Banda Natiruts amplia conexão internacional ao cantar, em inglês, em disco do grupo The Wailers
Faixa gravada com Alexandre Carlo, 'When love is right' também traz a percussão de Carlinhos Brown. ♪ Soa natural e até certo ponto previsível o fato de a banda brasiliense de reggae Natiruts figurar no time de convidados de One world, primeiro álbum de estúdio lançado pelo grupo jamaicano The Wailers desde Jah message (1994), disco editado há 26 anos. É que a banda do cantor e compositor Alexandre Carlo edita discos pela Sony Music, a mesma gravadora que pôs o álbum One world no mercado na sexta-feira, 21 de agosto. Sem falar que a estratégia de marketing traçada para o Natiruts vem incluindo conexões da banda com artistas internacionais. Alocada na última das 14 faixas do álbum One world, a participação do grupo Natiruts na música When love is right – cantada em inglês por Alexandre Carlo em gravação feita com a percussão do baiano Carlinhos Brown e com a adesão vocal do cantor Julian Marley – está em sintonia com a recente união da banda brasileira com Jacob Hemphill, vocalista da banda norte-americana SOJA, cujo nome é acrônimo de Soldiers of Jah Army. Jacob Hemphill é compositor – em parceria Luís Maurício, baixista do Natiruts – e convidado do single Exército da paz, lançado pelo Natiruts em janeiro deste ano de 2020.
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‘Neymar hits’ na final da Champions: conheça a playlist e o poder da caixa de som do jogador
Chegada de Neymar aos jogos tem impulsionado hits, emocionado cantores e espalhado polêmicas. Após Luisa Sonza, Niack e WM, fãs perguntam antes da final: o que ele vai tocar? No sentido horário: Neymar, MC WM, de 'Isso é rave; Luisa Sonza, de 'Toma' e MC Niack, de 'Oh Juliana' Franck Fife/AFP e Divulgação Os fãs de Neymar já ficam ansiosos antes do jogo. Assim que ele descer do ônibus para a final da Champions League neste domingo (20), vai sair o resultado que cada vez mais gente procura: que música ele vai ouvir hoje? Nos últimos dias de partidas, a caixa de som que Neymar carrega na chegada ao estádio alavancou um hit, emocionou artistas, resgatou sua origem e espalhou polêmica. Mesmo em meio a milhões de audições, o "play" do Neymar tem um prestígio maior. Na playlist recente estão: "Toma", de Luisa Sonza e MC Zaac "Oh Juliana", do MC Niack "Hoje é rave", de Barbara Labres e MC WM "Hawái", do Maluma "Par-tusa", de El Dipy "Cai lágrimas", do MC Duda do Marapé A ligação de Neymar com a música pop vem de longe. Pagodeiros, funkeiros e sertanejos já se deram bem ao virarem "parças" e terem músicas divulgadas em comemorações e posts. O G1 já até mostrou o "Sgt. Pepper's" do Neymar. Virou hit Nas quartas-de-final, contra o Atalanta, o atacante do PSG desceu do ônibus ouvindo um funk-rave que pouca gente identificou. A faixa se chama "Hoje é rave", da DJ Barbara Labres e do MC WM. Barbara já era conhecida de Neymar, e o "play" do amigo fez a música acontecer. Nos comentários do clipe de "Hoje é rave" no YouTube, um internauta manda a real: "Procure um comentário que veio antes do Neymar colocar essa música e falhe miseravelmente". Mão amiga Outra amiga de Neymar ganhou um presente antes da semifinal: Luisa Sonza. Ele colocou na sua caixa de som gigante a música "Toma", de Luisa e MC Zaac. Mas essa jogada foi em dois tempos: Neymar, na verdade, desceu do ônibus ouvindo a música "Oh Juliana", atual música mais tocada nas paradas de streaming do Brasil, do jovem MC Niack. Depois que ele desceu e já tinha andado um pouco, mexeu no celular e colocou a faixa da amiga Luisa. Mesmo dividindo a vitória, tanto ela quanto Niack comentaram emocionados nas redes sociais. Neymar também homenageou um funk antigo. Na véspera da semifinal, o jogador que cresceu na baixada santista cantou"Cai lágrimas", do MC Duda do Marapé, ídolo local que foi assassinado em 2011. Festa (e polêmica) hispânica Se as últimas chegadas foram com funk, as comemorações foram em espanhol. Depois do jogo com o Leipizeig, Neymar comandou a festa do PSG com um play na música "Par-tusa", do cantor argentino de cumbia El Dipy. A escolha pelo reggaeton da festa foi polêmica. Neymar apareceu cantando "Hawái", música nova do colombiano Maluma, ao lado de outros jogadores do PSG. O cantor colombiano Maluma Reprodução/Facebook/Maluma O problema são os boatos de que o jogador está saindo com Natalia Barulich, ex-namorada de Maluma. A letra é sobre traição, e fãs especulam que o colombiano tenha escrito justamente para Natalia. O vídeo de Neymar foi visto nas redes, então, como provocação. Mas ele tratou de afastar os rumores: "Tenho nada a ver…", Neymar comentou no Instagram. Luísa Sonza lança 'Garupa' com Pabllo Vittar
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G1 Ouviu #103 – Como MC Niack foi da depressão ao topo das paradas aos 17 anos
Conheça o cantor que desbancou Anitta e já teve dois hits em 1º lugar. Filho de uma empregada doméstica, ele superou uma depressão e aprendeu a fazer músicas com parcerias remotas. Você pode ouvir o G1 ouviu no G1, no Spotify, no Castbox, no Google Podcasts ou no Apple Podcasts. Assine ou siga o G1 Ouviu para ser avisado sempre que tiver novo episódio no ar. O que são podcasts? Um podcast é como se fosse um programa de rádio, mas não é: em vez de ter uma hora certa para ir ao ar, pode ser ouvido quando e onde a gente quiser. E em vez de sintonizar numa estação de rádio, a gente acha na internet. De graça. Dá para escutar num site, numa plataforma de música ou num aplicativo só de podcast no celular, para ir ouvindo quando a gente preferir: no trânsito, lavando louça, na praia, na academia… Os podcasts podem ser temáticos, contar uma história única, trazer debates ou simplesmente conversas sobre os mais diversos assuntos. É possível ouvir episódios avulsos ou assinar um podcast – de graça – e, assim, ser avisado sempre que um novo episódio for publicado G1 ouviu, podcast de música do G1 G1/Divulgação
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Grupo Ordinarius celebra cantoras e compositoras desbravadoras no álbum ‘Paralelas’
Septeto carioca reúne músicas de Dolores Duran, Dona Ivone Lara, Fátima Guedes, Joyce Moreno, Maysa e Marisa Monte no quinto disco. ♪ Quinto álbum do grupo carioca Ordinarius, Paralelas soa como desdobramento do disco anterior do septeto, Notável (2017), lançado há três anos. Em Notável, o grupo abordou o repertório de Carmen Miranda (1909 – 1955) para celebrar as conquistas da primeira cantora popstar do Brasil. Em Paralelas, disco lançado em CD na sequência da edição digital apresentada em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Ordinarius dá vozes ao cancioneiro de cantoras que abriram caminhos na música brasileira, sobretudo como compositoras. O álbum Paralelas marca a entrada de Antonia Medeiros e Beatriz Coimbra no grupo. Substitutas de Fernanda Gabriela e Rebeca Vieira, as vocalistas se juntam a Augusto Ordine (diretor musical e arranjador do disco), Fabiano Salek, Maíra Martins, Mateus Xavier e Matias Correa. Embora tenha saído do grupo para priorizar outros projetos profissionais, Rebeca Vieira faz participação no álbum Paralelas na gravação de Estrada do sol (1958) – música de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) letrada pela pioneira Dolores Duran (1930 – 1959) – que incorpora o tema de jazz Take five (Paul Desmond, 1959). Capa do álbum 'Paralelas', do grupo Ordinarius Divulgação No disco, gravado no estúdio carioca Umuarama de janeiro a novembro de 2019, o Ordinarius alinha composições de artistas desbravadoras como Dona Ivone Lara (1922 – 2018) – representada pelo samba Alguém me avisou, de 1980 – e Joyce Moreno (Feminina, samba emblemático na revolução feminina que agitou a MPB em 1979). Maysa (1936 – 1977) figura no repertório com o samba-canção Ouça (1957). Teresa Cristina é lembrada com Cantar (2007). Rita Lee entra na dança com Baila comigo (1980). Fátima Guedes tem Flor de ir embora (1990) regada pelas vozes do grupo Ordinarius. Rosa Passos é reverenciada com o samba Dunas (1993), parceria com Fernando de Oliveira. Já Bandolero (1978) celebra a independência artística da dupla formada por Luhli (1945 – 2018) com Lucina na década de 1970. De Marisa Monte, o septeto canta Blanco (1996), música composta pela artista a partir de poema do mexicano Octavio Paz (1914 – 1998) em tradução de Haroldo de Campos (1929 – 2003).
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Cantor potiguar lança clipe gravado em casa durante a pandemia; veja
Rodrigo Mello apresenta single "Cristo Redentor" e diz que música tem missão de levar conforto, fé e esperança para as pessoas que estão em isolamento. O cantor e compositor Rodrigo Mello lançou o single "Cristo Redentor" neste fim de semana. O clipe intimista foi feito em casa durante a pandemia do novo coronavírus e está disponível no YouTube. A obra é metaforizada através de uma prece, em meio a um momento de angústia. "Quem me dera te ter por perto, o destino está meio incerto, mas te espero de peito aberto para a gente falar de amor", diz um trecho da música. Em um momento de solidão, o artista potiguar viu luz em sua própria companhia. De acordo com Rodrigo, o novo trabalho "clareia o breu através da luz", simbolizada pela pintura de cor branca em seu corpo, conforme aparece no clipe e na capa do single. "Cristo Redentor" é o novo single de Rodrigo Mello Divulgação O cantor reforça que a missão de "Cristo Redentor é "iluminar a escuridão dos tempos atuais, levando conforto, fé e esperança para as pessoas que estão em isolamento". "Penso na tristeza de minha avó que não pode abraçar os seus netos. Penso na minha irmãzinha que não tem amigos para brincar. Impossível não pensar nos profissionais de saúde que estão longe de suas famílias. Verdadeiros heróis que salvam milhares de vidas diariamente. Minha pequena homenagem é feita com o Cristo Redentor. Maior símbolo de fé em nosso país", conta. Rodrigo traz em suas composições uma influência forte do pop, através de um rap melódico e beats envolventes. Seu objetivo é despertar a busca pelo autoconhecimento, amor próprio e ao próximo nas pessoas que ouvem a sua música. Veja o clipe:
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Fagner adia álbum autoral para gravar disco de tom seresteiro com músicas dos anos 1930
O cantor Raimundo Fagner prepara álbum com valsas como 'Rosa' e 'Lábios que beijei' Reprodução de vídeo do Facebook oficial de Raimundo Fagner ♪ Desde 2015, Raimundo Fagner vem alinhavando repertório para disco autoral com músicas inéditas – o primeiro do cantor e compositor cearense no gênero desde Pássaro urbano (2014), álbum lançado há seis anos. Para dar forma a esse disco, o cantor vem compondo em parceria com Chico César, Clodo Ferreira, Fausto Nilo, Moacyr Luz e Zeca Baleiro. Contudo, o plano de concretizar álbum autoral está adiado. Fagner decidiu priorizar a gravação de disco de tom seresteiro, produzido por José Milton com repertório formado por músicas antigas, a maioria da década de 1930. Estão previstas neste álbum regravações de músicas que se adaptam ao clima de seresta, como Rosa (Pixinguinha com letra posterior de Otávio de Souza, 1917 / 1937), Malandrinha (Freire Júnior, 1927), Maringá (Joubert de Carvalho, 1931), Noite cheia de estrelas (Cândido das Neves, 1932), Serenata (Silvio Caldas e Orestes Barbosa, 1935), Chão de estrelas (Silvio Caldas e Orestes Barbosa, 1937), Lábios que beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo, 1937), Deusa da minha rua (Newton Teixeira e Jorge Faraj, 1939), Serenata do adeus (Vinicius de Moraes, 1958) e As rosas não falam (Cartola, 1976), entre outras composições pautadas pelo lirismo romântico. Em mídia física, o último título da discografia de Fagner foi um CD ao vivo e DVD gravados em show feito pelo cantor com Zé Ramalho. O registro audiovisual desse show foi lançado em dezembro de 2014. Mas cabe lembrar que, em abril deste ano de 2020, foi lançado somente em edição digital o disco Ao vivo em Brasília, 2002, com inédito registro alternativo do show de Fagner com Zeca Baleiro nos anos 2000 – espetáculo já perpetuado em álbum e DVD editados em 2004 com outra gravação ao vivo.
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Plácido Domingo nega ter cometido abuso de poder enquanto dirigia teatros de ópera nos EUA
Tenor espanhol rebateu acusações em entrevista à AP. Domingo tenta limpar seu nome após escândalo de assédios sexuais. O tenor Plácido Domingo, durante entrevista em que negou ter cometido abuso de poder, neste domingo (23) em Nápoles, na Itália Riccardo De Luca/AP O tenor espanhol Plácido Domingo negou ter alguma vez cometido abuso de poder durante sua gestão de dois teatros de ópera dos EUA, em entrevista à Associated Press neste domingo (23). Vários artistas disseram à AP que Domingo os perseguiu e abusou de seu poder enquanto ocupava cargos de gerência na Ópera de Los Angeles e na Ópera Nacional de Washington. Inúmeras mulheres disseram que Domingo ofereceu oportunidades de carreira enquanto buscava relações sexuais com elas e, em seguida, retirou as ofertas ou parou de contratá-las quando rejeitaram suas propostas. Após vir à tona um escândalo com várias mulheres acusando-o de assédio sexual no ano passado, ele tenta limpar seu nome. Duas investigações encontraram indícios de que ele havia se envolvido em “conduta inadequada” ao longo de décadas. Em fevereiro ele chegou a pedir perdão, lamentando o sofrimento causado e assumindo "toda a responsabilidade" por seus atos após a polêmica de assédios sexuais. Na entrevista, Domingo evitou perguntas diretas sobre se ele alguma vez assediou mulheres sexualmente. As acusações prejudicaram sua carreira nos Estados Unidos, bem como na Espanha. "Eu ‘nunca prometi um papel a um cantor, nem nunca aceitei o papel de um cantor”, disse ele. “Passei minha vida inteira ajudando e, você sabe, incentivando e impulsionando as pessoas”. Ele acrescentou que as responsabilidades dentro das companhias de ópera são divididas, o que significa que ele nunca teve controle total sobre as decisões de elenco. As investigações da LA Opera e da American Guild of Musical Artists (AGMA) concluíram que as alegações de assédio sexual eram críveis. A LA Opera disse não ter encontrado evidências de abuso de poder, mas a AGMA encontrou um padrão claro de abuso, de acordo com pessoas que falaram à AP sob condição de anonimato. Domingo focou quase exclusivamente nas alegações de abuso de poder durante a entrevista em Nápoles. Aos 79 anos, o cantor contraiu coronavírus em março e ficou internado por 10 dias até se curar. Ele disse que espera poder resolver o que considera um mal-entendido com as autoridades espanholas. Também almeja voltar a cantar na Espanha, onde seus pais dirigiam a casa de ópera Zarzuela, em Madri. Mas disse ver como "menos provável" seu retorno aos palcos dos EUA. "É muito triste para mim não poder cantar nos Estados Unidos. Gosto muito", disse Domingo. “Por mais de meio século, o público foi sempre realmente extraordinário.”
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Músicas para descobrir em casa – ‘O vento’ (Djavan e Ronaldo Bastos, 1987)
♪ “Farol na cerração dos grandes medos”, como poetizou o letrista Abel Silva em verso posto em melodia de Sueli Costa apresentada na voz da cantora Simone em 1980, a música tem sido a companheira fiel do ser humano. Mudam as mídias e passam os tempos sem que o poder de uma grande canção seja esvaído. Álbuns conceituais sempre terão espaço nas casas e nos corações dos colecionadores de discos. Contudo, os singles voltaram a ter peso no mercado fonográfico nestes modernos tempos digitais. No toque cotidiano dos players, ouve-se – geralmente pelo celular – mais canções do que discos em si. Ciente dessa tendência e da necessidade de manutenção do isolamento social, o Blog do Mauro Ferreira estreia a série Músicas para descobrir em casa na sequência da série Discos para descobrir em casa, composta por 150 títulos apresentados diariamente de 26 de março a 22 de agosto deste atípico ano de 2020. Como o nome já diz, o foco da série Músicas para descobrir em casa reside na canção. Só que, assim como os discos da série anterior, o objetivo é reavivar músicas menos óbvias, canções pouco ou mesmo nunca regravadas. Pérolas pescadas no baú de joias do rico cancioneiro brasileiro. Com os leitores, eis a primeira de uma série de músicas para descobrir em casa: Capa do álbum 'Lua de mel como o diabo gosta' que traz a gravação original de 'O vento' na voz de Gal Costa Marcia Ramalho ♪ MÚSICAS PARA DESCOBRIR EM CASA – O vento (Djavan e Ronaldo Bastos, 1987) com Gal Costa ♪ Gal Costa gravou 13 músicas de Djavan ao longo de trajetória fonográfica que contabiliza 55 anos em 2020. Essas gravações foram feitas de 1981 – ano dos registros das canções Açaí e Faltando um pedaço para o álbum Fantasia (1981) – ao ano passado, quando a cantora reviveu Azul (1982) no álbum A pele do futuro ao vivo (2019). Ao longo da década de 1980, todo álbum da artista baiana trouxe uma ou duas músicas do compositor alagoano. Algumas foram canções inéditas apresentadas ao mundo na voz de Gal, caso da mencionada Azul, um dos sucessos radiofônicos do álbum Minha voz (1982). Entre essas músicas inéditas, uma das mais belas e mais obscuras é O vento. Primeira e única parceria de Djavan com Ronaldo Bastos, a canção O vento foi apresentada em um dos álbuns mais controvertidos da discografia de Gal, Lua de mel como o diabo gosta (1987). O vento foi a segunda das 10 músicas na disposição do repertório do LP que chegou às lojas em dezembro de 1987 pela gravadora BMG-Ariola. Neste disco produzido por Guto Graça Mello, o alcance da voz de Gal estava no auge, mas o tom tecnopop de alguns arranjos decepcionou seguidores da cantora. O vento, no entanto, sobressaiu como uma das grandes músicas do álbum, não somente pela beleza da canção em si, como pelo arranjo, criado e regido pelo próprio Djavan. O violão de Djavan conduziu a levada de O vento na gravação de cinco minutos e 23 segundos. O assovio – também do próprio Djavan – e o sopro da flauta de Zé Carlos Bigorna ajudaram a embalar a canção na gravação também formatada com os toques da bateria de Jorginho Gomes, do baixo de Pedro Baldanza e dos teclados de Ricardo Cristaldi. Pela mão firme de Djavan na concepção e execução do arranjo, O vento seguiu em direção diferente das outras faixas do disco. Talvez por essa razão, a canção tenha permanecido esquecida no álbum Lua de mel como diabo gosta, sem jamais ter ganhado a voz de outro intérprete. Nem mesmo Djavan registrou O vento na própria discografia – ainda que, motivado pela lembrança da canção pelo parceiro Ronaldo Bastos em live de Teresa Cristina em 18 de agosto, o autor tenha cantado a música na edição seguinte da live dupla dedicada pela artista à obra do compositor. A inexistência de O vento na discografia de Djavan é fato curioso, pois a música está entre as melhores do compositor, inclusive pela total sintonia entre a letra de Ronaldo Bastos – poeta fluminense, autor de letras fundamentais do cancioneiro do Clube da Esquina – e a melodia de Djavan, compositor projetado nacionalmente em 1975 com assinatura singular na MPB. Impregnados de lirismo, os versos de O vento sopraram com fidelidade ao universo de Djavan, como se Bastos tivesse sido guiado pela sonoridade das palavras. Trata-se, enfim, de grande canção que merece ser (re)descoberta por outros intérpretes e pelo público que curte a obra de Djavan e o canto cristalino de Gal Costa. ♪ Ficha técnica da Música para descobrir em casa 1: Título: O vento Compositores: Djavan e Ronaldo Bastos Intérprete original: Gal Costa Álbum da gravação original: Lua de mel como o diabo gosta Ano da gravação original: 1987 Regravações que merecem menções: a música O vento nunca foi regravada. ♪ Eis a letra da canção O vento : “Minha mulher, minha irmã Minha cara metade De carne maçã, maçã Minha costela de Adão Meu pé de romã, romã Vento que bate na porta Trazendo notícias Que tem de alguém Vento que entorna a manhã Do meu bem Me leva, me leva Vento bate suas asas Voa sobre as casas, vento Faz o dia delirar Traz minha morena do além-mar Minha irmã, meu irmão Quem tem ouro na pele Da alma pagã, pagã Vento me ensina a tocar a flauta de Pã, de Pã”
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Katy Perry expõe lado atormentado e choroso em ‘Smile’, melhor dela desde 2010
G1 ouviu álbum da cantora que desconstrói imagem de popstar 'palhaça' com letras sobre sofrimento. Ele começa dance pop, mas tem riffs colantes, grooves e baladas. Katy Perry é uma palhaça triste não só nas fotos de “Smile”, sexto álbum dela (ouça um faixa a faixa no podcast acima). O mundo colorido da cantora californiana de 35 anos já foi desconstruído em baladas emotivas e no documentário "Part of Me", mas agora ganha um álbum feito com essa intenção. "Smile" dá conta de mostrar o lado atormentado da pessoa por trás das perucas coloridas, do sutiã de cupcake ou dos looks de pin-up, rainha da selva ou Cleópatra. No palco e na maioria dos álbuns anteriores, Katy fez fama por ser uma das popstars que menos se leva a sério. Nas 12 músicas e 36 minutos deste álbum, porém, a ideia é deixar essa faceta "garota pateta da turma" definitivamente de lado. A ideia de cantar um pop consciente e sem hits fáceis, em "Witness", álbum anterior de 2017, aparece um pouco mais desenvolvida em "Smile". Em vez de criticar o que está em volta dela, Katy olha para si mesma. E relata o sofrimento decorrente disso. Ainda é difícil encontrar um refrão óbvio e colante, mas por trás das letras intensas dá para achar arranjos que remetem a eras anteriores de Katy. Tempos mais leves e divertidos. Em "Teenage Dream", Katy encontrou 14 maneiras diferentes de fazer referência ao sexo. Em "Smile", os temas mais recorrente são o choro, o desabafo e a busca por redenção. Leia abaixo o faixa a faixa de 'Smile', da Katy Perry, ou ouça no podcast acima. Katy Perry em fotos do álbum 'Smile' Divulgação ‘Never Really Over’ Lançada em maio de 2019, a faixa de abertura versa sobre o tema mais discutido na música pop de hoje: a saúde mental. Em típico pop ansioso com produção do DJ russo Zedd (do hit "The Middle" e de várias parceiras), Katy fala sobre a dificuldade de deixar algo de lado. O refrão resume um fluxo de pensamentos que não cessa. Ele vai sendo cantando cada vez mais e mais rápido, mostrando a sensação de encadear memórias ruins. É o melhor single de Katy desde "Roar". ‘Cry About It Later’ É a primeira da dobradinha que mostra uma Katy dançando e chorando, ao mesmo tempo. Esta é mais robótica, com menos suingue e solo de guitarra meio glam metal que faz lembrar um pouco a influência metal farofa dela, já ouvida no bom lado B “Hummingbird Heartbeat”. ‘Teary Eyes’ É mais um emo dance pop, porém mais cadenciado. Começa com vocais e teclados suave, mas dá uma ligeira estourada no refrão. "Só continue dançando com olhos lacrimejantes". ‘Daisies’ Katy Perry posa grávida durante a gravação do clipe de 'Daisies' Divulgação Foi a segunda música do álbum a ganhar clipe. Ela é uma espécie de transição: de temas (Katy emotiva e debilitada para Katy plena, autocentrada, resiliente) e de arranjos (do eletrônico ao mais orgânico). Ela diz que vai ser sempre chamada de doida, mas não vai mudar por causa disso nunca, nem quando estiver coberta de flores (ou seja, morta). Katy canta com muita vontade, em uma das melhores performances vocais em anos, como se a carreira dependesse do sucesso dessa música. ‘Resilient’ Faz par com a música anterior. A produção é do duo norueguês Stargate, parceiros de Katy em "Firework". "Resilient" é uma versão mais madura e menos histriônica desse megahit. A dupla é conhecida pela produção mais limpa, com arranjos orquestrados e menos camadas do que as do pop atual. O Stargate já chegou quatro vezes ao primeiro lugar nas paradas dos EUA com esse pop minimalista: "So Sick" (Ne-Yo), "Irreplaceable" (Beyoncé), “Diamonds” (Rihanna) e, claro, "Firework". ‘Not the End of the World’ "Não perca as esperanças", "Não é o fim do mundo" e "Isso é só o começo" são três dos mantras cantados por Katy nesta música com clima de autoajuda pop eletrônica. Está entre as menos inspiradas do álbum. ‘Smile’ A faixa-título tem nove compositores e realmente parece ter dado trabalho. São várias músicas em uma, com camadas de batidas e de vocais processados. Está entre as mais espevitadas e leves do álbum, mas o arranjo mais pra cima disfarça uma letra nada leve. Ela canta sobre se sentir em um "dia da marmota", com sentimentos fakes, muita decepção e (mais) choro. "Cada lágrima foi uma lição". ‘Champagne Problems’ Um groove anuncia que o sorriso da música anterior virou uma festa a dois. “Houve um tempo em que a gente poderia ter desistido, mas depois de tanto trabalho sujo, nos tornamos uma versão melhor", celebra a cantora. "Nós dois sabemos que o pior já passou, me traz para perto de você e nos sirva. Tudo o que temos agora são problemas com champanhe”. ‘Tucked’ Palmas, riff de guitarra colante e baixo bem marcado anunciam uma letra que é uma versão good vibe de “Never Really Over”. Estar com alguém ou algo sempre na cabeça era como uma maldição. Agora, é uma benção. “Você está onde eu quiser, eu te mantenho dobradinho na minha cabeça, para que eu te ache toda hora que eu quiser”. Tem um “nanana” colante que lembra do frescor de “Can't Get You Out of My Head”, da Kylie Minogue, mas sem plagiá-lo. ‘Harleys In Hawaii’ Katy Perry na capa do single 'Harleys In Hawaii' Divulgação "Harleys in Hawaii" foi feita com ajuda de Charlie Puth (pianista conhecido por "Attention" e "See you again"). É uma música praiana-urbana, sobre uma viagem romântica para o Havaí, com passeios de moto acompanhada do marido, o ator Orlando Bloom. No fim, gritos acabam com a suavidade do arranjo. ‘Only Love’ É uma balada com algo soul, feita com ajuda da cantora e pianista inglesa Frances, uma aposta para conquistar fãs de Adele e Sam Smith que ainda não vingou. A letra é introspectiva e dispensa as metáforas comuns no cancioneiro de Katy. A letra especula como seria "o último dia viva". Tem os versos mais atormentados do álbum. "86400 segundos em um dia. A maioria deles tem sido um desperdício." "Oh meu Deus, quanto tempo gastei dentro da minha própria cabeça." ‘What Makes A Woman’ Após a letra direta da música anterior, Katy volta às metáforas tão usadas em suas baladas (sacolas voando, caminhada em uma tempestade, fogos de artifício, bala com recheio surpresa). Ela fala que precisa de "Funny tissues for my issues" (lenços engraçadinhos para meus problemas) e "band-aids para o coração". "É meu corte de cabelo ou deixo de usar maquiagem? Eu me sinto mais bonita fazendo qualquer m… que que eu queira", canta ela. "É o jeito que eu falo docemente ou o jeito que a minha pele é macia ou como eu posso ser uma vadia, fazendo você manter seus dedos cruzados." Katy Perry continua séria e fazendo pop consciente em 'Never really over'
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Obra modernista de Garoto é enfocada em filme que estreia em setembro
Programado na 12ª edição do festival 'In-Edit Brasil', o documentário joga luz sobre o legado do violonista e compositor paulistano morto em 1955. O compositor e violonista Garoto é tema do documentário de Henrique Gomide, Lucas Nobile e Rafael Veríssimo Reprodução / Página do filme 'Garoto – Vivo sonhando' no Facebook ♪ Produzido desde janeiro de 2014, o documentário Garoto – Vivo sonhando já está finalizado e estreia em setembro dentro da programação online da 12ª edição do In-Edit Brasil – Festival internacional do documentário musical, agendada de 9 a 20 de setembro. Projeto de Henrique Gomide, Lucas Nobile e Rafael Veríssimo, o filme joga luz sobre a obra do compositor e violonista paulistano Aníbal Augusto Sardinha (28 de junho 1915 – 3 de maio 1955), conhecido como Garoto. Primeiro violonista modernista do Brasil, por ter introduzido bossas novas no modo de tocar violão com o uso de acordes inusuais, o artista também deixou obra autoral relevante, produzida da década de 1930 até 1955, ano em que saiu precocemente de cena, morto aos 40 anos. O título do documentário Garoto – Vivo sonhando junta o nome artístico do violonista com o título da composição feita em 1945 por Garoto e lançada em disco em 1950 em registro fonográfico do próprio autor. Produção da Tc Filmes com a Lente Viva Filmes, o documentário de Gomide, Nobile e Veríssimo é oportuno porque, fora dos nichos que cultuam a música brasileira instrumental, o nome de Garoto aparece normalmente creditado somente como o parceiro de Chico Buarque e Vinicius de Moraes (1913 – 1980) na canção Gente humilde. Com melodia também composta por Garoto em 1945, Gente humilde é de fato a composição mais famosa de Garoto, tendo sido popularizada em 1969 ao ser a gravada pela cantora Márcia para a trilha sonora da novela Véu de noiva (TV Globo) com a letra escrita posteriormente por Vinicius com a (mínima) colaboração de Chico. Na sequência, a gravação de Angela Maria (1929 – 2018), lançada em 1970, sedimentou o sucesso popular da melancólica canção. Contudo, o moderno cancioneiro autoral de Garoto é (bem) mais amplo e inclui choros (como Gracioso, de 1957), sambas-canção (com destaque para Duas contas, de 1951) e valsas (caso de Naqueles velhos tempos, tema de 1950). Como compositor e violonista, Garoto sofreu a influência do jazz – sobretudo na viagem que o levou aos Estados Unidos nos anos 1940 para tocar com a cantora Carmen Miranda (1909 – 1955) – e bebeu do impressionismo francês entranhado na obra de compositores como Debussy (1862 – 1918), além de ter sido marcado pelo convívio com o pianista, compositor, arranjador e maestro Radamés Gnattali (1906 – 1988). Foto promocional do documentário 'Garoto – Vivo sonhando' Reprodução / Página do filme 'Garoto – Vivo sonhando' no Facebook
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