Sem emprego nem auxílio: o Brasil que enfrentará a fome na contramão da recuperação do PIB
Ao mesmo tempo em que indicadores apontam para o início da saída da crise econômica, a taxa de brasileiros vivendo em situação de pobreza extrema pode dobrar e atingir uma proporção entre 10% e 15% no começo de 2021, segundo projeção do economista Daniel Duque, pesquisador do Ibre-FGV. Pobreza extrema deve atingir, em janeiro, uma taxa entre 10% e 15% da população brasileira Getty Images via BBC Ao mesmo tempo em que a economia brasileira dá os primeiros passos para sair do buraco, um cenário bem diferente se desenha para o ano novo dos brasileiros mais pobres. A falta de emprego e o fim do auxílio emergencial compõem a fórmula que levará mais brasileiros a caírem em situação de extrema pobreza no começo de 2021, segundo especialistas em economia e transferência de renda. A pobreza extrema deve atingir, em janeiro, uma taxa entre 10% e 15% da população brasileira, de acordo com projeção calculada pelo economista Daniel Duque, pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a pedido da BBC News Brasil. Isso significa que a proporção de brasileiros vivendo na extrema pobreza (ou seja, com menos de US$ 1,90 por dia) pode dobrar em relação a 2019, quando a taxa foi de 6,5% da população — ou 13,7 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a pobreza (quem vive com menos de US$ 5,50), Duque projeta que a taxa ficará entre 25% e 30% no começo do ano que vem. Em 2019, ela foi de 24,7%, ou mais de 51 milhões de brasileiros. "A taxa de pobreza extrema será muito alta devido a dois fatores: a população mais pobre depende basicamente de programas sociais e do mercado de trabalho, que foi muito impactado negativamente para ocupações de menor escolaridade e rendimento", diz Duque. O economista explica que a projeção considera o fim do auxílio emergencial e pressupõe um reajuste de 15% no Bolsa Família. O governo do presidente Jair Bolsonaro chegou a considerar a criação de um novo programa, que ganhou até nome: Renda Brasil. A expectativa era de que ele fosse uma reformulação de programas sociais e que substituísse o auxílio emergencial, criado no contexto da pandemia de covid-19 e considerado fundamental para a proteção da população mais vulnerável nesse período. Embora batizado, esse programa não chegou a virar uma proposta de fato. E o governo também avisou que não vai prolongar o pagamento do auxílio emergencial. Bolsonaro afirmou, em entrevista à Band na terça-feira (15/12), que não haverá prorrogação do auxílio ou a criação de um novo programa e disse que quer "tentar aumentar um pouquinho" o Bolsa Família. O presidente defendeu que não pode haver desequilíbrio nas contas. "Eu tenho pena, tenho compaixão da população, dos mais humildes, mas se o Brasil se desequilibrar com nova prorrogação do auxílio emergencial, tudo pode ir embora." "O legado que podemos deixar na economia para o povo é uma economia estável", disse Bolsonaro. "Quem dá emprego não sou eu. Eu só dou emprego quando crio cargos ou faço concurso público. Fora isso, é o empresariado." Sem emprego e sem movimento Se houvesse perspectiva de um mercado de trabalho aquecido, que pudesse absorver a mão de obra dos trabalhadores mais afetados pela pandemia, o cenário não seria tão ruim. Mas não é o que se espera, como aponta Duque. "Um dos impactos bastante previsíveis é que muitas pessoas que tinham deixado de procurar emprego devido à pandemia vão acabar voltando. Com isso, a taxa de desemprego vai aumentar, porque nem todo mundo vai encontrar emprego." Além de o fim de 2020 não prometer as antes tão comuns contratações de fim de ano, Duque lembra que o começo de ano é tradicionalmente pior para o emprego. "A taxa de desemprego no primeiro trimestre geralmente é a mais alta do ano, o que vai se somar a esses fatores negativos", diz. E mesmo quem ganha a vida com alguma atividade informal depende de uma economia aquecida e de trabalhadores circulando. Antes da pandemia, Vanda Sousa, de 44 anos, trabalhou por três anos, de segunda a sábado, vendendo lanches (café, tapioca, chá, suco, bolo) no bairro Couto Fernandes, em Fortaleza. Mãe de dois filhos que dependem dela, Vanda passou a contar com a ajuda do auxílio emergencial durante a pandemia. Conseguiu comprar comida, pagar gás e luz, além do remédio para diabetes, que "sempre está em falta no posto de saúde". Agora, sem perspectiva de receber o auxílio, está preocupada com o começo do ano porque os clientes dela são exatamente as pessoas que trabalham na região, que não é mais tão movimentada quanto antes. "Eu estou pensando como vai ser, porque janeiro vai começar e nada de emprego. Como vendo merenda na beira de uma pista que tem sucata (oficinas e lojas de autopeças), quando fecha, eu já não vendo. E se eu cozinhar para não ter pra quem vender, aí que perco totalmente", diz. "Até então a pandemia continua aqui. E ainda tem muita coisa fechada, tá muito difícil mesmo." Um estudo aponta que quase 5 milhões de crianças vivem ameaçadas pela pobreza extrema no país 'Baque muito grande' O problema não é apenas o auxílio emergencial chegar ao fim, mas também o fato de o corte ser considerado brusco. Quem estuda programas de transferência de renda aponta que o mais indicado seria ter feito uma redução gradual no valor para facilitar a adaptação das famílias e incorporá-las a outro programa social. A socióloga Letícia Bartholo, especialista em programas de transferência de renda, aponta que o auxílio, para muitas pessoas, "é uma questão de sobrevivência". "Idealmente, haveria um processo de saída paulatina do auxílio — ou seja, com redução desses R$ 300 ao longo dos meses, até pra avaliar em qual tempo será a retomada econômica — e essas pessoas, conforme a renda, seriam incorporadas ao Bolsa Família ou a alguma iniciativa de transferência de renda não contributiva", diz ela. No entanto, da forma como está, Bartholo define a situação dos brasileiros mais pobres no ano novo como "um buraco". "O cenário para janeiro de 2021 para as pessoas mais vulneráveis é um buraco. Eu sinto muito que assim seja, mas infelizmente o Estado brasileiro não foi capaz de coordenar alguma solução." Duque também aponta que deveria ter sido criado, durante o segundo semestre deste ano, uma expansão permanente nos programas sociais. "Foi desperdiçado um tempo importante em que a gente poderia ter feito com que a partir de janeiro as famílias que tivessem algo que fosse minimamente compensar o fim do auxílio. Vai ser um baque muito grande. Além da questão do auxílio acabar, a transição é muito repentina", diz o economista. "O ideal teria sido uma transição mais suave, com benefício se reduzindo ao longo do tempo. Acabou que essa não foi a opção do governo." As primeiras parcelas do benefício foram de R$ 600. Inicialmente, o governo propôs pagar R$ 200 mensais, mas o Congresso ampliou o benefício a ser pago a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados que cumprem determinados requisitos, como renda familiar per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50) ou com renda total de até três salários mínimos (R$ 3.135). Em setembro, foi anunciada uma prorrogação do benefício, mas com redução do valor para R$ 300. Inflação mais alta A alta nos preços já vem sendo sentida pelas famílias pobres e deve continuar no início do próximo ano. "O poder de compra de quem está recebendo auxílio caiu muito, porque ele não é reajustado e a inflação está mais forte para alimentos e bens e serviços que são mais consumidos pela classe baixa", explica Duque. De janeiro a novembro de 2020, a inflação para as famílias de renda mais baixa foi de 4,56%, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda. No mesmo período, a alta inflacionária para as famílias mais ricas foi de 1,68%. O principal motivo para esta diferença está no forte aumento dos preços dos alimentos em domicílio. Até setembro, a inflação para as famílias mais pobreza chegava a ser dez vezes maior que para as mais ricas. Recuperação econômica Ao mesmo tempo em que se desenha esse cenário para as famílias mais vulneráveis, há outros indicadores que apontam para o Brasil, de forma geral, começando a sair da crise econômica. O IBC-Br, índice do Banco Central que é considerado uma espécie de "prévia" informal do Produto Interno Bruto (PIB), teve em outubro a sexta alta consecutiva, de 0,86% na comparação com setembro. Em relação a outubro de 2019, no entanto, houve queda de 2,61%. Isso indica uma recuperação, mas ainda longe da situação pré-pandemia. Depois da divulgação de um aumento de 7,7% no PIB do terceiro trimestre, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que a economia estava "voltando em V" — termo utilizado para indicar uma recuperação intensa após uma grande queda na atividade. Na verdade, embora tenha mostrado um aumento em relação ao trimestre anterior — fortemente afetado pela pandemia —, o resultado ficou abaixo das expectativas dos economistas do mercado e do próprio governo. "A economia estar melhorando não significa que estará no nível de antes da pandemia. Mas, sem dúvidas, no ano que vem, enquanto boa parte das famílias vão melhorar de situação, os mais pobres terão uma piora no começo devido ao fim do auxílio", diz Duque. "Espera-se que chegue ao nível pré-pandemia no fim do ano que vem ou só 2022. A gente está se recuperando de um tombo muito grande." Os industriais brasileiros esperam um cenário favorável para os próximos meses. O mais recente índice de confiança do empresário industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta que eles "seguem confiantes pelo quinto mês consecutivo, marcando a continuidade do otimismo". Sem horizonte O presidente da Central Única das Favelas (Cufa), Preto Zezé, diz que a falta de perspectiva é um grande problema nas atuais condições. "O cara trabalhador, pobre, de favela, ele es tá ali acreditando que vai virar o jogo, tem perspectiva de que algo vá mudar a seu favor — ele está jogando esse jogo mesmo sendo injusto e desigual. Mas na medida em que não tenho perspectiva, horizonte, as condições ficam bem mais tensas e bem mais complicadas." Ele aponta que não há "um projeto de tirar os pobres da recessão", enquanto se pensa em benefícios para empresas. "Até aqui, você não teve saque, quebra-quebra, nem nada, mas a situação se agravando, meu Deus do céu, não gosto nem de pensar nesse cenário. Aí tem uma questão séria. O mundo político, as elites econômicas do país, ou elas compartilham as riquezas nesse momento ou nós vamos todos compartilhar as tragédias que a concentração dessa riqueza gera." Assista as últimas notícias de economia
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Google é alvo de novo processo nos EUA por conduta anticompetitiva; agora, está na mira de 10 estados
Procurador-geral do Texas que lidera ação disse que empresa 'manipulou o mercado de publicidade', jogando em todas as posições. Google afirma que acusações não têm fundamento. Dez estados americanos abrem processo contra o Google por conduta anticompetitiva O procurador-geral do Texas, Ken Paxton, anunciou nesta quarta-feira (16) que irá abrir um processo em conjunto com outros 9 estados americanos contra o Google por condutas anticompetitivas. RETROSPECTIVA: 2020, um ano vivido pelas telas Em um vídeo publicado nas redes sociais, Paxton disse que a empresa "usou o seu poder de monopólio para controlar preços" no mercado de publicidade digital. "O Google efetivamente eliminou sua competição e coroou a si mesmo como líder da publicidade on-line", afirmou o procurador-geral. Ele disse ainda: "Esse Golias da internet usou seu poder para manipular o mercado, destruir a competição e lesar você, o consumidor". Em comunicado divulgado posteriormente, o procurador comparou a atuação da companhia, que serve a consumidores e aos anunciantes, à de todos os jogadores de uma partida de beisebol. Segundo ele, o Google faz uso de informações privilegiadas para negociar anúncios porque atua em todas as posições, arremessando e recebendo a bola, por exemplo. Google Arnd Wiegmann/Reuterus Facebook é citado Paxton afirmou ainda que o Google "abusa de seu poder monopolizador" a ponto de "induzir" executivos do Facebook a aceitarem um esquema contratual que mina a essência do processo competitivo no segmento. Segundo o processo, a empresa de Mark Zuckerberg chegou a planejar, em 2017, entrar na competição com o Google pelos anúncios on-line, mas a rival teria fechado um acordo com o Facebook para manter seu monopólio em troca de vantagens em relação a outras plataformas. O que diz o Google O Google disse que as acusações de Paxton não têm mérito e que os preços dos anúncios digitais caíram desde a década passada, assim como as comissões das empresas de tecnologia. E que sua comissão está abaixo da média da indústria. O mercado de publicidade digital é a principal fonte de receitas da empresa – somente esse negócio gerou US$ 37,1 bilhões para a companhia no 3º trimestre de 2020. Próximos passos O caso será atribuído a um juiz da corte do Texas, que começará a definir um cronograma da ação. O processo foi montado por um escritório de advocacia contratado pelo Texas. Também assinam a ação os estados de Arkansas, Idaho, Indiana, Kentucky, Mississippi, Missouri, Dakota do Norte, Dakota do Sul e Utah. Outro processo contra o Google O Texas está entre os 11 estados que se juntaram ao Departamento de Justiça dos EUA em processo aberto contra o Google em outubro passado. Nesta ação, a companhia é acusada de abusar de seu poder para privilegiar seu sistema de busca e deter o monopólio no mercado de anúncios nessas páginas. Na semana passada, outra gigante da tecnologia foi acusada de monopólio: a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) e 48 autoridades estaduais anunciaram processos contra o Facebook. Além disso, nos últimos quatro anos, a União Europeia já condenou o Google três vezes por condutas anticompetitivas, forçando a empresas a pagar multas bilionárias. 1xVelocidade de reprodução0.5xNormal1.2×1.5x2x Veja os vídeos mais assistidos do G1 m
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