Peru restringirá acesso a Machu Picchu durante 2 semanas
Antiga cidade inca sofre com o turismo de massa. Depois desse período, autoridades avaliarão os resultados da medida antes de aplicar uma restrição permanente. O Peru irá restringir por duas semanas o acesso a três importantes áreas de Machu Picchu para evitar uma deterioração maior da icônica cidade inca. A restrição entra em vigor a partir da próxima quarta-feira (15). Segundo o governo peruano, o acesso aos Templos do Sol e do Condor e à pedra de Intihuatana será estritamente controlado e os visitantes terão apenas três horas para visitar estes três lugares. "Essas medidas são necessárias para conservar Machu Picchu dada a evidência da deterioração nas superfícies das pedras causadas por visitantes destas três áreas", afirmou o Ministério peruano da Cultura. Nos últimos anos, o sítio arqueológico foi invadido pelo turismo de massa. Vista geral de Machu Picchu, em imagem de arquivo de 2 de dezembro de 2014 Enrique Castro-Mendivil / Reuters A entrada de quase 6 mil visitantes por dia, em duas levas, é permitida nas ruínas do século 15. Com a nova restrição, entre os dias 15 e 28 de maio, os turistas terão apenas três horas para visitar cada uma das três principais atrações deste sítio arqueológico. Depois destas duas semanas de teste, autoridades avaliarão os resultados da medida antes de aplicar uma restrição permanente a partir de 1º de junho. A cidade perdida dos Incas foi construída durante o reinado do imperador Pachacuti (1438-1471) e fica a cerca de 100 quilômetros da cidade andina de Cusco, a antiga capital inca no sudeste do Peru. As ruínas de Machu Picchu foram descobertas em 1911 pelo explorador americano Hiram Bingham. Em 1983, a antiga cidade foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
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O impressionante restaurante submerso nas águas geladas da Noruega
Under fica a cinco metros sob a superfície da costa sul do país e oferece visão panorâmica do fundo do mar a clientes do restaurante e a cientistas marinhos. Cardápio só usa ingredientes pescados ou colhidos nos arredores. Inaugurado em março, o restaurante Under é o primeiro restaurante submerso da Europa BBC Sob as águas geladas da Noruega, o primeiro restaurante submerso da Europa e o maior do mundo serve seus clientes com vista para o fundo do mar. O ousado projeto, inaugurado em março deste ano é, na realidade, muito mais do que apenas um restaurante, diz Stig Ubostad, sócio do Under junto com seu irmão. "Os três pilares no qual dividimos o projeto são biologia marinha, arquitetura e gastronomia", explica à BBC Travel. E, provavelmente, há ainda um quarto elemento sem o qual o empreendimento não mergulharia mares muito profundos. "Você não constrói Under se você não tiver paixão", diz Ubostad. A paixão do idealizador já encantou pessoas mundo afora. Sete mil clientes estão na lista de espera do restaurante, segundo a Reuters. Isso porque Under é uma estrutura de concreto de 34 metros que fica parcialmente submersa a até 5,5 metros sob a superfície de Lindesnes, na ponta da costa sul da Noruega. As enormes janelas de acrílico do restaurante oferecem uma visão da vida marinha do Oceano Atlântico em constante transformação pelas estações do ano. Esse desafio arquitetônico foi coordenado por Kjetil Trædal Thorsen, do escritório norueguês de arquitetura e design Snøhetta, também responsável pela Casa de Ópera, de Oslo, e o Memorial 11 de Setembro, em Nova York. A maior dificuldade da equipe, comenta Thorsen, foi encontrar um formato e uma localização adequados para abrigar o Under. Com grossas paredes de concreto erguidas na costa rochosa, a estrutura foi construída para suportar a pressão e o constante choque dos mares turbulentos daquela região. Lindesnes é uma pequena cidade de cinco mil habitantes conhecida pelas condições climáticas intensas, que podem rapidamente mudar, várias vezes ao dia, de céu aberto e mares calmos a tempestades e ondas de até 25 metros. "A solução foi um tubo", resume o arquiteto. "O restaurante foi construído numa barcaça e depois transportado para o local de fundação". O transporte da larga estrutura foi outra grande missão a ser cumprida. Além do cuidado com a construção em si, a preocupação maior da equipe foi completar a instalação preservando o meio ambiente. "Ela teve que ser colocada de maneira muito cuidadosa de forma a preservar a paisagem submarina, para não arruinar a ecologia do lugar", acrescenta Thorsen. No corredor que leva o visitante do mundo terrestre para o marinho, painéis de teto revestidos de tecido fazem referência às cores de um pôr do sol que some no oceano. No salão principal, a atmosfera é calorosa e acolhedora, mesmo com o exterior aquático chegando a temperaturas negativas. Parte do ambiente A ideia, com o tempo, é que a estrutura se torne parte do ambiente marinho, uma vez que a resistência do concreto servirá como um coral artificial, habitat ideal para moluscos e algas. O chef Nicolai Ellitsgaard trabalhou por mais de um ano na concepção do cardápio BBC Como explicou Stig Ubostad, outro pilar de Under é a pesquisa marinha. O responsável pelo setor é o cientista Trond Rafoss, do Instituto Norueguês de Pesquisa em Bioeconomia. Antes de Under ser fixado no fundo do mar, os pesquisadores monitoraram e documentaram as espécies presentes naquela área. Agora que a estrutura está montada sob a água, ela vai funcionar como um laboratório de pesquisa em biologia marinha. Rafoss já enxerga novas oportunidades. "Ela te dá uma configuração totalmente diferente", comenta o cientista. "Você tem tempo suficiente para fazer as observações científicas". O laboratório do Under também recebe financiamento do governo norueguês, e estudantes da Universidade de Agder, da Noruega, conduzem pesquisas do ecossistema marinho local, que abriga espécies de algas, assim como bacalhau, caranguejos, cações, lagostas e até focas. Comida local Mas o projeto não estaria completo se não fosse dada atenção cuidadosa ao menu do restaurante. O chef Nicolai Ellitsgaard trabalhou por mais de um ano na concepção do cardápio, que explora novas formas de usar diferentes ingredientes marinhos disponíveis bem perto do restaurante. A maior dificuldade da equipe foi encontrar um formato e uma localização adequados para abrigar o Under BBC Esse tempo todo porque a pressão de gerir um restaurante inovador como Under, admite Ellitsgaard, não foi pouca. "Muitas pessoas colocaram muito tempo e energia, para fazer este restaurante tão bonito e dramático. Agora que ele está inaugurado é que a diversão começa", diz. O próprio chef acorda cedo e percorre o entorno de Under em busca do que servir para o jantar. "De manhã eu gosto de sair e procurar comida para diferentes tipos de coisas. Agora, nesta época do ano, são principalmente as algas marinhas", comenta Ellitsgaard. "Eu gosto de ir à natureza e passar umas duas horas buscando ingredientes antes de ir para a cozinha e ficar lá o resto do dia". Dessa forma, o chef já dá um recado a seus clientes sobre a filosofia do lugar. "Acho que é tão bom dizer aos convidados que o que eles estão comendo foi coletado logo ali, a 150 metros do restaurante, ou que o chef estava mergulhando esta manhã para que isso fosse possível", segue Ellitsgaard. Através da pesquisa, gastronomia e arquitetura, o Under busca aproximar o ser humano do ecossistema marinho BBC Além de uma mensagem sobre a preparação exclusiva do restaurante, esse modelo é também um manifesto de preservação ambiental, como explica Ellitsgaard. "Há tantas coisas que não estão sendo usadas. Todos querem apenas os 'melhores' ingredientes, mas porque o que está perto não é bom?", questiona. "Definitivamente é melhor para o meio ambiente se as pessoas comerem coisas que estão próximas em vez de ter foie gras e trufas de outros cantos todo dia", diz o chef. Através da pesquisa, gastronomia e arquitetura, Under servirá, portanto, para aproximar o ser humano do ecossistema marinho. A ideia, afinal, é deixar que o próprio ambiente defina o tom do espetáculo. "Em alguns dias, vocês vai conseguir muitos peixes; e em outros dias não vai ser tão bom. É como a natureza é. Nada mais nada menos. É a natureza em seu melhor", diz o dono, Stig Ubostad.
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Brasil recebe menos estrangeiros que o Louvre; plano quer dobrar turistas no país até 2022
Total de estrangeiros em 2018 no Brasil alcançou 6,6 milhões. Museu mais visitado do mundo recebeu 7,6 milhões; Argentina, 7,5 milhões. Governo lançou plano para incentivar setor. Por que um país inteiro, com praias famosas, montanhas e a maior floresta tropical do mundo, recebe menos turistas estrangeiros que o museu do Louvre, em Paris?
Na última quarta-feira (15), o governo publicou o decreto do Plano Nacional de Turismo 2018-2022, que pretende quase dobrar – de 6,6 milhões para 12 milhões por ano – o número de visitantes estrangeiros no Brasil.
O Louvre, museu mais visitado do mundo, bateu recorde de visitação no ano passado – 10,2 milhões, dos quais quase três quartos são estrangeiros (7,6 milhões).
Em comparação com os vizinhos da América do Sul, a situação não é melhor. Segundo dados da Organização Mundial do Turismo, o turismo internacional no continente cresceu 6,3% em 2016 e 8,4% em 2017.
No Brasil, as taxas de crescimento foram de 4,5% em 2016; 0,6%, em 2017; e 0,5%, em 2018. No Peru e na Argentina, por exemplo, o turismo internacional cresceu no ano passado 10% e 7,5%, respectivamente, segundo informações do Ministério do Comércio Exterior e Turismo do Peru e do Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina.
Embora pretenda aumentar o número de visitantes estrangeiros, o governo retirou do texto do Plano Nacional de Turismo o incentivo ao turismo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), que representa 10% dos viajantes no mundo e movimenta 15% do faturamento do setor, segundo dados do plano original.
Em março deste ano, o governo dispensou o visto de visita para turistas de Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão que viajarem ao Brasil. O decreto do presidente Jair Bolsonaro entrará em vigor em 17 de junho não prevê reciprocidade, ou seja, brasileiros continuam necessitando de visto para viajar para esses quatro países.
Segundo informações do Ministério do Turismo com base em dados divulgados pelo Grupo Amadeus (que gerencia sistemas de reservas por computador), um mês após assinatura da dispensa do visto (até abril), as reservas de turistas dos Estados Unidos cresceram 53%; do Canadá, 86%; da Austrália, 86%; e do Japão, 150%, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Para especialistas ouvidos pelo G1, entre os principais obstáculos para o crescimento do turismo internacional do Brasil estão problemas de logística de transporte, falta de divulgação e baixa qualificação da mão de obra.
Na avaliação de André Coelho, especialista em turismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a ampliação de rede aérea no Brasil é essencial para o crescimento do setor.
“O turismo internacional também depende do turismo interno e de uma economia pujante, que faça com que as empresas aéreas abram novas rotas”, disse.
O Plano Nacional de Turismo tem como meta aumentar de 60 milhões para 100 milhões o número de viagens de turistas brasileiros pelo país, e fortalecer o Programa de Regionalização do Turismo (PRT). No primeiro trimestre deste ano, o número de passageiros em voos nacionais atingiu 24 milhões, segundo o Ministério do Turismo.
Para o professor do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília, Neio Lúcio de Oliveira Campos, o país tem potencial para crescer muito mais que nos últimos anos, mas a logística de transporte é um entrave.
“Não dá para o turista chegar no Rio de Janeiro e depois ficar mais de cinco horas dentro de um avião para conseguir chegar à Amazônia”, exemplificou.
Leônidas Oliveira, presidente da Embratur, empresa do governo responsável pela divulgação do turismo brasileiro no exterior, considera que setor precisa melhorar o transporte aéreo para crescer. Ele classificou como essencial a entrada no mercado de empresas de baixo custo.
“O americano paga US$ 600 para vir dos Estados Unidos para o Brasil, mas chega aqui e paga mais US$ 600 para ir do Rio de Janeiro para a Amazônia”, disse.
Para aumentar o número de rotas e a concorrência no setor, o governo tem apostado no sucesso da abertura de capital das empresas aéreas. A medida está prevista em uma medida provisória que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para virar lei.
Segundo o presidente da Embratur, a saída da Avianca do mercado também pode ser um complicador, já que deve concentrar ainda mais o mercado aéreo e elevar o preço das passagens com a redução da oferta. Na última sexta-feira, a companhia aérea Air Europa apresentou à Junta Comercial do Estado de São Paulo pedido para operar voos domésticos no Brasil.
Oliveira se preocupa ainda com as emendas ao projeto, que querem proibir a cobrança pelo despacho de bagagem nos aviões, o que, segundo ele, pode atrapalhar a vinda de empresas de baixo custo para o Brasil.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também considera essencial a abertura de capital das empresas aéreas.
“Temos que ter a abertura total das empresas aéreas ao capital estrangeiro, o que permitirá a ampliação de companhias atuando no Brasil, além do fortalecimento da promoção turística internacional dos destinos domésticos e a modernização da Lei Geral do Turismo”, disse.
Divulgação do Brasil
Para Leônidas Oliveira, da Embratur, o país vem gastando pouco e mal em divulgação no exterior. Segundo ele, o modelo de divulgação precisa ser revisto e envolver novas tecnologias. “Nossa promoção precisa ser mais tecnológica”, disse.
O volume investido também tem caído e está aquém do de países vizinhos, que vêm obtendo taxas muito maiores de crescimento no setor como Argentina e Peru.
Segundo a Embratur, a Argentina investe anualmente US$ 60 milhões para divulgar o país para turistas estrangeiros; o Peru, US$ 25 milhões; o orçamento brasileiro é de US$ 8 milhões.
De acordo com André Coelho, da FGV, os vizinhos são os maiores concorrentes e provam que a “venda” do Brasil não tem funcionado.
Enquanto a entrada de turistas estrangeiros cresceu 0,5% de 2017 para 2018 no Brasil, o turismo internacional cresceu 10% no Peru e 7,5% na Argentina, segundo informações do Ministério do Comércio Exterior e Turismo do Peru e do Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina, respectivamente.
Para Coelho, são necessários mais recursos para a divulgação do país no exterior e envolver a iniciativa privada na divulgação.
“Acho que turismo pode crescer muito se tiver agenda de curto e médio prazos, planos contínuos e interdisciplinaridade. A participação do mercado privado é muito importante, e o investimento no setor precisa ir para um patamar mais estratégico”, disse.
Em agosto, a Embratur deve lançar um novo plano de divulgação turística. A proposta é que também seja financiado por recursos estaduais e privados.
“Vamos fazer um grande projeto nacional de divulgação, mas que todos vendam a marca Brasil como um produto único de todos nós, mantendo claras as diferenças regionais”, disse Oliveira.
É a divulgação que vai ajudar a melhorar a imagem do país entre os turistas estrangeiros, avalia Neio Lúcio de Oliveira Campos.
Segundo o professor da UnB, a divulgação positiva que o país teve com eventos esportivos como a Copa do Mundo e a Olimpíada se perdeu pela conjuntura de crise política e econômica.
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As cidades que levaram turistas a desenvolver surtos psicóticos
Estima-se que a síndrome afete uma centena de pessoas por ano em Israel, que desenvolvem uma espécie de angústia ao visitar lugares sagrados da região. Jerusalém 'evoca um senso do sagrado, do histórico e do celestial' – a uma extensão potencialmente devastadora Pixabay Oliver McAfee deveria voltar para casa a tempo para o Natal de 2017. Mas o jardineiro de 29 anos, natural de Dromore, na Irlanda do Norte, desapareceu. McAfee andava de bicicleta pela Trilha Nacional de Israel, perto da cidade de Mitzpe Ramon, antes de desaparecer. Sua bicicleta e sua barraca foram encontradas dois meses depois na cratera Ramon, na parte sul de Israel. Desde então, visitantes já encontraram alguns de seus pertences, como carteira, chaves e tablet ao longo da trilha. A imprensa rapidamente levantou a possibilidade de o viajante ter sido afetado pela Síndrome de Jerusalém – um estado psicótico (ou uma ruptura com a realidade), muitas vezes ligado a experiências religiosas. Aqueles que sofrem desse mal ficam paranoicos, vendo e ouvindo coisas que não existem. Tornam-se possuídos e obcecados. E, às vezes, desaparecem. Na virada do milênio, os médicos do Centro de Saúde Mental Kfer Shaul de Israel relataram ter recebido cerca de 100 turistas por ano com a síndrome (40 dos quais precisavam de internação hospitalar), mais comumente cristãos, mas também alguns judeus e um número menor de muçulmanos. A síndrome de Jerusalém era uma forma de psicose, escreveram na revista científica British Journal of Psychiatry, em uma cidade que "evoca a sensação do sagrado, do histórico e do celestial". Muitos já apresentavam um distúrbio de saúde mental, como esquizofrenia ou transtorno bipolar, que os levaram a embarcar em seu delírio de missão sagrada. Os médicos citaram o caso de um turista americano com esquizofrenia que começou a treinar com pesos em casa e se identificou cada vez mais com o personagem bíblico Sansão. Ele viajou para Israel, obcecado em mover os gigantes blocos de pedra do Muro das Lamentações. Interceptado pela polícia, o homem foi internado no hospital, tratado com medicamentos antipsicóticos e levado de volta para casa acompanhado de seu pai. Imagem de Oliver McAfee publicada em grupo de Facebook | Foto: #Helpusfindollie BBC Mas outros desenvolveram psicose em Jerusalém sem ter um histórico de doença mental. Era um número relativamente pequeno – 42 dos 470 turistas admitidos em 13 anos -, mas os casos foram tão dramáticos quanto inesperados. Essas pessoas ficaram obcecadas com a limpeza e a pureza logo após sua chegada à cidade, tomando inúmeros banhos e duchas e cortando compulsivamente as unhas dos pés e das mãos. Elas se vestiam com uma toga branca, muitas vezes feita a partir da roupa de cama do hotel. Faziam sermões, gritavam salmos e cantavam hinos religiosos nas ruas ou em um dos lugares sagrados da cidade. Essa psicose geralmente perdura por cerca de uma semana. Ocasionalmente, eram tratadas com sedativos ou terapia – mas a cura definitiva era "distanciar-se fisicamente de Jerusalém e seus locais sagrados". Os autores sugerem que esses turistas (geralmente de "famílias ultrarreligiosas") experimentam uma discrepância entre a imagem idealista que, subconscientemente, projetam de Jerusalém e a realidade concreta de uma cidade comercial movimentada, desencadeando a síndrome. Um escritor sugeriu que a cidade poderia ser um "terreno fértil para a ilusão em massa" , referindo-se a séculos de disputas territoriais entre as religiões com "atritos, tramas e pensamentos delirantes". De fato, a síndrome de Jerusalém não é nova: relatos dela remontam à Idade Média. Turistas e locais se misturam nas ruas de Jerusalém Pixabay Quanto à possibilidade de Oliver McAfee ter sucumbido à síndrome de Jerusalém, seu fascínio pela religião não era exatamente uma novidade; ele era conhecido como um cristão devoto. Mas logo após seu desaparecimento, seu irmão expressou preocupação com as fotos da câmera de Oliver: "A natureza delas é um pouco fora do normal e sugere que ele poderia estar fora de si. Uma das imagens mostrava muito lixo e detritos ao redor de seu acampamento e ele nunca foi assim". Em uma coletiva de imprensa alguns dias depois, depois de analisar mais provas, ele pareceu ter mudado de ideia, dizendo ter passado " horas e horas examinando as fotos, lendo os diários e tudo relacionado a isso – para Oliver, essa era uma viagem normal". Investigadores descobriram passagens rasgadas da Bíblia colocadas debaixo de pedras onde ele desapareceu, escrituras feitas com sua caligrafia, referências escritas que ele fez a Jesus jejuando no deserto, e de acordo com um relatório da polícia, uma "capela" – uma área de areia, achatada por uma ferramenta de bicicleta, dentro de um círculo de pedras. Uma página no Facebook (@helpusfindollie) foi criada após seu desaparecimento. Uma postagem diz: "Estive pensando 'o que eu digo quando não há nada a dizer?' O primeiro aniversário do desaparecimento de Oliver chegou e se foi; e, infelizmente, parece que as respostas ainda estão a milhões de quilômetros de distância". Um artista que visitava a Ponte Vecchio, em Florença, ficou convencido em poucos minutos de que estava sendo monitorado por companhias aéreas internacionais Pixabay Assim como os médicos em Jerusalém podem ser mais propensos a diagnosticar a síndrome de Jerusalém, porque eles a veem com mais frequência, os psiquiatras em Florença encontram sintomas semelhantes sob circunstâncias diferentes. Parece que os visitantes são tão consumidos pela magnificência da arte e arquitetura da cidade que são ocasionalmente tomados por uma psicose. Um artista de 72 anos que visitou a Ponte Vecchio ficou convencido em poucos minutos de que estava sendo monitorado por companhias aéreas internacionais e que seu quarto de hotel estava com problemas. Uma mulher de 40 anos acreditava que figuras dos afrescos da Capela Strozzi da Igreja de Santa Maria Novella apontavam para ela: "Parecia-me que eles estavam escrevendo sobre mim no jornal, falando sobre mim no rádio e me seguindo nas ruas." A psiquiatra florentina Graziella Magherini compilou casos de mais de 100 turistas que frequentaram o hospital Santa Maria Nuova entre 1977 e 1986, que experimentaram palpitações, sudorese, dor torácica, tontura e até alucinações, desorientação, sensação de alienação e perda de identidade. Alguns tentaram destruir obras de arte. Tudo isso foi resultado, diz Magherini, de "uma personalidade impressionável, o estresse das viagens e o encontro com uma cidade como Florença, assombrada por fantasmas dos grandes artistas, da morte e da perspectiva da história". Era tudo grandioso demais, diz ela, para o turista sensível. Ela batizou a condição de Síndrome de Stendhal, em referência ao autor francês que descreveu estar "absorvido pela contemplação da beleza sublime" e "tomado por uma feroz palpitação do coração", ao sair da Basílica de Santa Croce durante uma visita em 1817. "A fonte da vida secou dentro de mim e eu andei com medo constante de cair no chão." Um homem recentemente teve uma convulsão enquanto olhava para a Primavera, de Botticelli Pixabay Embora apenas dois ou três casos da chamada síndrome de Stendhal sejam registrados por ano nos dias de hoje, a Galeria Uffizi, em Florença, continua a ser palco de emergências médicas. Um homem teve uma convulsão enquanto olhava para a Primavera de Botticelli recentemente e outro visitante desmaiou com a Medusa de Caravaggio. Em entrevista ao jornal italiano Corriere Della Sera logo depois que um visitante teve um ataque cardíaco na frente de outro Botticelli (O Nascimento de Vênus), o diretor da galeria Uffizi disse: "Não vou ousar fazer um diagnóstico, mas sei que visitar um museu como o nosso, repleto de obras-primas, certamente constitui uma possível fonte de estresse emocional, psicológico e até mesmo físico". Por outro lado, às vezes uma cidade não corresponde às expectativas. A chamada Síndrome de Paris surgiu quando turistas japoneses desenvolveram psicose (mais de 63 pacientes foram descritos em um estudo de casos), quando aparentemente se deram conta de que Paris não era a cidade que imaginavam. Impactados pela sisudez dos moradores locais e pela suposta escassez de vendedores de loja simpáticos, muitos entraram em colapso. "Nas lojas japonesas, o cliente é o rei", explicou um representante de uma associação que ajuda famílias japonesas a se estabelecerem na França, "enquanto aqui os vendedores mal prestam atenção a eles". "Síndrome de Paris" surgiu quando turistas japoneses desenvolveram psicose, aparentemente ao perceberem que Paris não é a cidade dos seus sonhos Pixabay Mas essas síndromes são realmente restritas a Jerusalém, Florença ou Paris? Essas cidades merecem uma "advertência"? Questões de saúde mental estão entre as principais causas de problemas de saúde entre os turistas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a "emergência psiquiátrica" é uma das razões médicas mais comuns para resgates por ambulâncias aéreas. Especificamente, a psicose aguda é responsável por até um quinto de todos os problemas de saúde mental dos viajantes – e a maioria deles não está em frente à Igreja da Natividade, em Belém, ou ao Muro das Lamentações, em Jerusalém. Os turistas são afetados de várias maneiras. Desidratação, insônia e jetlag estão entre os fatores que contribuem para a psicose de viagem, juntamente com a ingestão de pílulas para dormir ou de álcool durante um voo ou, em alguns casos, drogas como o cloridrato de Mefloquina (um medicamento antimalária). A prevalência do medo de voar varia de 2,5% a 6,5%, e a ansiedade aguda entre os turistas é de cerca de 60%. Acrescente a isso o estresse da segurança aeroportuária, longas filas fora dos museus, barreiras linguísticas e diferenças culturais, e talvez uma peregrinação religiosa ou cultural intensamente pessoal e há muito esperada, e a tempestade perfeita se forma. Um visitante da Galeria Uffizi de Florença desmaiou com a 'Medusa' de Caravaggio Pixabay Em muitos casos graves, é provável que os viajantes tivessem uma condição psiquiátrica não diagnosticada ou uma predisposição à psicose muito antes de visitarem a Galeria Uffizi de Florença ou a Galleria dell'Accademia. Mais da metade das pessoas hospitalizadas citadas no estudo de Magherini havia recebido auxílio psiquiátrico. Em um estudo publicado pela revista científica British Journal of Psychiatry, especialistas sugerem que "Jerusalém não deveria ser considerada um fator patogênico, uma vez que a idealização mórbida dos turistas afetados começou em outro lugar". Stendhal afirmou que visitar Basílica de Santa Croce foi "uma experiência extremamente profunda" Pixabay Em janeiro deste ano, a família de McAfee fez um novo apelo para marcar um ano desde que solicitou ajuda das autoridades pela primeira vez para buscar seu paradeiro.
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Governo elege 30 rotas turísticas prioritárias para estrear programa de incentivo ao turismo
Rotas definidas pelo Ministério do Turismo receberão investimentos em qualificação e marketing. Nordeste é região com maior número de rotas turísticas na primeira fase do programa. O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, faz anúncio do programa Investe Turismo Laís Lis, G1 O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, anunciou nesta terça-feira (28) 30 rotas turísticas selecionadas pelo governo federal e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para serem beneficiadas com investimentos do programa Investe Turismo (veja abaixo a lista completa com as 30 rotas selecionadas). A iniciativa tem o objetivo de aumentar o movimento turístico no país. De acordo com o Ministério do Turismo, as rotas turísticas selecionadas pelo governo federal, pelo Sebrae e pela Embratur – empresa pública federal responsável pela divulgação do turismo brasileiro no exterior – receberão investimentos, ações de marketing e melhoria de serviços para ampliar o número de turistas. Esses destinos turísticos, informou o governo, responderam, em 2018, por 50,1% do fluxo de turistas nacionais e por 79,1% do fluxo de turistas estrangeiros que visitam o Brasil. Ainda segundo o ministério, o programa – que será uma parceria entre setor público e iniciativa privada – terá um investimento inicial de R$ 200 milhões, oriundos do Sebrae. Ao todo, 158 municípios de todos os 26 estados e mais o Distrito Federal vão ser beneficiados com ações para incentivar a atividade turística. Com 10 rotas selecionadas, a Região Nordeste é a que tem o maior número de destinos turísticos escolhidos na primeira etapa do programa. A Região Centro-Oeste terá quatro rotas; A Norte, sete; a Sul terá quatro destinos; e a Sudeste, cinco. Marcelo Álvaro Antônio afirmou que técnicos do Ministério do Turismo e do Sebrae irão circular pelas cidades selecionadas para apontar, por exemplo, necessidades de investimentos, como construção de hotéis, restaurantes e melhorias da infraestrutura. O ministro do Turismo destacou que o governo também pretende incentivar o turismo doméstico com esses investimentos, mas, principalmente, o turismo internacional. No ano passado, o Brasil recebeu 6,6 milhões de turistas estrangeiros, movimento inferior ao dos turistas que visitaram o Museu do Louvre, na França. As 30 rotas selecionadas >>> Brasília e Chapada dos Veadeiros Brasília Alto Paraíso de Goiás (e Vila de São Jorge) Cavalcante >>> Goiânia, Pirenópolis e Goiás Goiânia Pirenópolis Goiás >>> Pantanal Norte e Chapada dos Guimarães Cuiabá Chapada dos Guimarães Nobres Cáceres Poconé >>> Rota Pantanal Sul e Bonito Campo Grande Bonito Bodoquena Jardim Aquidauana Corumbá Miranda >>> Manaus e Polo Amazônico Manaus Novo Airão Presidente Figueiredo >>> Belém, Ilha do Marajó, Santarém e Alter do Chão Belém Salvaterra Soure Santarém (e vilas de Alter do Chão e Ponta de Pedras) Belterra (Flona do Tapajós) >>> Palmas e Jalapão Palmas Mateiros Ponte Alta do Tocantins São Félix do Tocantins >>> Boa Vista e Monte Roraima Boa Vista Pacaraima >>> Macapá Macapá >>> Rio Branco Rio Branco >>> Porto Velho e Guajará-Mirim Porto Vellho Guajará-Mirim >>> Maceió e Costa dos Corais Maceió Barra de Santo Antônio Japaratinga Porto de Pedras Maragogi São Miguel dos Milagres >>> Aracaju e Cânions do São Francisco Aracaju São Cristóvão Laranjeiras Itabaiana Estância Canindé de São Francisco >>> Recife, Olinda e Porto de Galinhas Recife Olinda Ilha de Itamaracá Igarassu Tamandaré Ipojuca (Porto de Galinhas) >>> Fernando de Noronha Fernando de Noronha >>> Salvador e Morro de São Paulo Salvador Mata de São João (Praia do Forte) Cairu (e Morro de São Paulo e Boipeba) >>> Costa do Descobrimento Porto Seguro (e Arraial d'Ajuda, Trancoso e Caraíva) Santa Cruz Cabrália >>> Rota das Emoções Fortaleza Trairi Jijoca de Jericoacoara Camocim Cruz Barroquinha Chaval São Luís Barreirinhas (Lençois Maranhenses, Vilarejo Atins) Santo Amaro do Maranhão Araioses Tutóia Paulino Neves Parnaíba Cajueiro da Praia Ilha Grande Luís Correia Teresina e Serra da Capivara Teresina São Raimundo Nonato (Serra da Capivara) Santa Cruz dos Milagres João Pessoa e Litoral João Pessoa Conde Cabedelo >>> Natal e Litoral Natal Parnamirim Extremoz Maxaranguape São Miguel do Gostoso Touros Tibau do Sul (e Praia da Pipa e Praia do Amor) Galinhos Baia Formosa >>> Vitória e Montanhas Capixabas Vitória Guarapari VilaVelha Venda Nova do Imigrante Domingos Martins >>> Belo Horizonte e Cidades Históricas de Minas Belo Horizonte Brumadinho Diamantina Ouro Preto Mariana Sabará Congonhas São João del Rey Tiradentes >>> Rio de Janeiro Imperial Rio de Janeiro Petrópolis Nova Friburgo Teresópolis >>> Costa do Sol – Região dos Lagos Armação dos Búzios Arraial do Cabo Cabo Frio Rio das Ostras Saquarema Angra dos Reis (Ilha Grande) Paraty >>> São Paulo e Litoral Norte São Paulo Ilhabela Bertioga Ubatuba Caraguatatuba São Sebastião >>> Corredor do Iguaçu Curitiba Morretes Paranaguá Foz do Iguaçu Porto Alegre e Serra Gaúcha Gramado Canela Nova Petrópolis Bento Gonçalves Caxias do Sul São Francisco de Paula Garibaldi São José dos Ausentes Jaquirana Cambará do Sul >>> Porto Alegre e Missões Porto Alegre São Miguel das Missões >>> Serra-Mar Catarinense Florianópolis Lages São Joaquim Urubici Palhoça Garopaba Imbituba Laguna Balneário Camboriú Bombinhas Penha Porto Belo Blumenau Brusque Itajaí Timbó Pomerode São Francisco do Sul Joinville Medida provisória Marcelo Álvaro Antônio disse na entrevista coletiva que o Ministério do Turismo está elaborando uma medida provisória para, entre outras ações, criar áreas de interesse turístico. A criação desses setores, na avaliação do ministro, vai acelerar o licenciamento ambiental para empreendimentos ligados ao turismo e facilitará o acesso a linhas de crédito. "Temos um projeto piloto em Ilha Grande, na região de Angra dos Reis. Queremos retirar os excessos. Não estamos falando em degradar o meio ambiente, mas alinhar o desenvolvimento com a preservação do meio ambiente", declarou. A Estação Ecológica de Tamoios (Esec Tamoios), que o presidente Jair Bolsonaro quer transformar em uma "Cancún brasileira", ocupa menos de 6% da baía de Angra dos Reis (RJ) e abriga espécies ameaçadas de extinção. O conjunto de ilhas também serve como refúgio para animais marinhos e como laboratório natural, que já foi usado em mais de 130 pesquisas nos últimos 11 anos. Ambientalistas e comerciantes de Angra criticam ideia da 'nova Cancún' Em 2012, Bolsonaro foi multado em R$ 10 mil pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) ao ser flagrado pescando num barco em uma área que integra a Esec Tamoios. Em dezembro do ano passado, a multa foi anulada e, em 2019, o servidor responsável pela fiscalização foi exonerado. Ambientalistas se mobilizam em defesa da Estação Ecológica de Tamoios Atualmente, não é permitido visitar, pescar, mergulhar, construir ou ancorar barcos dentro da estação ecológica. A intenção é preservar as espécies ameaçadas, como a garoupa, o cavalo-marinho, o boto cinza, o mero e o peixe-anjo, além de garantir a circulação de animais migratórios pela região, como pinguins. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mais de 200 espécies de peixes vivem ali. Além da fauna marinha, o instituto registra ainda a presença de aves e plantas raras, como alguns tipos de orquídeas e bromélias. Rodrigo Sanches/G1
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Superpopulação de algas ameaça praia paradisíaca no Caribe mexicano
Turistas reclamam da presença excessiva de sargaço, uma espécie de alga que se acumula nas areias na região de Cancún. Sargaço se acumula nas areias da praia em Tulum, no Caribe mexicano Daniel Slim/AFP Às margens da praia mexicana de Tulum, a 200 metros de uma pirâmide que os maias ergueram bem onde as ondas quebram, uma lancha jaz sobre um espesso e mal cheiroso manto de sargaço, cuja cor parda cobre suas areias brancas. Há pouca atividade nesta e em outras praias da mundialmente famosa Riviera Maia, onde poucos turistas pegam sol por causa desta alga, cuja proliferação é favorecida pela ação humana e que desprende um cheiro desagradável, além de afetar gravemente o ecossistema e o turismo. "Não tinha ideia de que estivesse tão ruim!", diz Chase Gladden, executivo de 28 anos de San Francisco, Estados Unidos, junto ao tapete de algas de quase 10 metros de largura. O aumento da chegada de sargaço, nativo do Atlântico, ameaça danificar irreversivelmente este ecossistema do sudeste do México. Turistas se dizem decepcionados com a quantidade de sargaço que encontram em Tulum, no México Daniel Slim/AFP Livia Vendramini, de 26 anos, procedente de São Paulo, está decepcionada. "Viemos aqui para ver um mar azul, cristalino. E ver este mar como se fosse o de um porto é muito triste", diz. Acompanhada de duas amigas, ela se viu obrigada a sair de seu hotel em Playa del Carmen, onde diz que o sargaço não perdoou nenhuma praia, e viajar 65 km até Tulum. "Temos que sair da cidade, vir até aqui, pegar um bote para ir a outro lugar para poder ver o que queríamos", se queixa Vendramini. Algas marinhas que se acumulam na areia prejudicam movimento de quiosques de praia em Tulum, no México Daniel Slim/AFP "Desastre ecológico e econômico" Evidências científicas apontam que o sargaço chega arrastado por ventos e correntes a partir de um novo mar dessa alga – o antigo se localiza em frente aos Estados Unidos -, detectado em 2011 na zona equatorial do Atlântico, entre a América do Sul e a África. Lá, a desembocadura de grandes rios carregados de nutrientes – resíduos da atividade humana -, a desertificação e o aquecimento global propiciam sua proliferação. "Tem mais nutrientes que o mar de sargaço original, além disso há os problemas de desmatamento na África e na América do Sul", explica Brigitta Van Tussenbroek, pesquisadora da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). "Tudo é antropogênico, não é uma coisa natural", acrescenta sobre o fenômeno, que também afetou outros pontos do Caribe, como Barbados, Guadalupe e Bonaire. A cientista holandesa alerta que o sargaço está acelerando mudanças no ecossistema em entre 10 e 100 vezes, de modo que urgem medidas "contundentes" que envolvam o governo. "Há esperança mas não temos muito tempo. É questão de anos, não de décadas", alerta. Uma vez na praia, o sargaço deve ser retirado o quanto antes. Do contrário, se decompõe por ação de bactérias que consomem o oxigênio da água, matando animais que vivem nela, enquanto seu rastro escuro bloqueia a luz solar, eliminando a vida do solo marinho. Além disso, acaba com o tom turquesa do Caribe, fenômeno que poderia ser irreversível pois não se sabe se este ecossistema pode reciclar os resíduos, explica Marta García, cientista espanhola do Instituto de Ciências do Mar da UNAM em Puerto Morelos. "Pode se tornar um desastre ecológico e econômico", afirma a especialista. A qualificadora Moody's alertou nesta semana que o fenômeno afetaria os rendimentos de hotéis, aeroportos e autopistas e a arrecadação fiscal. Como exemplo, destaca a queda de 1,8% entre janeiro e abril dos passageiros do terminal de Cancún, o segundo mais movimentado do México, ante o mesmo período em 2018.
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The Brando, o luxuoso balneário no Taiti que eliminou os mosquitos para agradar os clientes ricos e famosos
Resort de luxo em ilha paradisíaca cobra mais de R$ 16 mil por noite em um bangalô e tem investido pesado em tecnologias não só para reduzir impactos ambientais, mas também para eliminar "pragas" que poderiam atrapalhar os negócios. Ilha paradisíaca pertencia ao ator Marlon Brando e hoje virou 'esconderijo' de ricos e famosos The Brando O The Brando é um dos eco-resorts mais luxuosos do mundo, localizado em um atol no meio do Oceano Pacífico. É um dos últimos lugares onde se esperaria encontrar tecnologia pioneira, mas, para a surpresa de muitos, ele tem. O resort no atol Tetiaroa – ao norte do Taiti – é uma representação clara do conceito de exclusividade de luxo. Os bangalôs de dois quartos que ele abriga custam a partir de 3.700 euros (aproximadamente R$ 16,26 mil) por noite. Ele pertencia ao ator de Hollywood Marlon Brando, que enxergava ali um refúgio ecológico, e se tornou um 'esconderijo' para ricos e famosos, como Beyoncé e Barack Obama, em busca de férias relaxantes com menos impactos negativos para o planeta. Marlon Brando, astro de O Poderoso Chefão, sempre quis que o atol fosse um lugar de preservação ecológica Divulgação O atual dono Richard Bailey afirma que o lugar está perto de se tornar "neutro em carbono e auto-sustentável". A eletricidade no complexo, por exemplo, é gerada a partir de painéis solares e biocombustível de óleo de coco, enquanto a água residual é usada para irrigação sustentável. E o sistema de refrigeração do resort é baseado em um sistema que retira água muito fria do mar – de 900 metros abaixo da superfície do Oceano Pacífico – para resfriar a água doce e o ar do complexo. Como o sistema de refrigeração é alimentado em grande parte pela pressão da água, ele usa muito pouca energia. O resort Brando é quase neutro em carbono, mas os hóspedes ainda precisam voar para lá em aviões que poluem o meio ambiente The Brando "Muitas vezes, a sustentabilidade não parece compatível com o luxo do mercado hoteleiro, mas o The Brando prova que isso é possível", diz o professor de sustentabilidade nos negócios da Universidade de Surrey, na Inglaterra, Graham Miller. Mas, é claro, os visitantes do The Brando têm que voar para o Taiti primeiro e depois pegar outro "voo de 20 minutos para o paraíso", então a emissão de carbono deles ainda é significativa. Eliminando mosquitos Os hóspedes endinheirados do resort provavelmente também não serão picados por mosquitos, graças a um programa de esterilização que reduziu a população desse tipo de inseto em Tetiaroa em pelo menos 95%. Encabeçado pelo Dr. Hervé Bossin, do Instituto Louis Malardé, da Polinésia Francesa, o programa reproduz e libera mosquitos machos não picadores no meio ambiente, infectados com o chamado vírus Wolbachia. Esse vírus torna as fêmeas selvagens – que picam – estéreis. Iniciativas semelhantes, com objetivo de erradicar doenças como a dengue e a zika, estão em andamento em países como Austrália, Colômbia e China. Mas poucos países desfrutaram do mesmo grau de sucesso que Tetiaroa, onde os níveis de mosquitos estão tão baixos atualmente que "a equipe simplesmente não está mais capturando nenhuma fêmea selvagem", segundo Frank Murphy, diretor executivo da Sociedade Tetiaroa, organização não-governamental (ONG) que supervisiona o programa de esterilização. "O sucesso do projeto recentemente convenceu o governo local a financiar uma estrutura muito maior para reprodução (dos mosquitos), que poderia expandir o programa para outras ilhas do Pacífico", disse ele. Mas não são apenas os mosquitos que a Sociedade Tetiaroa está trabalhando para erradicar. Os ratos também são vistos como um grande problema para o ecossistema do atol. "Os ratos comem de tudo, desde filhotes de tartarugas até aves marinhas, e isso é ruim para os recifes de corais também", diz Murphy. A tecnologia também poderá ajudar nesse quesito. A equipe quer usar drones de 2,2 metros de diâmetro para soltar iscas venenosas concebidas para atrair os ratos, mas não outras espécies. A operação, a segunda já realizada no mundo, será conduzida pela Island Conservation, uma ONG americana que protege espécies ameaçadas eliminando espécies invasoras. "Os ratos podem causar o colapso de todo o ecossistema terrestre", diz Sally Esposito, da Island Conservation. "No passado, usamos helicópteros para espalhar iscas, e recentemente usamos drones pela primeira vez, em Seymour Norte, nas Ilhas Galápagos. Tetiaroa é um ambiente mais complexo, então (essa operação) é uma ótima oportunidade para testar ainda mais os drones, e deve nos ajudar a criar um refúgio para espécies de aves nativas ameaçadas de extinção, como a Ground-dove e a Tuamotu Sandpiper." Talvez o projeto mais futurista em Tetiaroa seja o Island Digital Ecosystem Avatar, que usa pesquisas de detecção e alcance de luz para criar um modelo 3D. Outros dados, sobre animais, plantas, topografia e assim por diante, serão incorporados, para criar um modelo que possa ser usado para prever a capacidade da ilha de reagir em diferentes cenários, incluindo desde inundações até a introdução de novas espécies. Poderiam as inovações tecnológicas em tais resorts encorajar outros a se tornarem mais sustentáveis? The Brando "Essas pesquisas nos dão uma representação em 3D dos contornos físicos da ilha, incluindo os solos", diz o diretor científico da Sociedade Tetiaroa, Neil Davies – pesquisador sênior do Berkeley Institute for Data Science. "É mais ou menos como passar um scanner na ilha." O objetivo final da equipe é capturar todo o ecossistema do atol – "de moléculas para cima" – para ajudar governos e comunidades locais a avaliarem riscos futuros e tomarem decisões. O ecoturismo é uma tendência crescente que os resorts buscam explorar ao redor do mundo, à medida que as pessoas buscam fazer escolhas mais responsáveis diante das mudanças climáticas. O Parkside Hotel & Spa no Canadá, por exemplo, é, junto com o The Brando, um dos poucos resorts que estão para obter a certificação Platinum de Liderança em Energia e Design Ambiental do US Green Building Council, organização americana que promove a sustentabilidade de projetos, construção e operação de edifícios. O empreendimento tem um telhado de 290 metros quadrados com vegetação e usa tanques e armazenamento de água de chuva como um dissipador térmico para o seu sistema de ar condicionado. O ator Leonardo DiCaprio, um reconhecido ativista ambiental e presença frequente no The Brando – também planeja abrir sua ilha eco-resort, em Blackadore Caye, em Belize, em 2020. Mas, com o turismo contribuindo com cerca de 8% para as emissões globais de gases do efeito estufa, de acordo com um artigo publicado na revista científica Nature Climate Change, todos os resorts – e não apenas aqueles voltados para os ricos do mundo – precisarão se tornar neutros em carbono, ou seja, compensar o impacto ambiental que estão causando.
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Arquitetura europeia e clima temperado impulsionam turismo no Sul do Brasil
Com apenas três estados, a região conta com belezas naturais, teatros, parques, vinhedos e festas tradicionais. Sul do Brasil atrai com clima temperado, povo acolhedor e tradição
Conhecida pelo clima temperado e pela culinária única, a região Sul do Brasil conta com uma forte herança europeia, refletida tanto na arquitetura quanto no modo de vida.
Quem viaja para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além de encontrar belezas naturais como as Cataratas do Iguaçu, também pode contemplar teatros, parques, vinhedos e muitas festas tradicionais.
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Visto americano: Por que você vai ter que informar dados de suas redes sociais se quiser fazer turismo, estudar ou trabalhar nos EUA
Novas regras para obtenção de visto de estudante, turismo e trabalho nos Estados Unidos foram anunciadas sexta-feira e só deixam de fora certos solicitantes de vistos diplomáticos e oficiais. Nova York Taniadimas/Creative Commons Se você pensa em pedir ou renovar um visto dos Estados Unidos é melhor analisar o que você posta no Facebook ou no Twitter, por exemplo. É que, segundo anunciou o Departamento de Estado americano na sexta-feira, a partir deste mês, a maioria das pessoas que se candidatar a um visto no país terá que enviar junto com a solicitação informações sobre as redes sociais que usa ou usou nos últimos cinco anos. Mas não é só isso. De acordo com as novas regras, além de toda a documentação que já precisam apresentar, os interessados também devem fornecer endereços de e-mail e números de telefone que utilizaram também nos últimos cinco anos. As novas exigências foram propostas pela primeira vez em março de 2018. Elas atendem a uma determinação do presidente Donald Trump, e, segundo o governo, buscam aumentar o controle de segurança sobre os solicitantes de visto. "Estamos trabalhando constantemente para encontrar mecanismos que melhorem nossos processos de triagem para proteger os cidadãos americanos, ao mesmo tempo em que apoiamos as viagens legais aos Estados Unidos", disse o Departamento. Quem deverá fornecer informações sobre as redes sociais? De acordo com as novas regras, a maioria das pessoas que se candidata a um visto dos EUA deve enviar informações como os nomes de usuários que mantém ou mantinha nas redes sociais. A obrigatoriedade vale para quem vai aos Estados Unidos fazer turismo, trabalhar ou estudar. Já certos solicitantes de vistos diplomáticos e oficiais estarão isentos das novas medidas, segundo o Departamento de Estado. Anteriormente, apenas candidatos que demandavam uma investigação adicional por parte das autoridades – como os que haviam estado em partes do mundo controladas por grupos radicais ou eram provenientes de determinados países – tinham essa obrigação. Os novos formulários de solicitação de visto listam uma série de redes sociais e exigem que o solicitante informe os nomes das contas que têm ativas ou as que utilizou nos últimos cinco anos. A solicitação também inclui a opção de oferecer informações voluntariamente sobre perfis que possuam ou possuíram em outras redes, mas que não constam na relação disponível na ficha. Desde sexta-feira, internautas relatam que o novo formulário já está valendo. Initial plugin text Segundo fontes de imigração consultadas pelo jornal americano The Hill, quem mentir sobre o uso das redes sociais poderá enfrentar "sérias conseqüências na imigração". Qual foi a reação às novas medidas? Quando a proposta de pedir informações sobre as redes sociais dos solicitantes de visto foi apresentada em 2018, as autoridades estimaram que ela afetaria 14,7 milhões de pessoas por ano. A União Americana pelas Liberdades Civis fez críticas na época, afirmando que "não há evidências de que tal monitoramento das redes seja efetivo ou justo" e considerando que ele levaria as pessoas a se autocensurarem na internet, já que qualquer brincadeira feita nessas plataformas poderia ser levada a sério. Usuários das redes sociais também não se mostraram satisfeitos com a medida, chamada, por alguns, de "Big Brother nos Estados Unidos". O jornalista Peter Clarke, ex-funcionário da rede ABC na Austrália, disse no Twitter que as regras são "ainda mais invasivas" e que outros destinos, com isso, "acenam" para os viajantes. O também jornalista Kumar Manish, da Índia, também via Twitter, recomendou que os internautas "pensem duas vezes, três vezes antes de postarem qualquer coisa". "Seu sonho americano pode ir por água abaixo com base nisso", acrescentou.
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Quais são os grandes benefícios de viajar, segundo Barack Obama
O ex-presidente dos Estados Unidos diz que as experiências de viagem mais marcantes são as que ele está com as filhas. Ex-presidente Barack Obama participa de evento em SP Divulgação/ VTex Day A BBC Travel participou de uma sessão de perguntas e respostas com o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a cúpula global do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, em abril, em Sevilha, na Espanha. O político e vencedor do Prêmio Nobel da Paz conversou com o CEO da rede de hotéis Hilton, Chris Nassetta, sobre como as viagens ajudam as pessoas a descobrirem seus lugares no mundo e a importância de celebrar as ricas diferenças de cada cultura. Obama diz que viajar permite criar conexões, inspira transformação e desperta empatia. Confira o resumo da conversa: Qual foi a experiência de viagem mais memorável que você já teve? Por quê? Eu viajei muito, então é difícil escolher um só momento. Para mim, viajar com as minhas filhas é o que tem de mais memorável. É espetacular ver um lugar, experimentar uma cultura diferente, ser exposto a novas ideias. Viajar faz você crescer. Mas como pai ou mãe, quando você observa esse sentimento de descoberta aos olhos de seus filhos, isso é mais especial do que qualquer outra coisa. Por isso, eu diria que as viagens mais marcantes que eu fiz foram com as meninas. Algumas delas foram espetaculares, como quando andamos pelo Kremlin quando eu era presidente e Sasha tinha uns 7 anos. Ela estava com um sobretudo e parecia uma espiã internacional. Essa foi uma excelente viagem porque, além da Rússia, fomos para a Itália. Eu estava lá para o G20, mas elas foram para Roma e também puderam ir ao Vaticano e conhecer o papa. Depois fomos para Gana e fomos recebidos com dança na pista de pouso. Então, ver uma menina de 10 anos e outra de 7 anos experimentarem essa extensa viagem do mundo, em certa medida pela primeira vez, é algo que eu sempre vou lembrar. Mas também é ótimo viajar com elas agora, que têm 20 e 17 anos. De certa forma, viajar com elas agora é mais valioso porque uma já saiu da nossa casa e a outra está prestes a sair, então se você puder atrai-las com uma viagem muito boa, elas passam mais tempo com você. Também é especial ser um jovem viajando. A primeira dama do Quênia está aqui. É maravilhoso vê-la. Como alguns de vocês sabem, meu pai era do Quênia, mas eu não o conhecia bem. Eu o encontrei uma vez, mas, basicamente, fui criado nos Estados Unidos. Minha primeira viagem ao Quênia foi quando eu tinha meus 20 e poucos anos. Eu me formei na faculdade, já tinha trabalhado e meu pai havia falecido naquele momento e então eu queria entender a terra onde ele viveu. Então, eu passei um mês lá. Mas primeiro vim para a Europa – e nunca havia viajado pela Europa antes. Essa viagem foi memorável porque fazia parte da minha própria autodescoberta. Eu estava viajando sozinho, e na Europa eu estava nessas pensões e, basicamente, comprava uma baguete e um pouco de queijo e comia isso todos os dias. E algum vinho, às vezes. Ainda me lembro quando peguei o ônibus noturno de Madri para Barcelona. Meu espanhol não era muito bom, mas eu conseguia me comunicar um pouco, e fiz amizade com um colega de viagem no ônibus que não sabia falar inglês. Eu dividi com ele um pouco de pão e ele compartilhou comigo um pouco de vinho. Chegamos em Barcelona ao amanhecer, e eu lembro de caminhar em direção à cidade, com o sol nascendo. Esse tipo de viagem é marcante porque faz parte de você, jovem, tentando descobrir o seu lugar no mundo. Eu fui para o Quênia e passei um mês lá. Eu fui em um safári, conheci membros da minha família que eu nunca havia encontrado antes, e isso foi muito especial. Com tanta informação e um ciclo de notícias de 24 horas, você tem algum conselho sobre como filtrar o que é ruído e o que é realmente importante? Bem, estamos passando por mudanças que, no passado, poderiam levar gerações para acontecer e agora acontecem em grande velocidade. A era da informação, a globalização e os avanços tecnológicos uniram o mundo de uma forma que não ocorria quando eu era criança. O fato de eu poder voar de Washington para a Europa em poucas horas e, ao desembarcar, ter acesso completo, por este pequeno dispositivo (celular), a todos e tudo ao redor do mundo. Isso é extraordinário, mas também está criando novos desafios. Acho que agora o que mais estamos vendo é o grau em que essas mudanças estão ocorrendo na tecnologia, na globalização, nesse fluxo constante de informações, que faz com que as pessoas se sintam inseguras em relação ao mundo ao seu redor. Algumas das mudanças são muito concretas, como as que ocorreram na economia, particularmente nas economias avançadas. Pessoas que antes se sentiam bastante confortáveis e tinham um emprego em que achavam que sempre estariam, com aposentadoria garantida e benefícios, de repente se deram conta de que teriam que correr para se atualizar. E essas pessoas também estão preocupadas com o futuro de seus filhos. Parte disso tem a ver com identidade e cultura. Então, seja o Brexit no Reino Unido ou as drásticas mudanças políticas que aconteceram nos Estados Unidos, ou algum ressurgimento do populismo na Europa continental, todos eles não são apenas reações às mudanças econômicas, mas também uma reação das pessoas que sentem que seu status está sendo reduzido, ou uma sensação de que seu país está sendo prejudicado. E elas querem adotar leis genuínas ou leis metafóricas para preservar o que elas acreditam que tinham. Nacionalismo, nativismo, xenofobia – essas são características perigosas. Reconheço que tenho certa tendência nesse aspecto porque, em virtude do meu nascimento e da minha criação, sou alguém que acredita em unir as pessoas em vez de as separar em "nós" e "eles". Mas, objetivamente, o que eu também posso dizer é que, dado à natureza da informação, viagens, tecnologia, cadeias de abastecimento global, se tentarmos reafirmar essas fronteiras muito fixas em uma época em que tecnologia e informação são sem fronteiras, não apenas nós falhamos, mas acho que vamos ver um conflito cada vez maior e confrontos cada vez maiores entre os povos. Então, essa é a maior tendência com a qual estou preocupado, porque não está isolada em um país em particular – é um fenômeno global. Um dos benefícios da indústria de viagens, obviamente, é lembrar as pessoas do incrível valor da nossa diversidade e das diferenças que temos, porque é isso que torna a comida em Sevilha diferente da comida em Bangkok – e ambas são muito boas. Mas viajar também nos lembra o que temos em comum: a capacidade de nos reconhecermos nos outros, de modo que ver uma mãe e uma criança brincando e rindo em uma pequena vila no Quênia será como uma mãe e uma criança na Virgínia ou no Havaí. Agora, além desta questão geral sobre a desestabilização da política, também estou preocupado com a desestabilização do meio ambiente. A mudança climática não é algo do futuro. Está demonstrado que está acontecendo agora e que estamos vendo os impactos agora. E alguns dos lugares mais bonitos deste planeta, os lugares que mais queremos visitar por um tempo e compartilhar com nossos filhos e netos, estão em risco por causa dessas mudanças. Alguns dos lugares mais espetaculares da nossa civilização estão ao longo do litoral e não sobreviverão se o oceano subir um metro. Certas partes do mundo podem se tornar proibidas para viver ou visitar se continuarmos neste ritmo. E é aí que as duas questões que mencionei convergem: a mudança climática vai contribuir para os padrões de migração e refugiados, que terão um impacto sobre a onda de pessoas que estão procurando sobreviver. Você não pode contê-los com um muro. Ou não por muito tempo. Então, temos que nos preocupar com a mudança climática – mesmo que sintamos como se vivêssemos em países ricos que podem de alguma forma se adaptar e administrar essas questões – porque há grandes parcelas do mundo com centenas de milhões ou bilhões de pessoas que não vão ser capazes de lidar com isso. Isso vai alterar de forma fundamental a economia global. A boa notícia é que há coisas que podemos fazer para fazer a diferença. A má notícia é que agora a nossa política não é projetada para lidar com essas questões tão rapidamente quanto deveríamos. E para onde vamos? Bem, a boa notícia é que as gerações que vêm depois de nós são mais sofisticadas, mais cosmopolitas, conhecem mais o mundo e apreciam mais as outras culturas do que os mais velhos. Quando eu olho para Malia e Sasha, em parte porque elas puderam consumir o mundo inteiro neste pequeno dispositivo (celular), elas não têm medo da diferença, elas não têm medo da mudança, elas não têm medo das coisas que são incomuns ou desconhecidas. Esse é o mundo em que elas cresceram. Como consequência, penso que a política de erguer muros é uma política que não vai ter apelo para os jovens. Isso é algo que eles rejeitam. Existe uma correlação bastante forte nos Estados Unidos entre idade e atitudes progressistas (sobre diferentes culturas, etnias, orientações sexuais). Assim, a boa notícia é que nas gerações que estão vindo depois de nós – e nós ajudamos a solidificar uma crença nos Estados Unidos a favor dos direitos civis e dos direitos das mulheres -, os jovens sentem essas coisas ainda mais fortemente. Eles cresceram com esses valores. No entanto, a má notícia é que os mais velhos não gostam de entregar o poder. E as instituições que construímos não estão preparadas para responder às demandas que os jovens têm para enfrentar questões como mudança climática ou para ter uma atitude mais aberta em relação às pessoas que vêm de diferentes regiões. As pessoas mais velhas tendem a votar mais que os jovens. Por isso, é crucial fazer com que os jovens se envolvam mais na reconstrução de instituições que atendam às suas necessidades e para garantir que suas preocupações sejam representadas. No entanto, uma última coisa que me preocupa é a maneira como os nossos meios de comunicação estão operando, que faz com que seja difícil criar democracias que funcionem bem. Eu já disse isso antes. Quando eu estava crescendo, tinha três canais de televisão. E todos eles, mais ou menos, diziam a mesma coisa. E havia grandes jornais, mas todos tinham um certo padrão editorial e jornalístico. Como consequência, se você era um conservador ou um liberal, independente do seu ideal político, basicamente você tinha um conjunto similar de fatos e informações. Você tinha uma visão de mundo básica e comum, de modo que quando você tinha um desentendimento sobre política, estava discutindo sobre o que fazer com a situação, não estava discutindo sobre os fatos. Hoje a mídia está tão fragmentada e a internet, por definição, alimenta informações para se adequarem aos preconceitos pré-existentes de tal maneira que, muitas vezes agora, se você fala com alguém nos Estados Unidos que assiste à Fox News e conversa com alguém que lê The New York Times, eles têm uma visão completamente diferente do mundo. E isso torna mais difícil chegar a um terreno comum e ter coesão para resolver grandes problemas. Isso é verdade em algum grau em todos os países de que falamos, e certamente é verdade na internet. E quando você inclui mídias sociais e o fato de que, basicamente, você pode gastar todo seu tempo apenas tendo informações de pessoas que já concordam com você – e essas informações reforçam seus preconceitos e uma visão muito estreita do mundo – isso pode ser uma coisa muito perigosa. Então, acho que uma das coisas com as quais teremos que lutar é: como vamos não apenas encorajar as viagens e a mente aberta entre as elites, mas como as pessoas comuns podem ter a oportunidade de experimentar diferentes culturas e interagir com pessoas que não concordam com elas exatamente em tudo e não têm as mesmas inclinações políticas?
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