Clara Nunes. A artista não participou da construção da letra – escrita inteiramente por Paulo César Pinheiro, marido e então já produtor musical dos discos da cantora – mas da criação de melodia, feita em parceria com Maurício Tapajós (27 de dezembro de 1943 – 21 de abril de 1995), compositor carioca que, desde 1971, já vinha fazendo música com letras de Paulo César Pinheiro. Qualquer que tenha sido a efetiva colaboração de Clara na criação da melodia, À flor da pele resultou em mais um exemplo da sintonia de melodista e letrista na arte da composição. Arranjada pelo maestro Ivan Paulo, a gravação original se insinuou como tango, por conta da introdução feita com o toque do bandoneon do músico gaúcho Ubirajara Silva, pai do cantor e compositor Taiguara (1945 – 1996). Contudo, a música logo evoluiu para a levada de samba-canção. Na construção de letra que evocou o universo feminino do cancioneiro de Chico Buarque, Paulo César Pinheiro rimou palavras terminadas em “or” e “ina” para narrar a sina fictícia de mulher usada e abusada por homem – mulher cúmplice do ferino desejo sexual do macho, mas sobretudo vítima de relacionamento tóxico ainda recorrente na sociedade patriarcal. Cantora de voz luminosa, Clara Nunes soube entrar no clima sombrio de À flor da pele sem fazer melodrama em interpretação perfeita. Embora tenha gerado clipe exibido pelo programa Fantástico (TV Globo) em 1977, a gravação de À flor da pele foi eclipsada na época por outras músicas mais populares do repertório de As forças da natureza, álbum repleto de sucessos como Partido da Clementina de Jesus (Candeia, 1977), Coisa da antiga (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1977), Coração leviano (Paulinho da Viola, 1977) e o samba-título As forças da natureza (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1977). Mesmo sem ter se tornado um dos maiores sucessos da cantora, À flor da pele foi uma das 14 músicas selecionadas, 18 anos depois, pelo produtor musical José Milton para serem recicladas no álbum póstumo Clara Nunes com vida (1995), projeto de duetos virtuais da cantora, produzidos através das tecnologias de estúdio. Nesse disco, À flor da pele ressurgiu em dueto de Clara com a cantora Angela Maria (1929 – 2018), voz da era do rádio. Quatro anos depois deste disco de encontros virtuais, Alcione regravou À flor da pele no álbum Claridade (1999), tributo da Marrom à colega mineira de quem foi amiga e admiradora. Mais tarde, a mesma Alcione reviveu novamente a composição no disco Uma nova paixão – Ao vivo (2006). Em 2013, À flor da pele reapareceu na voz da cantora potiguar Valéria Oliveira em outro tributo fonográfico à Guerreira, Em águas claras – Homenagem a Clara Nunes. E, mesmo que nem sempre seja lembrada com a frequência de outras composições associadas à mineira de forma imediata, a música À flor da pele cumpriu a sina de mostrar que, até mesmo na arte da composição, Clara Nunes foi iluminada. ♪ Ficha técnica da Música para descobrir em casa 7 : Título: À flor da pele Compositores: Maurício Tapajós, Clara Nunes e Paulo César Pinheiro Intérprete original: Clara Nunes Álbum da gravação original: As forças da natureza Ano da gravação original: 1977 Regravações que merecem menções: as de Alcione nos álbuns Claridade (1999) e Uma nova paixão – Ao vivo (2006). ♪ Eis a letra de À flor da pele : “Não sei quando ou como começou Só sei que me alucina Me perdi do fio condutor Do amor que me domina E você me usa a seu favor Igual mulher de esquina E me leva embora, traidor, Assim que se termina Mas se você quer eu logo vou Sabendo da rotina Despencamos sobre o cobertor Devasso e libertina Me diz coisas feias e de amor À luz da lamparina Me devora o corpo, sedutor, Igual fera assassina E você me arrasta nessa dor Que aos poucos me arruína Ando já com meus nervos à flor Da pele já mofina Tenho olheiras fundas e palor De álcool e nicotina Minhas noites durmo com pavor À base de aspirina Sei que estou secando ao seu dispor Sei que estou ficando sem valor Sei que você vai sumir e eu vou, Vou cumprir minha sina Ah, ah, Vou cumprir minha sina Vou cumprir minha sina”
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Lives de hoje: Maria Cecília e Rodolfo, Marcelo Jeneci, MC Koringa e mais shows para ver em casa
Veja horários de lives deste domingo (30). Maria Cecília e Rodolfo, Marcelo Jeneci e MC Koringa fazem lives neste domingo (30) Divulgação Maria Cecília e Rodolfo, Marcelo Jeneci e MC Koringa fazem lives neste domingo (30). Veja a lista completa com horários das lives abaixo. O G1 já fez um intensivão no começo da onda de lives, constatou o renascimento do pagode nas transmissões on-line, mostrou também a queda de audiência do fenômeno e a polêmica na cobrança de direito autoral nas lives. Veja horários e links das lives: MC Koringa – 14h – Link Maria Cecília e Rodolfo – 15h – Link Tom Zé – 17h – Link Marcelo Jeneci e Braulio Bessa (Sesc Ceará) – 18h – Link Jussara Silveira e Luiz Brasil (Em Casa com Sesc) – 19h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Semana Pop mostra os momentos em lives que saíram do controle
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‘Breve miragem do sol’, premiado no Festival do Rio, estreia no Globoplay neste domingo
Drama social de Eryk Rocha com Fabrício Boliveira e Barbara Colen é primeiro filme de ficção exclusivo da plataforma. Fabricio Boliveira e Barbara Colen em cena de 'Breve miragem do sol' Divulgação/Miguel Vassy "Breve miragem do sol", do diretor Eryk Rocha, estreia neste domingo (30) no Globoplay como o primeiro filme de ficção exclusivo da plataforma. Vencedor de três prêmios no Festival do Rio 2019, o longa é uma coprodução entre Brasil, França e Argentina. Filmes nacionais estreiam em drive-in para cumprir regra, mas lucro vem do streaming Fabrício Boliveira ("Faroeste caboclo") e Barbara Colen ("Bacurau") vivem os protagonistas: Paulo, desempregado e recém divorciado, que começa a dirigir táxi no Rio de Janeiro, e Karina, enfermeira em um hospital público, por quem Paulo se apaixona. Assista ao trailer abaixo. Trailer de 'Breve miragem do sol' Segundo Rocha, o longa nasceu de sua admiração pelas ruas do Rio. “Sempre me interessei pelos trabalhadores e habitantes da noite dessa cidade. A partir disso, enxerguei a figura do taxista como um grande narrador do nosso tempo, pois ele vive à flor da pele, é atravessado pelas tensões sociais das ruas que refletem certos estados do país”, diz em entrevista ao G1. O filme é um drama social sobre o Brasil, e o protagonista é também um pouco de cada brasileiro, diz Rocha. “Um corpo exausto que trabalha para sobreviver, que resiste e luta em um país desmoronando como o nosso, esse corpo está vivo, esse corpo ama, deseja, canta, dança, sonha … Esse corpo é a força da vida, do afeto e do fogo.” O diretor conta que levou meses para escolher todo o elenco do longa e que os atores compuseram seus personagens depois de um laboratório nas ruas. Pelo papel, Boliveira foi escolhido como melhor ator no Festival do Rio no ano passado. “Fizemos um trabalho de campo muito intenso, uma preparação muito documental, o Fabrício mergulhou nas noites da cidade dirigindo um táxi e, durante meses, se encontrava com um grupo de taxistas, trocava experiências, mensagens de whatsapp”, narra Rocha. Fabrício Boliveira levou melhor ator por 'Breve miragem de sol'. Carlos Brito Colen construiu sua personagem a partir de um estágio com enfermeiras em um hospital público na periferia do Rio. O filme estreou no Festival de Londres em outubro de 2019 e depois passou por Suécia, Portugal, Bahia, São Paulo e Rio. Segundo o diretor, a pandemia “interrompeu” a trajetória traçada pela equipe e então surgiu a oportunidade de lançamento no Globoplay. "Estamos muito felizes porque é uma chance do filme alcançar um público mais amplo e, quem sabe, chegar aos seus próprios protagonistas: os taxistas, ubers, enfermeiras, enfim, a trabalhadores do Brasil todo. Pessoas que muitas vezes, por falta de tempo ou de recursos, infelizmente não frequentam salas de cinema." Acha caro ir ao cinema? Entenda como se calcula o valor dos ingressos e a divisão da bilheteria Esta é a primeira vez que um trabalho de Eryk Rocha ("Transeunte", "Campo de Jogo") estreia em uma plataforma de streaming. “Os meus filmes anteriores sempre estrearam em circuito de salas de cinema, então para mim é uma experiência nova e estou bem entusiasmado”, diz.
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G1 Ouviu #104: Katy Perry, review de ‘Smile’ e análise da carreira
Cantora americana expõe lado atormentado e choroso no 6º álbum dela. Podcast comenta discografia com ajuda das letras, algoritmos e trechos das novas músicas e das outras fases. Você pode ouvir o G1 ouviu no G1, no Spotify, no Castbox, no Google Podcasts ou no Apple Podcasts. Assine ou siga o G1 Ouviu para ser avisado sempre que tiver novo episódio no ar. O que são podcasts? Um podcast é como se fosse um programa de rádio, mas não é: em vez de ter uma hora certa para ir ao ar, pode ser ouvido quando e onde a gente quiser. E em vez de sintonizar numa estação de rádio, a gente acha na internet. De graça. Dá para escutar num site, numa plataforma de música ou num aplicativo só de podcast no celular, para ir ouvindo quando a gente preferir: no trânsito, lavando louça, na praia, na academia… Os podcasts podem ser temáticos, contar uma história única, trazer debates ou simplesmente conversas sobre os mais diversos assuntos. É possível ouvir episódios avulsos ou assinar um podcast – de graça – e, assim, ser avisado sempre que um novo episódio for publicado G1 ouviu, podcast de música do G1 G1/Divulgação
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Ayrton Montarroyos acentua, em EP, mais as sombras do que as luzes da obra de Cartola
Capa do EP 'Live – Cartola, do samba ao samba-canção' Divulgação Resenha de EP Título: Live – Cartola, do samba ao samba-canção Artista: Ayrton Montarroyos – com Edmilson Capelupi ao violão Gravadora: Kuarup Cotação: * * * * ♪ Abordar o cancioneiro refinado do compositor carioca Angenor de Oliveira (11 de outubro de 1908 – 30 de novembro de 1980), o Cartola, é tarefa desempenhada com capricho por Ayrton Montarroyos no segundo dos dois EPs lançados pelo cantor com compilações de números musicais da série de lives temáticas que vem sendo feitas pelo artista pernambucano desde 19 de maio, sempre na companhia de virtuoso instrumentista. Músico ainda não devidamente (re)conhecido na medida do grande talento, o violonista Edmilson Capelupi é o músico que divide com Ayrton a interpretação das oito músicas que compõem o repertório do EP Live – Cartola, do samba ao samba-canção. Tal como no EP em que o cantor dá voz ao repertório de João Gilberto (1931 – 2019), a sintonia entre intérprete e violonista é total – o que valoriza sobretudo o registro de Cordas de aço (1976), ode ao violão companheiro de todas as horas. Sob o prisma técnico do rigor estilístico, nenhum reparo pode ser feito no disco. Com a voz grave, de timbre aveludado que chega a soar cavernoso no verso final de O mundo é um moinho (1976), Ayrton incursiona com segurança pelo universo melódico e poético de compositor que realmente foi do samba ao samba-canção, gênero das músicas mais aclamadas de Cartola. Munido dessa voz extremamente afinada, o cantor faz Sala de recepção (1976), sublinha as sombras que enchem Peito vazio (Cartola e Elton Medeiros, 1976) de mágoas e deixa entrever a claridade que ilumina Alvorada (Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho, 1968). O classudo toque seresteiro do violão de Edmilson Capeluli aclimata corretamente o samba-canção O inverno do meu tempo (Cartola e Roberto Nascimento, 1979), samba-canção de tons outonais. Na sequência do disco, o registro de Senões (Cartola e Nuno Veloso, 1979) corrobora a supremacia do samba-canção neste recorte da obra do compositor. E, no fim, Ayrton não consegue que se “faça a alegria” de Corra e olhe o céu (Cartola e Dalmo Castello, 1974) por ser intérprete mais vocacionado para temas invernais. Mesmo sem apresentar sequer uma centelha de novidade na abordagem de obra já tão cantada em discos e shows, Ayrton Montarroyos se afina com o tempo de Cartola em EP que acentua mais as sombras do que as luzes do cancioneiro do compositor.
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Rodrigo Santos abre parceria com Roberto Menescal e celebra Rodrigo Rodrigues no álbum ‘Livre’
♪ A convivência de Rodrigo Santos com Roberto Menescal ao longo de Faz parte do meu show –Cazuza em bossa nova (2018 / 2019) – turnê que circulou pelo Brasil com espetáculo criado para celebrar os 60 anos de nascimento de Cazuza (1958 – 1990) – gerou a primeira parceria entre os compositores cariocas. Gravada com o violão de Menescal, a canção O bem que se quer é uma das 12 músicas inéditas que compõem o repertório de Livre, 11º álbum da carreira solo de Rodrigo Santos, cantor, compositor e baixista – instrumento que tocou de 1992 a 2017 na banda Barão Vermelho – natural do Rio de Janeiro (RJ). Com repertório composto e gravado de abril a julho deste ano de 2020, no período de isolamento social, o disco Livre foi lançado na sexta-feira, 28 de agosto. Além da parceria do artista com Menescal, o álbum inclui Quem sabe mais, música composta por Santos em memória do jornalista, músico e escritor carioca Rodrigo Rodrigues (1975 – 2020), morto em julho, aos 45 anos, vítima de covid-19. A composição foi feita em 29 de julho, um dia após a morte de Rodrigues. Capa do álbum 'Livre', de Rodrigo Santos Gustavo Gouvêa e Marcelo Portella Gravado em estúdio montado na casa em que o artista está confinado na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), o álbum Livre foi formatado com a colaboração virtual de músicos residentes em várias cidades do Brasil e também em Venice (Los Angeles, Califórnia, EUA). Parceiro de Santos em Arca de Noé 2020, o guitarrista inglês Andy Summers toca na faixa, também formatada com a bateria de João Barone. A música-título Livre é parceria do poeta letrista Mauro Sta. Cecília com Santos. Já Eu vou comemorar e Meu navio é o tempo são composições de Rodrigo Santos com Guto Goffi e com George Israel, respectivamente. Enquanto promove o álbum Livre, Rodrigo Santos escreve o livro Viu comida come, viu cama dorme, viu van entra – Diários da estrada – com relatos da vida profissional em carreira solo – e prepara o lançamento do disco Festa rock 2.
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