Bafta 2021 é adiado para abril por causa do novo coronavírus
Academia Britânica de Cinema anunciou mudança de data da premiação, que aconteceria em 14 de fevereiro. O diretor mexicano Alfonso Cuaron posa com os prémios Bafta de Melhor Filme e Melhor Diretor, por 'Roma', em 2019 Joel C Ryan/Invision/AP A Academia Britânica de Artes de Cinema e Televisão anunciou nesta segunda-feira (15) que o Bafta 2021 vai ser adiado para o dia 11 de abril por causa da pandemia do novo coronavírus. Além disso, a estenderá o período de elegibilidade dos filmes concorrentes. Ainda nesta segunda, a Academia de Hollywood divulgou que o Oscar 2021 também vai ser adiado para o mesmo mês. O Bafta de 2021, principal premiação do cinema britânico e um dos 'termômetros' do evento americano, estava previsto para o dia 14 de fevereiro. "Esta mudança da data anteriormente anunciada de 14 de fevereiro reconhece o impacto da pandemia global e acomoda um período de elegibilidade estendido. Mais detalhes sobre a cerimônia serão anunciados mais tarde no ano", afirmou a organização em comunicado, segundo o site da revista "Variety".
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Discos para descobrir em casa – ‘Correio da Estação do Brás’, Tom Zé, 1978
Capa do álbum 'Correio da Estação do Brás', de 1978 Moacyr Lugato ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Correio da Estação do Brás, Tom Zé, 1978 ♪ Bairro da cidade de São Paulo (SP) notabilizado pela concentração de migrantes nordestinos, o Brás inspirou o conceito do sexto álbum de Tom Zé, Correio da Estação do Brás. Lançado em 1978, em edição da gravadora Continental, o álbum Correio da Estação do Brás versou sobre o vaivém geográfico e emocional de migrantes como o próprio Antônio José Santana Martins, cidadão que veio ao mundo em 11 de outubro de 1936 em Irará (BA), cidade do interior da Bahia, e que se deslocou para a cidade de São Paulo (SP) nos anos 1960 – após período vivido em Salvador (BA) – em movimento recorrente na trajetória de artistas nordestinos em busca de visibilidade nacional no eixo cultural Rio-São Paulo. Integrante da turma baiana que idealizou a Tropicália, movimento que sacudiu os alicerces da MPB entre 1967 e 1968, Tom Zé fechou com o álbum Correio da Estação do Brás ciclo que completou uma década naquele ano de 1978. Em 1968, há então dez anos, o cantor e compositor vencera festival – com canção justamente intitulada São São Paulo, meu amor – e lançou o primeiro álbum, Tom Zé, também conhecido como Grande liquidação. Logo desgarrado da trupe tropicalista, Tom Zé construiu nos anos 1970 obra pavimentada à margem do mercado fonográfico, com alta dose de inventividade em discos lançados através de gravadoras nacionais como a RGE – por onde o artista lançou o segundo álbum, Tom Zé, em 1970 – e a Continental, companhia na qual o cantor gravou LPs que sedimentaram a obra do compositor, casos dos álbuns Tom Zé (1972), Todos os olhos (1973) e, sobretudo, do experimental Estudando o samba (1976). Álbum que antecedeu Correio da Estação do Brás na discografia de Tom Zé, Estudando o samba se tornaria aclamado com o decorrer do tempo, mas, ao ser lançado em fevereiro de 1976, foi menosprezado pelos críticos da época (“E se estudasse mais?”, provocou Sérgio Cabral no título da resenha publicada no jornal O Globo) e ignorado pelo público – como, a rigor, todos os discos anteriores do artista tinham sido ignorados pelo povo habituado a ouvir canções facilmente digeríveis. Foi nesse contexto inteiramente desfavorável que Tom Zé entrou em estúdio para gravar Correio da Estação do Brás, quarto e último álbum do cantor na gravadora Continental. Com fidelidade ao tema principal (mas não único) desse disco de recorrente sotaque nordestino nos arranjos criados por Otavio Basso (1946 – 2015), mas com incursões pelo samba, Tom Zé apresentou álbum de insistente melancolia entranhada em safra de inéditas canções autorais em que sobressaíram Menina Jesus – composição em que o artista versou sobre o sonho de ascensão social dos migrantes na década do falso “milagre brasileiro” da economia do Brasil – e Morena (Tom Zé em adaptação de tema de domínio público), canção que pôs em foco os desajustes afetivos e profissionais do migrante às voltas com a lente que aumentava o corpo da mulher desejada e inacessível. As músicas Correio da Estação do Brás e Carta deram sequência à narrativa do disco com letras que versaram sobre o trânsito de notícias dos migrantes para amores e familiares saudosos, sendo que, na música-título, sustentada por base percussiva, Tom Zé personificou espécie de cantador nordestino com prosódia evocativa das vozes do gênero, como se estivesse cantando em feira do interior da Bahia. O canto de Pecado original sublinhou a aridez de Correio da Estação do Brás, um dos álbuns com menor dose de experimentação na obra de Tom Zé, mas nem por isso menos interessante, como comprovaram faixas como o baião A volta de Xanduzinha – alusão explícita ao baião Xanduzinha (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) – e o samba Pecado, rifa e revista. Em Lavagem da igreja de Irará, faixa de maior vivacidade rítmica, o compositor expôs reminiscências da cidade baiana em que passou a infância e para onde cogitou retornar nos anos 1980 quando se viu desiludido com a carreira musical – movimento que somente não se concretizou porque, ao ser “descoberto” pelo norte-americano David Byrne em 1986, Tom Zé retomou a carreira fonográfica (em série de álbuns gravados para os Estados Unidos ao longo da década de 1990) e, no embalo, teve a obra revitalizada e reavaliada no Brasil, sobretudo a partir dos anos 2000. Mesmo com a ovação tardia, Correio da Estação do Brás permaneceu ao longo do tempo como um dos álbuns menos ouvidos de Tom Zé, mesmo tendo sido reeditado no formato de CD em 2000 (na série Dois momentos, produzida por Charles Gavin para a gravadora Warner Music, detentora do acervo da Continental) e reposto em catálogo no formato original de LP em 2010 (na série Clássicos em vinil, da Polysom). A obscuridade do disco explica o esquecimento de músicas como Amor de estrada, bolero de aura bem kitsch composto por Tom Zé em inusitada (e única) parceria com o publicitário Washington Olivetto. Duas parcerias de Tom Zé com Vicente Barreto, violonista do disco – os sambas metalinguísticos Lá vem cuíca (gravado com a voz de Barreto) e Na parada de sucesso – completaram o repertório de Correio da Estação do Brás, fechando o álbum gravado com músicos como o percussionista Mauro Herrera, o tecladista Armando Ferrante Jr. e o baixista Pedro Ivo Lunardi. Após o álbum Correio da Estação do Brás, Tom Zé ficou seis anos sem gravar. O cantor quase foi para a Som Livre em 1980, a convite do diretor da gravadora João Araújo (1935 – 2013), produtor dos dois primeiros álbuns do artista, mas, diante da inviabilidade de João produzir um terceiro álbum do cantor, Tom Zé abriu mão do contrato. O artista voltaria ao mercado fonográfico somente em 1984, via RGE, com o LP Nave Maria (1984), único álbum da década mais improdutiva da carreira deste migrante nordestino que, em 1978, soube traduzir os anseios dos conterrâneos que desembarcavam na Estação do Brás com a mala cheia de esperança e ilusão de dias melhores na selva da cidade de São Paulo (SP), amor antigo deste baiano octogenário que conserva a alma de criança.
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Lives de hoje: Rogério Flausino e Wilson Sideral, Pepeu Gomes, Luísa Sonza e mais shows para ver de casa
Nesta terça-feira (16), Claudio Lins faz live para comemorar 75 anos de Ivan Lins e recebe Lenine e Jorge Vercillo. Wilson Sideral e Rogério Flausino cantam Cazuza em live nesta terça-feira (16) Divulgação Rogério Flausino e Sideral fazem live especial com repertório de Cazuza nesta terça-feira (16). Pepeu Gomes, Teresa Cristina e Luísa Sonza também fazem transmissões. Veja a lista completa com horários das lives abaixo. Na onda das lives, o bastidor virou o show. Casas de músicos são os palcos possíveis no isolamento para conter o coronavírus. O G1 fez um intensivão de lives e avaliou os desafios deste formato; leia. Claudio Lins – Especial Ivan Lins 75 anos – 17h – Link Pepeu Gomes (Em Casa com Sesc) – 19h – Link Flausino e Sideral cantam Cazuza – 20h – Link Luísa Sonza – 22h – Link Teresa Cristina – 22h – Link As cenas de 'lives' da quarentena que já estão na história do entretenimento brasileiro
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Claudinho Guimarães, ‘compositor cantante’ gravado por Alcione e Zeca Pagodinho, morre aos 50 anos
'Quando a gira girou', samba feito com Serginho Meriti, é o maior sucesso do cancioneiro do artista. ♪ OBITUÁRIO – “Estamos de passagem, tudo ficará, não levaremos nada, só a certeza de uma vida repleta de felicidade com tantos amigos e familiares que tive…”. A reflexão escrita pelo compositor, cantor e músico carioca Claudinho Guimarães (1970 – 2020) em rede social, em postagem feita em 31 de maio, passou a soar premonitória. No domingo, 14 de junho, o “compositor cantante” – como o artista se caracterizou na sequência do texto dessa postagem – morreu aos 50 anos, vítima de infarto, sofrido em Maricá (RJ), cidade fluminense onde morava com a família. Herdado da mãe Gina, cantora da noite, o gosto pelo samba deu projeção a Claudinho Guimarães. Foi como compositor de sambas que o artista fez nome a partir dos anos 2000 ao ser gravado por cantores como Alcione, Diogo Nogueira e, sobretudo, Zeca Pagodinho. A propósito, o samba de maior popularidade do compositor, Quando a gira girou, feito por Claudinho com Serginho Meriti, foi lançado em 2006 na voz de Zeca Pagodinho, também intérprete original de Shopping móvel (parceria com Luizinho Toblow, de 2000), Lá vai marola (outro samba de Claudinho e Serginho Meriti, de 2003) e Sujeito pacato (mais um samba de Claudinho e Meriti, de 2008). Já Alcione gravou Umas e outras em 2005, Mangueira é mãe em 2007 e Eu vou pra Lapa em 2010 – três sambas de Claudinho com o recorrente parceiro Serginho Meriti. A dupla de compositores também assinou Da melhor qualili, samba gravado por Diogo Nogueira em 2010. Antes de se firmar como compositor, Claudinho Guimarães atuou com músico, tocando cavaquinho em discos e shows de bambas como Almir Guineto (1946 – 2017), Arlindo Cruz, Monarco e Nelson Sargento, entre outros. Na medida em que se firmou como compositor, Claudinho Guimarães também se assumiu cantor, ou “cantante”, tendo gravado os álbuns Luz do criador (2009) e De bem com a vida (2013). A precoce saída de cena do artista, aos 50 anos, enlutou o universo do samba carioca.
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Estúdios finalizam principais games do ano ‘em casa’ e vendas de jogos crescem na quarentena
Lançamentos como 'The Last of Us Part 2', 'Ghost of Tsushima' e 'Minecraft Dungeons' passaram por fase final de desenvolvimento de forma remota. Consumo subiu 35% em março. Com a quarentena mantendo muitas pessoas em casa, faz sentido que a indústria de games veja um crescimento no consumo. Mas o mesmo fator que contribui para o aumento dificulta o trabalho de estúdios, que têm de se virar para finalizar alguns dos principais lançamentos do ano de forma remota. Profissionais da indústria de games ouvidos pelo G1 explicaram essas mudanças. As vendas de jogos em março chegaram a US$ 1,6 bilhão, um número 35% maior do que o arrecadado no mesmo período de 2019, segundo a consultoria de mercado NPD. Atividade online de games cresce 75% nos EUA Americanos passam 45% mais tempo jogando games Audiência de streamers brasileiros cresce E o valor elevado ainda não reflete totalmente a mudança de comportamento gerada pelo isolamento, que em países como os Estados Unidos e Brasil começou na metade do mês. Também não leva em consideração grandes lançamentos seguintes. Em maio, "Minecraft Dungeons" se tornou em alguns dias o jogo mais vendido no Switch. A indústria ainda aguarda a chegada de dois exclusivos do PlayStation 4, "The Last of Us Part 2", nesta sexta-feira (19), e "Ghost of Tsushima", em 17 de julho. Assista ao trailer de 'The last of us part 2' Foco e problemas de conexão Entre esses jogos, alguns dos mais esperados de 2020, há em comum o adiamento causado pela quarentena e a fase final de desenvolvimento realizada por meio de home office. Afinal, estúdios também tiveram de se ajustar ao isolamento social. "Foi desafiador, como foi para todos no mundo todo", diz ao G1 o diretor criativo de "Ghost of Tsushima", Nate Fox. Ele conta que, mesmo com o trabalho no game sobre um samurai no Japão feudal, o estúdio Sucker Punch mandou seus funcionários para casa na metade de março. "É mais fácil de focar no jogo, porque não há distrações, mas pode haver complicações, como a queda de uma conexão durante uma chamada de vídeo, por exemplo." 'Ghost of Tsushima' vai ser lançado dia 17 de julho Divulgação Problemas com a conexão são lembrados por um dos desenvolvedores do Camouflaj, desenvolvedora de "Iron Man VR". O jogo de realidade virtual para PlayStation 4 sobre o herói da Marvel vai ser lançado dia 3 de julho. "Um dos maiores vilões em relação ao desenvolvimento é o desafio para conseguir uma conexão decente da internet. E não poder testar o jogo, ir à mesa de alguém para testar é muito difícil", afirma o designer Ryan Darcey. "Mas agora confesso que já estou ficando acostumado a conseguir conversar assim com as pessoas. Tentar evitar mandar mensagens o máximo possível e se concentrar em manter a comunicação da melhor maneira que der." 'Iron Man VR' vai ser lançado dia 3 de julho Divulgação Prioridades A distância também foi uma preocupação para a Mojang e para a Microsoft, donos de "Minecraft Dungeons". "Não é só uma questão de pegar ou não a Covid-19, era sobre a saúde mental e emocional. Porque é realmente difícil trabalhar isolado quando você está acostumado a trabalhar em um ambiente com um time grande", conta a chefe de estúdio da franquia, Helen Chiang. Para a Naughty Dog, o adiamento e o trabalho remoto serviram ainda como uma oportunidade para acertar os últimos detalhes de "The Last of Us Part 2". O jogo é a aguardada continuação do sucesso de 2013, que apresenta um mundo distópico assolado por uma epidemia. "Há coisas nessa situação em que estamos que são assustadoras. Eu tenho familiares com quem estou contato constante para saber se estão bem", diz o diretor do game, Neil Druckmann. "Temos sorte, porque estávamos em uma etapa de produção na qual era fácil trabalhar de casa. Estávamos apenas consertando os defeitos. o jogo todo já estava lá. então falamos à nossa equipe para cuidarem de suas famílias, deles mesmos, porque tínhamos tempo para terminar. A família vem primeiro. E então conseguimos polir o game e terminar de casa." 'Minecraft Dungeons' leva franquia a masmorras de RPGs Divulgação
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Chico César festeja os 25 anos do primeiro álbum com edição em LP
Precoce 'greatest hits' do artista, o disco 'Aos vivos' apresentou ao Brasil em 1995 músicas como 'À primeira vista' e 'Mama África'. ♪ Chico César ainda era cantor e compositor conhecido somente em nichos do meio musical quando, entre 24 e 26 de junho de 1994, gravou ao vivo o primeiro álbum em três apresentações do show de voz e violão, feito pelo cantor na Sala Guiomar Novaes, da Funarte, com participações do guitarrista Lanny Gordin e de Lenine (ao violão). Essa gravação realizada na cidade de São Paulo (SP) – onde residia o artista nascido em janeiro de 1964 na interiorana cidade de Catolé do Rocha, na Paraíba – deu origem ao primeiro álbum de Chico, Aos vivos, lançado pela gravadora Velas em 1995 no formato de CD. Disco que se tornou precoce greatest hits do compositor por apresentar ao Brasil canções como À primeira vista, Béradêro (aboio que a rigor o compositor já registrara em disco editado em 1991 com músicas concorrentes de festival de alcance regional), Mama África, Templo, A prosa impúrpura do Caicó e Mulher eu sei, o álbum Aos vivos está sendo relançado em LP, neste mês de junho de 2020, em edição comemorativa de 25 anos. O LP Aos vivos chega ao mercado fonográfico através da cooperativa Três Selos, formada pela reunião do selos Assustado Discos, EAEO e Goma Gringa. Produto direcionado para colecionadores de discos, até pelo alto custo de R$ 150, a edição em LP de Aos vivos tem tiragem limitada, prensada com vinil de 180 gramas e pôster exclusivo. Das 15 músicas que compuseram o repertório do álbum Aos vivos, treze são de autoria de Chico César, sendo dez somente do compositor, uma em parceria com Itamar Assumpção (1949 – 2003) – Dúvida cruel, gravada no disco com o violão de Lenine, cujo toque também é ouvido nas músicas Dança e Nato – e duas com Tata Fernandes. As duas exceções são a regravação de Paraíba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947) – amplificada pelo toque da guitarra de Lanny Gordin, também presente na já mencionada A prosa impúrpura do Caicó – e Alma não tem cor, música de André Abujamra, também lançada naquele ano de 1995 pela banda Karnak. O álbum Aos vivos conserva há 25 anos o vigor que impulsionou a carreira de Chico César, uma das mais relevantes revelações da música brasileira na década de 1990.
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Dorgival Dantas lamenta São João adiado: ‘Poema mais bonito do mundo não enche barriga’
Ao G1, sanfoneiro e compositor lembra de tocar mais de 12 horas seguidas em festas juninas: 'Eram as leis da época, era como aqueles filmes de faroeste.' Ouça entrevista em podcast. Dorgival Dantas nasceu em Olho D'Água do Borges, sertão do Rio Grande do Norte, e ainda criança começou a tocar com seu pai, Cícero Dantas, nas fazendas e cidades da região. Sanfoneiro e compositor de grandes sucessos como "Coração", "Você Não Vale Nada" e "Destá", ele sabe bem do impacto da não realização das festas juninas para quem depende delas. "Rapaz, isso é mais ou menos como um pesadelo, um sonho ruim. Nesse momento são pessoas que não precisam só de uma palavra bonita, de um poema. O poema mais bonito do mundo não enche uma barriga", diz ao G1 (ouça no podcast abaixo). Ele diz que a preparação para o São João começa cedo e é muito esperada pelas pessoas. "Todos os anos quem mexe com isso, seja tocando, vendendo ou fazendo qualquer coisa, se programa o ano inteiro", explica. "São poucos dias de felicidade e quando passam, deixam um trocadinho, mas depois pensam 'vamos se preparar porque o próximo ano vai vir'". Dessa vez, não veio. As festas de São João de Caruaru foram canceladas em 2020 e as de Campina Grande foram adiadas para outubro por conta da pandemia do novo coronavírus. São João no sertão Dorgival tem várias passagens pelas grandes e tradicionais festas juninas do nordeste, mas gosta mesmo é de lembrar quando tocava com o pai, Cícero Dantas, a partir dos 13 anos. Dorgival Dantas durante show na Paraíba em janeiro de 2019 Igor do Ó/Divulgação Sem muita estrutura, o forró começava com caixas de som improvisadas e terminavam no "seco". "Só voz e sanfona mesmo puro e ninguém reclamava. A gente podia começar nessa época 19h mais ou menos e ia até 7, 8, 9, 10h da manhã", lembra Dorgival. Os longos shows aconteciam por conta da animação do público, mas também existia o fator do medo em alguns lugares. "Às vezes a gente ia tocar em um cantinho que a gente sabia que tinha que chegar calado e sair mudo, aí que a gente tocava mesmo. Não tinha esse negócio de intervalo", diz. "Naquela época no sertão, às vezes tinha um 'cabra' valente na região. Se você parasse era possível dizer: 'Parou por quê?'. Ah rapaz… Vamos tocar agora mesmo, até quem pode mandar se cansar e falar : 'Pronto. Agora pode ir pra casa. Tinha suas leis, eram as leis da época, era como aqueles filmes de faroeste." Ele fica nesse mês de junho cheio de saudade: "Quando eu olho para a sanfona, eu vejo meu pai, sinto meu São João. Eu volto ao passado sem sair do presente", conta. Mistura de gêneros no São João O saudosismo de Dorgival também é justificado pelo cenário musical das décadas de 80 e 90, em que ele ouvia Luiz Gonzaga tocado no rádio enquanto tomava café. "Vamos supor que tenha um programa duas horas hoje, talvez não se toque mais nem um forró de antigamente e talvez o que mais prevaleça sejam outras canções. Eu não gosto muito disso", confessa. A discussão da entrada de outros gêneros nas festas de São João, como o sertanejo e o eletrônico, não é nova entre os forrozeiros. "Eu sempre dizia uma coisa eu jamais vou torcer, pedir ou lutar contra que venha alguém de outra região, de outro estilo tocar. Agora lamento o forró não ter essa oportunidade lá fora em outros eventos sem ser só de forró", diz. Pioneiro em lives? Com os shows cancelados, os artistas precisaram se reinventar e as lives surgiram como forma de entreter o público e também de manter os patrocínios em dia. Para Dorgival, no entanto, o ato de ligar uma câmera de casa e cantar para o público na internet não é novo. "Eu botava a minha sanfona em cima de uma cadeira e dizia 'quando chegar a 5 mil eu começo a tocar ao vivo'. Ninguém fez isso, foi só Dorgival", diz e ri ao lembrar de 2011 e 2012. "Eu botei quatro hashtags em uma live só nos trends, aí veio o Justin Bieber para o Brasil e botou duas. Eu digo 'Um fio da égua desse botou duas, eu botei quatro e ninguém diz nada?'" Dorgival fez uma live no Dia dos Namorados, tem outra marcada para sexta (19) e também vai participar do São João com Wesley Safadão, Luan Santana e Saia Rodada no próximo sábado (20). Ele diz que sai de casa com medo, mas entende que a música pode ajudar as pessoas durante a pandemia. "Eu vou só me apegando com Deus e saio." "Mesmo não sendo cardiologista, acredito que minha sanfona, minha música e meu trabalho conseguem fazer bem para muitos corações. É muito bom saber que você consegue fazer o bem para as pessoas". Melhores momentos do show de Dorgival Dantas no São João de Campina Grande (PB) em 2017
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Flávio Venturini mostra ‘Uma cidade, um lugar’, retrato do disco ‘Paisagens sonoras’
Cantor mineiro vem lançando canções desde 2017 em singles que antecipam o repertório do primeiro álbum de músicas inéditas do artista em sete anos. ♪ Em novembro de 2019, ninguém vivia em isolamento social, mas Flávio Venturini se trancou no estúdio que mantém em casa, Close to home, batizado em tributo ao compositor e pianista norte-americano de jazz Lyle Mays (1953 – 2020), autor da música preferida de Venturini, intitulada justamente Close to home. A entrada em estúdio foi para gravar Uma cidade, um lugar, canção inédita composta pelo artista mineiro com letra do parceiro Murilo Antunes. Oito meses depois, essa canção ganhou o mundo em 8 de junho em single que antecipa mais uma faixa de Paisagens sonoras, o próximo álbum autoral de músicas inéditas deste cantor, compositor e pianista nascido em Belo Horizonte (MG). Balada melodiosa, típica do cancioneiro desse artista associado ao Clube da Esquina e projetado nos anos 1970 como vocalista do grupo 14 Bis, Uma cidade, um lugar é o quinto single do álbum Paisagens sonoras. Capa do single 'Uma cidade, um lugar', de Flávio Venturini Divulgação Gravado paulatinamente por Venturini deste 2017, o álbum Paisagens sonoras tem repertório composto por parcerias de Venturini com Ana Carolina (Amanhecer em julho), Ronaldo Bastos (Cais de Belém, lançada em single em setembro de 2019), Nilson Chaves (Lua de Marajó, apresentada em single editado em janeiro deste ano de 2020) Luiz Carlos Sá (Parfait amour), Hugo Lacerda (Vi no teu olhar, música lançada em single em abril de 2019), Lívia Serafim (Bolero de você) e Edmar Gonçalves e Marcos Lupi (Em cima do tempo – Fragmentos para tecer o tempo, canção que ofereceu a primeira amostra do álbum em single editado em novembro de 2017), entre outros nomes. Com repertório fiel ao tom pop lírico da obra do compositor, o disco Paisagens sonoras é o primeiro álbum de inéditas do artista desde Venturini (2013), disco editado há sete anos.
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O estrago da Covid-19 em cidades do Nordeste que cancelaram festa de São João: ‘É quando fazemos pé de meia para resto do ano’
Com pandemia de Covid-19, municípios do interior nordestino tiveram que cancelar ou adiar tradicional evento cultural e religioso, que gera milhares de empregos, movimenta turismo e injeta milhões de reis nas economias locais. "A festa de São João é a preservação da vida do nordestino. O que seria de um repórter sem a comunicação? O que é um médico sem paciente? O que seria de Caruaru sem o São João e sua cultura popular?". Quem questiona é Sebastião Alves Cordeiro Filho, o Mestre Sebá, ator e diretor do tradicional teatro de mamulengo (um tipo de fantoche). Mas neste ano, assim como outras cidades nordestinas, Caruaru não terá a tradicional festa anual de São João por causa das medidas de isolamento social que tentam conter a pandemia de Covid-19 — a cidade já registrou 82 mortes pela doença. Na festa de São João do ano passado, Caruaru recebeu 2 milhões de turistas, segundo a prefeitura Prefeitura de Caruaru/Divulgação O evento cultural e religioso, que dura todo o mês de junho, apresenta atrações, movimenta o turismo e a rede hoteleira, gera milhares de empregos e sustenta centenas de artistas locais, além de aumentar a arrecadação de impostos em municípios do interior, como Caruaru, Campina Grande (PB) e Mossoró (RN). "Não ter São João é algo inédito na minha vida. Não poder me apresentar, depois de 40 anos atuando, causa uma grande angústia", diz Mestre Sebá, de 63 anos, coordenador de uma trupe teatral com 65 pessoas, entre atores, técnicos e manipuladores de bonecos. O ator tem sobrevivido com R$ 1 mil por mês, dinheiro de uma bolsa paga pela prefeitura da cidade do agreste pernambucano, que o reconheceu como patrimônio vivo. "Mas muitos outros artistas estão passando grandes dificuldades", diz. Além dos laços afetivos e culturais, o São João tem grande peso econômico para os municípios. Segundo a prefeitura de Caruaru, o evento gera 20 mil empregos e movimenta cerca de R$ 200 milhões na economia local. Só em impostos, o município estima que vai deixar de arrecadar R$ 2 milhões apenas em junho — verba que poderia ser usada em diversas áreas, como saúde e educação. "A festa movimenta todos os setores da nossa economia. Dos repentistas aos trios de forró, da gastronomia à rede hoteleira, todo mundo depende do São João", diz Raquel Lyra (PSDB), prefeita de Caruaru desde 2017. Prefeitura de Caruaru criou uma campanha de doação de cestas básicas para artistas e comerciantes Prefeitura de Caruaru De fato, em junho do ano passado, o setor hoteleiro de Caruaru tinha quase 100% das vagas ocupadas para turistas — a prefeitura calcula que dois milhões de pessoas de fora visitaram o município durante o evento do ano passado. Mas desta vez, com o cancelamento da festa, a rede praticamente não tem hóspedes, segundo a prefeita. No ano passado, organizar o São João custou R$ 12 milhões. Segundo Lyra, a maior parte desse dinheiro foi arrecadado por meio de patrocínios de empresas privadas. "Antes da pandemia, já tínhamos captado R$ 7 milhões para o evento deste ano. Nosso objetivo é tornar a festa autossustentável", diz. Para a prefeita, ficar sem São João é como se uma parte do ano não existisse. "Em Caruaru, nós dividimos o ano em antes e depois do São João. Não ter a festa deixa um vazio muito grande, porque ele faz parte da nossa identidade, tanto na questão cultural quanto religiosa", afirma. A cidade de Campina Grande, na Paraíba, disputa com Caruaru o título de maior São João do Nordeste — e, neste ponto, não há muito consenso. No quesito econômico, porém, o município também está sofrendo com um mês de junho sem a festa, embora a prefeitura ainda queira realizá-la em outubro. "A gente estima que o São João movimente cerca de R$ 200 milhões todos os anos. São 5 mil empregos. É uma cadeia produtiva enorme, que sustenta muita gente: dos vendedores ambulantes à gastronomia local", diz Romero Rodrigues (PSD), prefeito da cidade. Campina Grande, que já flexibilizou a quarentena, registrou 69 mortes por Covid-19. Desde 2017, o município terceirizou a organização da festa. No ano passado, Campina Grande pagou, por meio de uma licitação, R$ 2,8 milhões para uma empresa organizar, contratar artistas e criar toda a estrutura do evento. Cachês altos Uma das recentes críticas ao São João é que prefeituras têm pagado altos cachês para artistas famosos que, muitas vezes, não têm grande relação com a cultura local, como nomes da música pop e do sertanejo. Por outro lado, há quem diga que a presença de celebridades nacionais leva mais turistas às cidades nordestinas. Em junho de 2016, por exemplo, o cantor Wesley Safadão recebeu R$ 575 mil para se apresentar no São João de Caruaru — o público foi de 100 mil pessoas. À época, a Justiça chegou a suspender o show depois de uma ação civil pública questionar o alto cachê, mas o concerto foi liberado. Dias depois, Safadão se apresentou em Campina Grande por um valor bem menor, R$ 195 mil. Diante das críticas, o músico afirmou que iria doar o dinheiro para a caridade. Mestre Sebá, ator e diretor do teatro mamulengo, se apresenta há mais de 30 anos no São João de Caruaru Prefeitura de Caruaru/Divulgação Um estudo da Universidade Potiguar apontou que, para cada R$ 1 que a cidade de Mossoró investiu no São João no ano passado, outros R$ 14 foram injetados na economia do município do semiárido do Rio Grande do Norte. Em Mossoró, 86 pessoas morreram de Covid-19. Segundo Lahyre Neto, secretário municipal de desenvolvimento econômico e de turismo, o São João movimentou R$ 94 milhões em 2019. "Neste mês, com a pandemia e o cancelamento do evento, esperamos uma queda de 30% na arrecadação", diz. O São João de Mossoró é conhecido pela tradicional festa Pingo da Mei Dia, que reúne trios elétricos e dezenas de milhares de pessoas, e pela peça Chuva de Bala, que encena a tentativa frustrada do cangaceiro Lampião de invadir a cidade, em 1927. "É um baque enorme não ter a festa, um vazio no coração do mossoroense. Toda a rede hoteleira está paralisada e demitindo funcionários, além dos comerciantes e dos artistas locais que dependem do São João para sobreviver no restante do ano", afirma Neto. Forró na sacada Em Mossoró, no semiárido do Rio Grande do Norte, festa de São João movimento R$ 94 milhões no ano passado Prefeitura de Mossoró/Divulgação Sem a renda do São João, alguns artistas têm lutado para sobreviver. Mossoró, por exemplo, publicou um edital de R$ 242 mil para produções de artistas locais durante a pandemia. Já a prefeitura de Caruaru criou uma campanha de doação de cestas básicas a artistas, artesãos e comerciantes que agora estão parados. Conhecido trio de forró em Caruaru, a banda Fole de Ouro é um dos grupos locais que está lutando para sobreviver em tempos de covid-19. No São João do ano passado, o trio realizou 42 shows em apenas um mês, o que dificilmente deve ocorrer nesta temporada. "A gente vive de música. É no São João que fazemos o pé de meia para o restante do ano", explica Karla Danielly de Melo, de 37 anos, produtora do Fole de Ouro e mulher do sanfoneiro do grupo, José Antônio da Silva Junior. Nas últimas semanas, o trio tem conseguido ganhar algum dinheiro se apresentando em condomínios residenciais de Caruaru. O grupo toca o forró no térreo — às vezes ao lado da piscina —, e o público dança nas sacadas do prédio. "Um morador, que estava estressado com o home office e com a pandemia, nos ligou e deu a ideia. Fizemos o primeiro show, e foi um sucesso. Até fiz um grupo no WhatsApp para os moradores pedirem as músicas que gostam", explica Karla. "Depois, pessoas de outros condomínios ficaram sabendo. Estão fazendo vaquinhas para nos contratar para outros shows. Isso não substitui o calor do público próximo, não substitui o vazio do São João cancelado. Mas é uma experiência interessante, é o que temos para hoje", diz a produtora. VÍDEO Brasil registra 729 mortes por Covid-19 entre domingo e segunda-feira PODCAST Initial plugin text
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Show de Bob Marley de 1977 é remasterizado e disponibilizado em plataforma de vídeos
Apresentação do músico com The Wailers realizada em Londres ganhou nova versão e faz parte de projeto para doações para profissionais da indústria musical afetados por pandemia de coronavírus. Show de Bob Marley de 1977 é remasterizado e disponibilizado em plataforma de vídeos Reprodução/YouTube Um show de Bob Marley & The Wailers realizado em 1977, em Londres, foi remasterizado e disponibilizado no canal do cantor no Youtube. O vídeo da apresentação da turnê "Live at the Rainbow" foi atualizado para a versão HD e faz parte de uma iniciativa para arrecadar doações para pessoas da comunidade da música que foram afetadas pela pandemia de coronavírus. "Junte-se a nós para esse especial Bob Marley & The Wailers e assista a festa que eles fizeram durante apresentação do show 'Live at the Rainbow', em junho de 1977, em Londres", cita o trecho de divulgação do vídeo. No início do mês, a banda The Wailers, que fez história no reggae ao tocar com Bob Marley entre 1972 e 1981, voltou a olhar para o futuro com a estreia de sua primeira música em 25 anos. Lançada em 22 de abril, "One world, one prayer" é o retorno do lendário grupo a produções inéditas, depois de anos cuidando de seu legado junto do cantor. "O som de Bob Marley e dos Wailers não tem categoria, não é velho e nem novo. Até hoje tentam imitar isso. Meu pai me disse que ele e o Bob sempre se mantinham atualizados, tanto em música quanto em tecnologia", afirmou o baterista Aston Barrett Jr. em entrevista ao G1. Confira entrevista completa.
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