‘Tenho vergonha de termos sido o último país a abolir a escravidão’, diz cineasta brasileiro em Paris
Pernambucano Luís Henrique Leal apresenta curta sobre escravidão na 16ª edição do 'Brésil en Mouvements', festival de cinema documentário brasileiro na França. Pernambucano do Recife, Luís Henrique Leal dirige, ao lado de Caio Zatti, o curta "Galinhas no Porto". O longa integra a seleção da 16ª edição do "Brésil en Mouvements", festival de cinema documentário brasileiro que acontece em Paris, organizado pela associação Autres Brésils.
Leal é professor de Fotografia e Tecnologia em Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Desde 2019, vive na Espanha, onde realiza um doutorado em Comunicação em Audiovisual na Universidade Autônoma de Barcelona.
RFI – "Galinhas no Porto" trata a questão da memória, e de uma memória que nos é muito sensível no Brasil, que é a escravidão, a condição do negro. Ou seria mais correto afirmar que o curta denuncia o desafio de se resgatar essa memória?
Luís Henrique – Existe um desafio para todo mundo que vive em um país como o Brasil, para todo mundo que tem alguma responsabilidade com a história, que é de desnaturalizar certas coisas que parecem que estão constituídas como normais. Existe uma dimensão da violência do passado, fantasmas do passado que continuam nos assombrando, feridas abertas desse passado, que estão muito presente ainda. O filme parte de um gesto de rememorar, a partir do que, em alguma medida, são ruínas desse passado, mas também permanece de uma forma muito forte. É um duplo gesto de desnaturalizar e rememorar, pensar como a gente lida criticamente com esse passado, para que a gente possa transformar isso.
A condição da escravidão, do colonialismo no Brasil, mudou de forma, mas a condição em que as populações negras vivem no Brasil ainda é muito perversa.
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RFI – O curta já passou pelo PriFilmFest, em Pristina, em Kosovo, antes de ser exibido em Paris. E chega ao festival em um momento em que o movimento antirracista passa por uma fase histórica. Como você vê essa contribuição do filme para o movimento?
Luís Henrique – As sessões de exibição do filme sempre são um espaço de debate, de diálogo, de aprendizado muito grande. O filme é baseado em uma pesquisa histórica, de documentos do passado em relação ao tráfico negreiro, em relação à violência policial, encarceramento da população negra. As sessões nos permitem discutir e perceber o impacto que o filme causa nas pessoas como uma contribuição, como se a cada sessão a gente conseguisse chegar a um lugar novo, que não é do filme propriamente, mas de um movimento que a gente cria em torno desses espaços. Diálogos que são tão importantes para que a gente consiga ganhar corpo e consciência, que são coisas fundamentais.
RFI – A condição do negro é um assunto recorrente na sua produção. O curta "Fotograma", de 2016, por exemplo, também em parceria com Caio Zatti, aborda o tema. Por que essa escolha?
Luís Henrique – Esse é um tema fundamental para todo mundo que vive em um país como o Brasil. Eu, por exemplo, sou professor na Universidade Federal do Recôncavo, que é uma universidade muito negra: 80% dos nossos alunos são negros ou pardos. Eu entro nesse universo um pouco motivado por esse interesse. É muito interessante ver uma juventude que está ganhando consciência da questão racial, passando a ter uma compreensão política sobre isso. Mas ao mesmo tempo, é um assunto que diz respeito a todos os brasileiros.
Eu tenho vergonha que a gente tenha sido, por exemplo, o último país a abolir a escravidão. É uma vergonha para o país que a polícia militar use um brasão da guarda real de 1809, que tinha como função principal capturar negros fugitivos. O papel da polícia era de capitão do mato.
E essas coisas permanecem no presente, quando ainda se tem um extermínio da população negra no país hoje. Só a polícia do Rio de Janeiro, por exemplo, mata mais do que toda a polícia dos Estados Unidos. A gente precisa ter um compromisso ético em transmitir certas ideias e ajudar a criar a discussão para que a gente promova a transformação estrutural nesse país. E lamentavelmente, nos últimos tempos, a gente está retrocedendo.
Em entrevista à BBC em 2018, a historiadora Lilia Schwarcz, autora dos livros 'O Espetáculo das Raças' e 'Racismo no Brasil', afirmou que o país foi o último do Ocidente a abolir a escravidão.
RFI – O filme trata as revoltas de negros escravos em outros países e como estas influenciaram o Brasil. Como você vê o movimento negro hoje no país?
Luís Henrique – Eu vejo com grande alegria [o fato] que este debate tenha ganhado muita força. Quando eu cursei minha graduação, era um momento em que ainda não havia cota racial no Brasil. Logo depois você tem a implementação da lei do sistema de cotas que vai criar uma massa de estudantes negros que vai entrar na universidade. E uma distorção da discussão abordava a questão da meritocracia do estudante negro e tal. Eu sempre defendi que era muito bom para a universidade, porque o Brasil precisa disso, a sociedade precisa disso, ter representatividade.
Você não pode ter uma população quase 50% negra e, no ensino superior, ter um gargalo absurdo. É preciso ampliar a multiplicidade de pessoas, de perspectivas, de pontos de vista, de histórias de vida. É maravilhoso que esse tema venha ganhando força.
As consciências se ampliam à medida que essas coisas ganham as ruas e a gente cria espaços de discussão para isso.
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Edeor de Paula, um homem forte como o sertanejo e o samba-enredo que o imortalizou no Carnaval de 1976
Edeor de Paula, compositor do samba-enredo 'Os sertões' Diego Mendes / Reprodução Facebook G.R.E.S. Em Cima da Hora ♪ OBITUÁRIO – Vinte anos se passaram entre a alegria sentida em 1955 por Edeor José de Paula (16 de dezembro de 1932 – 1º de outubro de 2020) ao ter a primeira música gravada em disco – Sofrer como eu, parceria com Renato Aráujo lançada na voz da cantora Marly Sorel – e a inspiração do compositor para criar em 1975 o samba-enredo, Os sertões, que poria o nome de Edeor na história da música brasileira. Apresentado pela escola de samba Em Cima da Hora no Carnaval carioca de 1976, Os sertões é samba-enredo de melodia e poesia fortes como o sertanejo. Revivido pela Em Cima da Hora no Carnaval de 2014, ano em que a agremiação reapresentou o enredo de 1976, Os sertões figura em qualquer antologia do gênero, como vendo sendo realçado nos obituários do criador do samba. Edeor José de Paula morreu na manhã de quinta-feira, 1º de outubro, aos 87 anos. Saiu de cena pobre, em hospital da zona oeste da cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), vítima de parada cardíaca decorrente de insuficiência renal. Tivesse nascido em outro país, talvez Edeor de Paula tivesse recebido mais dinheiro, além da flores que lhe foram entregues em vida pela criação do samba-enredo inspirado no livro Os sertões (1902), obra-prima do escritor fluminense Euclides da Cunha (1866 – 1909) sobre a Guerra de Canudos, travada entre 1896 e 1897 no interior da Bahia. Contudo, o fato tristemente curioso é que a consagração do samba-enredo Os sertões jamais mudou a vida do compositor sob o prisma financeiro ou mesmo artístico. Os sertões ganhou vozes como as dos cantores Elymar Santos, Emílio Santiago (1946 – 2013), Fagner, Fernanda Abreu, Mestre Marçal (1930 – 1994) e Neguinho da Beija-flor em registros fonográficos feitos para discos lançados entre 1975 e 2008. Sem falar na gravação do Conjunto Nosso Samba, lançada ainda em 1975. Já o compositor jamais ganhou a alegria de ter outras músicas gravadas fora do universo do samba-enredo. Curiosamente, a discografia de Edeor de Paula como compositor foi mais regular antes da glória obtida com Os sertões. Em 1968, por exemplo, a cantora Marlene (1922 – 2014) gravou Tira a mão, parceria de Edeor com Waldir Ferreira. De todo modo, o único sucesso do autor foi mesmo Os sertões, primeiro samba-enredo que Edeor compôs – sozinho, integrando a melodia inspirada com a letra que retratava poeticamente a epopeia de Canudos – quando ainda trabalhava como mecânico hábil no conserto de carros do Exército. Edeor José de Paula foi homem forte como o sertanejo que poetizou no samba-enredo antológico do Carnaval de 1976.
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Músicas para descobrir em casa – ‘Saudade’ (Chico César e Paulinho Moska, 2009) com Maria Bethânia e Lenine
Capa de 'Tua', álbum de Maria Bethânia Beti Niemeyer ♪ MÚSICAS PARA DESCOBRIR EM CASA – Saudade (Chico César e Paulinho Moska, 2009) com Maria Bethânia e Lenine ♪ Embora tenha entrado em cena na década de 1980, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), como integrante do grupo vocal Garganta Profunda e depois como vocalista da banda Inimigos do Rei, Paulo Corrêa de Araújo – Paulinho Moska ou simplesmente Moska, como figura nos créditos dos discos e shows – cresceu e apareceu de fato ao longo dos anos 1990. Em carreira solo desde 1992, Moska foi construindo e maturando o cancioneiro autoral a partir do álbum solo Vontade (1993). Moska é contemporâneo de Chico César e de Lenine, cantores e compositores que também entraram em cena nos anos 1980, mas despontaram somente na década de 1990. Por isso mesmo, a gravação de Saudade – primeira e única parceria de Moska com Chico César – é especialmente relevante, e não somente por conta da beleza da canção em si, mas por reunir o trio. Composta em 2008, a música foi lançada por Maria Bethânia no ano seguinte, no álbum Tua (2009), em gravação feita pela cantora com Lenine. No arranjo do violonista Jaime Alem, então diretor musical de Bethânia, Saudade foi transposta para o universo musical ruralista por conta do toque da viola caipira de Alem. O acordeom de Toninho Ferragutti acentuou o toque rural da faixa. Em primeiro plano, com emissões límpidas, as vozes de Bethânia e Lenine se alternaram no canto das estrofes da letra que alinha sucessivas definições poéticas para caracterizar a saudade, mote dos versos da canção. Saudade foi regravada por Moska no álbum Pouco, lançado em 2010, mesmo ano em que Bethânia apresentou registro ao vivo solo da música no álbum ao vivo e DVD Amor, festa, devoção. Três anos depois, Moska também apresentou gravação ao vivo de Saudade no CD e DVD Muito pouco para todos (2013). Curiosamente, Chico César nunca registrou Saudade na própria discografia. ♪ Ficha técnica da Música para descobrir em casa 42 : Título: Saudade Compositores: Chico César e Paulinho Moska Intérprete original: Maria Bethânia com participação de Lenine Álbum da gravação original: Tua Ano da gravação original: 2009 Regravações que merecem menções: a da própria Maria Bethânia no álbum ao vivo e DVD Amor, festa, devoção (2010) e as de Moska no álbum Pouco (2010) e no CD ao vivo e DVD Muito pouco para todos (2013). ♪ Eis a letra da música Saudade : “Saudade, a lua brilha na lagoa Saudade, a luz que sobra da pessoa Saudade igual farol, engana o mar, imita o sol Saudade, sal e dor que o vento traz Saudade, o som do tempo que ressoa Saudade, o céu cinzento, a garoa Saudade desigual Nunca termina no final Saudade, eterno filme em cartaz A casa da saudade é o vazio O acaso da saudade, fogo frio Quem foge da saudade Preso por um fio Se afoga em outras águas Mas do mesmo rio”
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Alaíde Costa faz ‘Outra viagem’ em álbum com músicas de José Miguel Wisnik
♪ Em 1968, o compositor, pianista e cantor José Miguel Wisnik tinha 20 anos e dava os primeiros passos musicais na cidade de São Paulo (SP) quando Alaíde Costa defendeu composição de autoria do artista nascido em São Vicente (SP) em 1948. Classificada em 4º lugar na disputa paulistana do I Festival Universitário de Música Popular Brasileira, exibido pela TV Tupi, a canção Outra viagem ficou esquecida por 30 anos até que Ná Ozzetti a gravou no álbum Estopim (1999). Mas eis que, 52 anos após o festival, Outra viagem entra novamente no destino de Alaíde Costa. A composição Outra viagem integra o repertório do álbum que está sendo gravado por Alaíde na cidade de São Paulo (SP), pelo Selo Sesc, com 10 músicas de José Miguel Wisnik, sendo que duas são inéditas. Alaíde já entrou em estúdio para pôr voz nas composições selecionadas para o disco, previsto para ser lançado em dezembro deste ano de 2020, por ocasião dos 85 anos da cantora. Até então, Alaíde Costa tinha gravado em disco somente uma música de Wisnik, Fim do ano (1997), parceria do compositor com Swami Jr. abordada pela cantora em álbum, Porcelana (2015), dividido com o cantor Gonzaga Leal. Mas cabe lembrar que, em show feito pela artista em 1997, com curadoria de Wisnik, Alaíde cantou Orfeu (1988) e Laser (Wisnik e Ricardo Breim, 1992). Enquanto o songbook com músicas de Wisnik é finalizado, Marcus Preto continua reunindo repertório inédito para um outro álbum de Alaíde Costa, projeto arquitetado por Preto com Emicida. Os compositores Francis Hime, Guinga, Ivan Lins, Joyce Moreno e Marcos Valle já mandaram melodias para esse disco, cujas letras deverão vir assinadas por Emicida. Esse segundo álbum da cantora deve ser concretizado em 2021.
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G1 Ouviu #109 – Segredos do RBD: bastidores do passado e do futuro do grupo
G1 conversa com criadores da novela e das primeiras músicas do Rebelde e investiga desde o nascimento do fenômeno até a volta na era do streaming e das lives Você pode ouvir o G1 ouviu no G1, no Spotify, no Castbox, no Google Podcasts ou no Apple Podcasts. Assine ou siga o G1 Ouviu para ser avisado sempre que tiver novo episódio no ar. O que são podcasts? Um podcast é como se fosse um programa de rádio, mas não é: em vez de ter uma hora certa para ir ao ar, pode ser ouvido quando e onde a gente quiser. E em vez de sintonizar numa estação de rádio, a gente acha na internet. De graça. Dá para escutar num site, numa plataforma de música ou num aplicativo só de podcast no celular, para ir ouvindo quando a gente preferir: no trânsito, lavando louça, na praia, na academia… Os podcasts podem ser temáticos, contar uma história única, trazer debates ou simplesmente conversas sobre os mais diversos assuntos. É possível ouvir episódios avulsos ou assinar um podcast – de graça – e, assim, ser avisado sempre que um novo episódio for publicado. G1 ouviu, podcast de música do G1 G1/Divulgação
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‘Felicidade’, para Elba Ramalho, é um xote que emana boas vibrações
Cantora revive música de Marcelo Jeneci e Chico César no terceiro single do álbum 'Eu e vocês'. Capa do single 'Felicidade', de Elba Ramalho Divulgação Resenha de single Título: Felicidade Artista: Elba Ramalho Compositores: Marcelo Jeneci e Chico César Gravadora: Acauã Cotação: * * * 1/2 ♪ Ao lançar o viçoso álbum O ouro do pó da estrada (2018), Elba Ramalho apresentou Oxente, arretado baião de autoria de Marcelo Jeneci e Chico César. Dois anos depois, a cantora dá voz a uma outra parceria dos compositores. A gravação de Felicidade é a terceira amostra do 39º álbum da artista, Eu e vocês, produzido por Luã Yvys e previsto para ser editado em 2021 com 12 músicas que serão lançadas paulatinamente em singles. Composição que há dez anos abriu o arrebatador primeiro álbum de Jeneci, Feito pra acabar (2010), e que já foi regravada por Amelinha no álbum Janelas do Brasil (2011), Felicidade é canção de exemplar leveza pop que emana boas vibrações. Letra e melodia parecem dançar na chuva em perfeita sincronia. Na imbatível gravação original de Jeneci, feita pelo artista com a adesão vocal de Laura Lavieri, as cordas orquestradas por Arthur Verocai contribuíram para criar atmosfera de frescor, sugerindo um mundo em harmonia interior. Na voz de Elba, Felicidade conserva essa leveza e tende para o xote no balanço da sanfona. Efeitos espaciais encorpam o arranjo sem diluir a energia positiva desse registro fonográfico de Elba, antecedido pelos singles com as gravações do samba de sintaxe forrozeira Maçã do rosto (Djavan, 1976) e do inédito xote Ainda tenho asas (composta e gravada com Luã Yvys). Outros singles, com as abordagens de Sintonia (Moraes Moreira, Fred Góes e Zeca Barreto, 1986) e da inédita música-título Eu e vocês (Juliano Holanda e Zélia Duncan), serão lançados por Elba até o fim deste ano de 2020, dando outros aperitivos do álbum gravado no estúdio montado pela cantora na casa em que mora na cidade do Rio de Janeiro (RJ). E, pelo visto e ouvido até o momento, felicidade para Elba Ramalho é um xote cheio de boas vibrações e mensagens de fé na vida com o recado de que, mesmo que esteja momentaneamente coberto por nuvens, o sol há de voltar a brilhar.
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Lucas Lucco e Lorena Carvalho fazem chá revelação: ‘Meu parceirinho tá vindo’
Cantor e a mulher levaram banho de tinta durante evento para a descoberta do sexo do bebê. Lucas Lucco e Lorena Carvalho fazem chá revelação Reprodução/Instagram Lucas Lucco e Lorena Carvalho anunciaram que serão pais de um menino. Na tarde deste sábado (3), o casal realizou um chá revelação e tomou um banho de tinta no momento de descobrir o sexo do bebê. "Meu parceirinho tá vindo! Que Deus abençoe com muita, muita, muita saúde, e que não puxe o nariz do pai. Amém", escreveu Lucco em suas redes sociais. Lorena também fez algumas publicações e escreveu: "Não tava me aguentando de ansiedade pra contar pra vocês. Meu mundo azul". Lucas anunciou que Lorena estava grávida em meados de setembro. Eles se casaram dias antes do anúncio em uma cerimônia intimista, após adiarem os planos de uma festa por conta da pandemia de coronavírus. Em outubro de 2019, Lorena sofreu um aborto espontâneo quando estava na 10ª semana de gestação. Initial plugin text Initial plugin text
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Zuza Homem de Mello: famosos lamentam morte do escritor e musicólogo
João Bosco, Chico César e outros artistas deixaram mensagens em homenagem a Zuza nas redes sociais. Segundo informações da família, ele sofreu um infarto enquanto dormia. Zuza Homem de Mello, em foto de agosto de 2015 Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo/Arquivo João Bosco e outros famosos usaram as redes sociais para lamentar a morte de Zuza Homem de Mello, aos 87 anos. O escritor, jornalista e musicólogo sofreu um infarto enquanto dormia, conforme informou sua família. "Nos melhores momentos, a gente aproveita a pessoa e não se preocupa com a qualidade da foto. Meu grande amigo se foi. Um brasileiro imenso, profundo conhecedor e apaixonado por nossa música. O mais importante pesquisador cultural que já tivemos. Sentirei muita saudade. Descanse em paz, Zuza", escreveu João Bosco em seu Instagram. Initial plugin text Chico César, cantor "Ah, Zuza! Meu amigo, mestre. Grato pela sua vida tão generosamente musical. Fico com seu abraço, seu afeto, sua sabedoria de bem viver em troca e consonância. Ouvidos e coração abertos, é certo. Sempre." Initial plugin text Morre aos 87 anos Zuza Homem de Mello Walcyr Carrasco, escritor e dramaturgo "Triste domingo! Perdemos o jornalista e escritor Zuza Homem de Mello, um dos maiores nomes da produção, pesquisa e história musical no Brasil. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos e fãs. Vá em paz, Zuza." Initial plugin text Paula Lima, cantora "E a história da música brasileira se confunde com a história dele… Zuza Homem de Mello, gentil, amado, apaixonado por música e por gente! Quantos encontros deliciosos!!! Era uma felicidade quando cantando te 'avistava' nos shows… com esses olhinhos sorridentes e brilhantes! Obrigada por tantas idéias, carinho! Que sorte e que prazer o meu, ter a felicidade de estar junto em uma temporada de shows, onde você me convidou. Tão generoso! Você olhou pra mim, ouviu, me viu, abraçou, acreditou! Obrigada por tanto conhecimento compartilhado, pela simpatia, carisma! Pura serenidade, vibração, astral em uma grande história! Já tenho saudade de tanto!" Initial plugin text Pedro Luiz, músico "Ah, Zuza.. Vai fazer falta!" Initial plugin text Yamandu Costa, violinista "Perdemos um cavalheiro. Figura que amava o Brasil mais bonito, ajudou a criar esse lugar que tentamos manter e nos é tão profundo. Zuza Homem de Mello deixa o exemplo do incansável, da sensibilidade e dedicação à cultura do nosso país. Que em paz descanse e meus sentimentos à família." Initial plugin text Daniel Ganjaman, produtor musical "A primeira vez que estive com Zuza Homem de Mello foi com o Instituto num projeto de sua curadoria. Fiquei impressionado com a pesquisa aprofundada que ele fez pra me entrevistar e todas as vezes que nos encontramos, sempre muito atencioso e gentil. Descanse em paz, mestre." Initial plugin text João Sabiá, ator e cantor "Essa foto foi feita no antigo endereço da Trama. Neste dia um pouco mais cedo, meu amigo João Marcelo Bôscoli me ligou e disse: 'Acho melhor dar uma passadinha aqui por que tem alguém que você vai gostar muito de conhecer'. Foi amor 'a primeiro papo'. E ainda pude cantar algumas coisas pra ele." Initial plugin text MC Max B.O., músico "Zuza Homem de Mello, obrigado por seu legado, pelo que fez, deixou e principalmente pelas conversas que tivemos, foram extremamente importantes. Vai em paz, mestre." Initial plugin text Cainã Cavalcante, músico Initial plugin text Anna Seton, cantora e compositora "Acordei hoje com a notícia da passagem do Zuza. Um dos maiores conhecedores e pesquisadores da música brasileira , tive o prazer e a honra de trabalhar com ele este ano e no ano passado. Foram dias alegres e cheios daquela energia de quem respirou música durante uma vida. Generoso e vibrante, um presente ter convivido com você em estúdio e no palco." Initial plugin text Zuza Homem de Mello analisa os rumos da MPB e fala sobre livro
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Arnaldo Antunes inaugura uma nação musical em show com o pianista Vitor Araújo
Artista atinge alto grau de beleza plástica e poética ao interagir com o virtuoso instrumentista no espetáculo 'O real resiste'. Vitor Araújo e Arnaldo Antunes em cena no show 'O real resiste' Reprodução / Vídeo Resenha de show transmitido online através do projeto #SescEmCasa Título: O real resiste Artista: Arnaldo Antunes – com o piano de Vitor Araújo Local: Teatro do Sesc Pompeia (São Paulo, SP) Data: 3 de outubro de 2020, das 19h às 20h30m Cotação: * * * * 1/2 ♪ Show disponível para streaming no YouTube do Sesc São Paulo. ♪ Nos versos poéticos de João (2019), canção que assina com o compositor e violonista Cezar Mendes, Arnaldo Antunes sintetizou a grandeza de João Gilberto (1931 – 2019) ao sustentar que o criador da bossa nova fundou uma civilização com a voz e o violão aperfeiçoados pelo silêncio. Na estreia do show O real resiste, feito por Arnaldo com o pianista Vitor Araújo e transmitido online (com imagens de acabamento cinematográfico) do palco do Sesc Pompeia, na cidade de São Paulo (SP), o próprio artista paulistano inaugurou uma nação musical ao remodelar a própria obra em apresentação no inédito (para o artista) formato de voz & piano. E que piano! Aos 60 anos, Arnaldo Antunes encontrou em Vitor Araújo – prodígio pernambucano nascido em 1989 no Recife (PE) – um parceiro ideal para a exposição do pensamento que propaga desde os anos 1980 em obra construída com doses de música e poesia, às vezes com mais poesia do que música. Vitor Araújo em momento simbiótico com o piano no show 'O real resiste' Reprodução / Vídeo Se Arnaldo Antunes pega o ouvinte-espectador pela palavra, Vitor Araújo habita universo particular que, em fricção com a música do titã, deu frescor ao verbo do pensador em show de poesia potencializada pelas imagens abstratas projetadas por Marcia Xavier – que entrou em cena como cantora para dar voz com Arnaldo a Luar arder (2010), canção da qual é coautora – e pela luz climática de Ana Turra. Formatado sob direção musical dos dois artistas, o show O real resiste resultou tão sedutor – e inovador pela interação verdadeira de Arnaldo com Vitor – que conseguiu a proeza de diluir em cena as imperfeições melódicas do repertório autoral do álbum O real resiste (2020). Vestindo terno, Arnaldo Antunes soube se adaptar ao universo musical de Vitor Araújo ao mesmo tempo em que jamais deixou que a poética da própria obra fosse sobrepujada pela maestria heterodoxa do instrumentista. Expoente contemporâneo da música instrumental brasileira, o pianista vem quebrando as historicamente frágeis fronteiras entre a música popular e a música dita erudita com pulso frenético. Músico que sempre foi de Villa-Lobos (1887 – 1959) a Radiohead, passando pelo conterrâneo Luiz Gonzaga (1912 – 1989), Araújo demole esses muros com a mesma virulência com que martela a madeira do piano Yamaha para tirar sons percussivos do instrumento, como visto e ouvido em No fundo (Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra, 1995), música que soou quase como rap na sintaxe de Arnaldo. Contudo, já na abertura do show, o instrumentista foi capaz de traduzir, no toque do piano, o minimalismo exigido pela já mencionada canção João. Em roteiro musical intercalado por poemas muitas vezes sussurrados por Arnaldo, canções se irmanaram com rocks em atmosfera que por vezes evocou a música inclassificável de John Cage (1912 – 1992) sem jamais deixar de evidenciar o traço de originalidade dos dois artistas. Arnaldo Antunes canta 'Bandeira branca' no show 'O real resiste' Reprodução / Vídeo E que canções! Meu coração (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009), De outra galáxia (Arnaldo Antunes e Marcia Xavier, 2020) – em link espacial com Contato imediato (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2006) que abduz pela apaixonante beleza romântica dos números – e a caymminiana Itapuana (Arnado Antunes e Cezar Mendes, 2004) se banharam na delicadeza melódica. Em contrapartida, Arnaldo pecou pelo excesso na desconstrução de Vilarejo (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Pedro Baby, 2006), canção sussurrada, quase recitada, que se tornou o único ponto a ser ajustado no roteiro. Ao misturar as cores de Lua vermelha (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, 1996) e de Bandeira branca (Max Nunes e Laércio Alves, 1969), marcha gravada pelo cantor para a trilha sonora do filme Gêmeas (1999) e interpretada no show com Vitor Araújo no devido tom introspectivo, sem qualquer alusão à origem carnavalesca do tema, Arnaldo Antunes mostrou que a obra do artista continua em movimento. Da aura punk do rock Saia de mim (Titãs, 1991) à suavidade da paisagem solitária vislumbrada em Alta noite (Arnaldo Antunes, 1993), passando pela força vital de O pulso (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989), Arnaldo Antunes se irmanou com Vitor Araújo – pianista de meias verdes e mãos ora ternas, ora nervosas, que pareceu perceber o instrumento como extensão do próprio corpo – em show capaz até de harmonizar imperfeições. A beleza pensante de Arnaldo Antunes resiste em meio ao horror do Brasil de 2020, apontando os alicerces de outra civilização. Arnaldo Antunes em cena no show 'O real resiste', apresentado em 3 de outubro Reprodução / Vídeo
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Kenzo Takada, estilista japonês, morre vítima da Covid-19
Segundo informou seu porta-voz, o estilista de 81 anos morreu neste domingo (4), no Hospital Americano de Neuilly-sur-Seine Kenzo Takada, em foto de novembro de 2018 Joel Saget/AFP/Arquivo O estilista japonês Kenzo Takada, criador da marca de roupas e perfumes "Kenzo", faleceu neste domingo (4), aos 81 anos, vítima da Covid-19, anunciou seu porta-voz. Primeiro estilista japonês a fazer sucesso em Paris, onde desenvolveu toda sua carreira e tornou seu nome famoso, Kenzo Takada faleceu no Hospital Americano de Neuilly-sur-Seine, na França. Nascido em 27 de fevereiro de 1939 em Himeji, perto de Osaka, Kenzo se apaixonou ainda jovem pelos desenhos e a costura, ensinado por suas irmãs. Ele chegou de navio ao porto francês de Marselha em 1965 e ficou fascinado por Paris. Embora estivesse de passagem, ele se mudou em definitivo para a capital francesa. Sua primeira coleção foi lançada em 1970 e seis anos depois ele criou a própria marca, apenas com seu primeiro nome. Lançou a primeira linha masculina em 1983, o primeiro perfume cinco anos depois. Em 1993, a empresa foi adquirida pelo grupo de luxo LVMH. O estilista japonês Kenzo Takada durante sessão de fotos em Paris, em 9 de janeiro de 2019 Joel Saget /AFP/Arquivo Kenzo Takada se aposentou da moda em 1999 após vender seu império para o conglomerado de luxo LVMH. Desde então, passou a se dedicar a projetos mais pontuais, como o design de interiores. Em 2009, Kenzo se desfez de várias peças de sua casa parisiense em um leilão. O estilista decidiu se desfazer da maior parte de suas coleções quando resolveu se mudar da espaçosa, cheia de andares e moderna casa em Paris para um flat 80% menor. Com "quase oito mil desenhos", o japonês "nunca deixou de celebrar a moda e a arte de viver", afirmou seu porta-voz. O estilista japonês Kenzo Takada durante sessão de fotos em Paris, em 9 de janeiro de 2019 Joel Saget/AFP/Arquivo
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