Ennio Morricone: relembre entrevista feita com o maestro em 2018 em Paris
Compositor e arranjador italiano falou sobre a experiência de fazer concertos com suas músicas e a relação com o cineasta Sergio Leone. Relembre a trajetória de Ennio Morricone, criador de trilhas famosas no cinema O genial compositor italiano Ennio Morricone, que revolucionou a trilha sonora do cinema, concedeu uma entrevista à AFP em novembro de 2018 sobre sua educação artística e a liberdade de compor, antes de uma apresentação em Paris que era parte de sua turnê de despedida do público. Ele tinha 90 anos e estava em plena atividade. "Il Maestro", como exigia ser chamado pelos jornalistas durante as entrevistas, faleceu em Roma nesta segunda-feira (6) aos 91 anos. 'Decameron', 'Cinema Paradiso', 'A Missão', 'Os Oito Odiados': Veja lista com trilhas sonoras mais famosas Famosos lamentam morte de maestro e compositor italiano AFP: Há pouco tempo começou a dar concertos. O que isso significa para você? Ennio Morricone: Foi preciso que pedissem. Até então, eu não tinha percebido a necessidade do público em estabelecer contato comigo, com o desejo de descobrir meu trabalho ao vivo. Quis saber como seria e gostei. AFP: Você apenas dirige suas próprias composições. Você nunca quis interpretar as dos outros? Ennio Morricone: Não, nunca me interessei. Não as conheço tão bem como as minhas, embora as admire. AFP: Como se desenvolveu sua educação musical? Ennio Morricone: Me serviu um exemplo: quando eu estava no conservatório, conhecia um estudante que admirava, até o limite da obsessão, a obra de Giovanni Pierluigi de Palestrina, um compositor do Renascimento. Essa paixão lhe impediu avançar em sua própria formação, crescer como compositor. Quis evitar isso. Estudei as correntes clássicas, da Idade Média aos contemporâneos. Claro que eu gostei de muitas coisas, mas me abstive de me apaixonar. De modo que ninguém me influenciou de forma particular. Ennio Morricone conduz a Orquestra Filarmônica Nacional Húngara em apresentação em julho de 2009 AP Photo/Boris Grdanoski, arquivo AFP: Quando criança, você frequentava a mesma escola que Sergio Leone. Como vocês voltaram a conviver no cinema? Ennio Morricone: Estivemos na mesma classe durante um ano, depois nos perdemos de vista durante muitos anos. Desconhecia no que ele havia se tornado. Ele viu meu nome nos créditos de um filme que havia composto a música. Veio a minha casa e me falou de seu projeto. Se tratava de "Por um Punhado de Dólares". AFP: Como vocês trabalhavam juntos? Ennio Morricone: Falávamos com muita antecipação. Mas embora Leone me explicasse como seria seu filme, ele não me dava ordens. Era eu que o explicava o que tinha em mente, segundo o que ele me descrevia. Raras foram as vezes que ele me disse "não, eu preferiria isso, e não aquilo". Depois dessa primeira trilha sonora, ele me pediu para fazer algo similar para "Por uns Dólares a Mais". Aceitei. Mas, para o terceiro filme, "Três Homens em Conflito", me opus. Disse a ele: "Não quero que a gente trabalhe assim. Não quero me repetir, me deixe fazer o que quiser". E acho que fiz bem. AFP: Com base em sua música, que você mostrava antes das filmagens, Leone às vezes reescrevia algumas cenas… Ennio Morricone: Aconteceu várias vezes. Para a sequência de abertura de "Era uma vez no Oeste", em que o homem da gaita (Charles Bronson) é esperado por aqueles que querem eliminá-lo, Leone modificou seus planos e a localização da câmera em função da minha música. AFP: Você inovava muito para a época, incluindo sons inabituais nas músicas de filmes, como assobios, sinos e guitarra elétrica. Você tinha liberdade total? Ennio Morricone: Não era tão difícil convencer os diretores. Sabiam que eu não me interessava em criar composições tradicionais, por isso também me procuravam. Eu gostava de trabalhar o som da realidade, o que ouvimos todos os dias. Esses ruídos que nos cercam têm sua própria música e poderiam compor outra comigo. Mario Sérgio Conti comenta obra de Ennio Morricone
- Publicado em Cultura
Jogador de ‘Valorant’ sofre ataque racista durante partida
Após insultos, engenheiro de software reportou jogador na plataforma do jogo e fez boletim de ocorrência. Riot diz que estuda como atender denúncias. Em 'Valorant', agentes se enfrentam em times de cinco Reprodução Um jogador de "Valorant" sofreu ataques racistas durante uma partida neste domingo (5). O engenheiro de software Guilherme Assemany, de 27 anos, jogava online quando sofreu injúrias de outro jogador. Segundo Assemany, ele fez um boletim de ocorrência pela Delegacia Eletrônica da Polícia Civil de São Paulo e reportou o jogador dentro da plataforma, mas recebeu resposta automática e teve a reclamação marcada como resolvida. "Assim que terminou a partida, reportei o jogador utilizando a ferramenta dentro do jogo, saí do jogo e fiz um report também na plataforma de suporte no site. Porém, nessa plataforma, os reports parecem estar sendo respondidos de forma automática. O ticket é fechado automaticamente. Fiz isso duas vezes e o texto de resposta deles é o mesmo", disse. O engenheiro jogava com um amigo uma partida online. "Não consegui completar um objetivo no game e o jogador começou a fazer esses xingamentos. Meu amigo e eu falamos que ele estava sendo gravado e que a gente iria denunciar, mas ele não se importou", contou. De acordo com a Riot Games, desenvolvedora do jogo, um código de conduta foi publicado no site da empresa no dia do lançamento do game, em 2 de junho, com regras e ações contra assédio e injúrias. Entre elas, estão a detecção automática de palavras-chave, análise de chats para identificação de violações e restrições de 72 horas ao chat de equipe por violações de comportamento. A desenvolvedora disse que está, ainda, "estudando novas maneiras de atender denúncias de jogadores". Para casos reportados, como o de Assemany, uma equipe fica responsável por analisar e adotar medidas disciplinares, como banimentos temporários, suspensão ou encerramento e exclusão da conta. A empresa, no entanto, não comentou esse caso especificamente. A mensagem automática que o jogador recebeu em resposta à acusação feita no canal de suporte diz que a empresa não pode revelar quais medidas serão tomadas por "questões de privacidade". Assemany disse que pretende procurar uma delegacia especializada em crimes cibernéticos nesta semana. Injúria e assédio em jogos online Injúrias e assédio são práticas frequentes em jogos online. Em abril, antes do lançamento oficial do "Valorant", uma jogadora mostrou no Twitter comentários sexistas que recebeu enquanto jogava sozinha. A produtora-executiva do jogo, Anna Donlon, respondeu que a situação era assustadora e que a desenvolvedora buscava soluções para acabar com a toxicidade nos jogos. "É por isso que não jogo solo. Sinto muito. Estamos buscando soluções de longo prazo para tornar seguro jogar 'Valorant' – mesmo na fila solo", escreveu. O jogo de tiro em primeira pessoa com heróis da Riot Games foi lançado em 6 de junho. As partidas são formadas por duas equipes de cinco jogadores cada. Veja trailer de gameplay de 'Valorant'
- Publicado em Cultura
‘Shazam!’ lidera bilheteria semanal no Brasil impulsionado por cinemas drive-in
Arrecadação dos dez filmes mais vistos entre quinta (2) e segunda (6) foi de R$ 102 mil. 'Angry Birds: O Filme' e 'Yesterday' completam top 3. Zachary Levi e Jack Dylan Grazer em 'Shazam!' Divulgação O filme "'Shazam!" liderou a bilheteria do Brasil no período de 2 a 6 de julho de 2020, segundo relatório da empresa de monitoramento Comscore. O longa de abril de 2019 teve renda de R$ 18,6 mil e foi visto por 862 pessoas durante o período acima. Leia crítica do filme com Zachary Levi aqui. Zachary Levi explica demora para adaptação de 'Shazam!' aos cinemas "Angry Birds: O Filme" e "Yesterday" ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Cinemas drive-in se multiplicam no Brasil e viram opção no distanciamento social Os dados, segundo a empresa, se referem a cinemas drive-in e um cinema convencional. Não foram informados quantos drive-ins funcionam e qual é a sala aberta. Com a maioria das salas ainda fechada, os cinemas drive-in estão movimentando o setor. O final de semana teve faturamento de R$ 102,6 mil na soma dos dez principais filmes. O valor médio do ingresso foi de R$ 22,63. Veja o ranking da bilheteria no país: "Shazam!" – R$ 18,6 mil "Angry Birds: O Filme" – R$ 15,5 mil "Yesterday" – R$ 14,6 mil "Jumanji – Próxima Fase" – R$ 12,1 mil "Nasce uma Estrela" – R$ 10,4 mil "Minha mãe é uma peça 3" – R$ 7 mil "Homem-Aranha: Longe de Casa" – R$ 6,3 mil "Rocketman" – R$ 6 mil "O Homem Invisível" – R$ 5 mil "Velozes e Furiosos 8" – R$ 5,7 mil Semana Pop #88: relembre clássicos do cinema com momentos em drive-ins
- Publicado em Cultura
Elton John ganha homenagem em nova moeda comemorativa britânica
'Os últimos anos incluíram alguns dos momentos mais memoráveis da minha carreira, e este é outro marco na minha jornada', celebrou o cantor. Elton John ganha homenagem em nova moeda comemorativa britânica Reprodução/Instagram Elton John se tornou o segundo artista a ser homenageado pelo Royal Mint britânico com uma moeda comemorativa em tributo ao cantor e compositor. A moeda, projetada pelo artista Bradley Morgan Johnson, mostra o inconfundível chapéu de palha de John e modela seus óculos característicos com notas musicais. "É realmente uma honra fabulosa ser reconhecido dessa maneira", disse John, de 73 anos. "Os últimos anos incluíram alguns dos momentos mais memoráveis da minha carreira, e este é outro marco na minha jornada". Elton John, que foi condecorado cavaleiro em 1998, é o segundo artista a ser celebrado na série lendas da música do Royal Mint depois da banda de rock Queen. Ele já vendeu mais de 250 milhões de discos, com hits como "Candle in the Wind", "Your Song" e "Bennie and the Jets". O cantor foi forçado a adiar uma longa turnê de despedida devido à pandemia de Covid-19. A Royal Mint também disse que está trabalhando com John para criar uma peça especial de colecionador, a ser leiloada no final do ano, para arrecadar dinheiro para caridade em um momento em que muitos do setor estão em dificuldades. Initial plugin text
- Publicado em Cultura
Lives da semana: Wesley Safadão e Xand Avião, Claudia Leitte, Roupa Nova e mais shows
Veja agenda de lives entre segunda (6) e domingo (12). Diogo Nogueira, Teresa Cristina e Supla também fazem transmissões. Xand, do Aviões do forró (à esq.), e Wesley Safadão durante as gravações do clipe de 'Eu e a torcida do Brasil' Divulgação Wesley Safadão e Xand Avião, Claudia Leitte, Roupa Nova estão entre os artistas com lives programadas entre segunda (6) e domingo (12). Veja a lista completa com horários das lives abaixo. O G1 já fez um intensivão no começo da onda de lives, constatou o renascimento do pagode nas transmissões on-line, mostrou também a queda de audiência do fenômeno e a polêmica na cobrança de direito autoral nas lives. Segunda (6) dg3 Music e Sandra de Sá – 20h – Link DJ Zé Pedro conversa com o crítico do G1 Mauro Ferreira – 21h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Terça (7) Vintage Culture – 17h – Link Danilo Caymmi com participação do maestro João Egashira (Em Casa com Sesc) – 19h – Link Ringo Star – 21h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Quarta (8) Sepultura – 16h15 – Link Fabiana Cozza participação de Fi Maróstica (Em Casa com Sesc) – 19h – Link Mumuzinho – 19h – Link Day – 20h – Link Supla convida Frejat – 22h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Quinta (9) Arrigo Barnabé (Em Casa com Sesc) – 19h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Sexta (10) Roberta Campos (Em Casa com Sesc) – 19h – Link Claudia Leitte – 19h30 – Link Chico César (ShowLivre Play) – 20h – Link Roupa Nova – 21h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Sábado (11) Rai Saia Rodada – 16h – Link Cezar e Paulinho – 17h – Link Silva – 19h – Link Wesley Safadão e Xand Avião – 20h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Domingo (12) Diogo Nogueira – 12h – Link Salgadinho – 16h – Link Teresa Cristina – 22h – Link Semana pop explica como o Black Lives Matter está mudando a cultura pop
- Publicado em Cultura
Dalai Lama celebra 85 anos com lançamento de álbum de mantras
Quando perguntado por que ele havia aceitado o convite da musicista Junelle Kunin, o líder espiritual respondeu: 'O propósito da minha vida é servir o máximo que puder'. O líder espiritual Dalai Lama durante coletiva de imprensa em Londonderry, na Irlanda do Norte, em 11 de setembro de 2017 Reuters/Clodagh Kilcoyne/File Photo Dalai Lama se candidatou ao estrelato nas paradas musicais nesta segunda-feira (6), dia em que completa 85 anos, com o lançamento de um álbum de mantras e ensinamentos. "Inner World" começa com a faixa "One Of My Favorite Prayers" e continua com o líder espiritual tibetano exilado recitando meditações e ditados com acompanhamento musical. O disco surgiu quando a musicista Junelle Kunin, uma estudante do Dalai Lama da Nova Zelândia, entrou em contato com ele em 2015 com a ideia –e para sua surpresa, ele disse que sim. "Eu pensei que teria que tentar convencê-lo", afirmou ela à Reuters em uma entrevista de sua casa em Auckland. "No momento de gravá-lo, meu Deus, eu tremia como uma folha antes de entrar lá", disse ela. Kunin fez as gravações iniciais na residência do Dalai Lama em Dharamsala, na Índia. Quando chegou em casa, ela trabalhou com seu marido Abraham e outros músicos para produzir música para as faixas. "É uma honra incrível. É imenso", disse Abraham Kunin. Em um vídeo promocional do álbum, quando perguntado por que ele havia concordado em participar, o Dalai Lama responde: "O propósito da minha vida é servir o máximo que puder". O lançamento acontece cinco anos depois que Patti Smith liderou a multidão no festival britânico de Glastonbury cantando Parabéns para ele pelos 80 anos.
- Publicado em Cultura
Nego do Borel cai de moto na Barra da Tijuca e é encaminhado para hospital
Ele sofreu ferimentos leves e está bem, segundo a assessoria de imprensa do artista. Nego do Borel Divulgação O cantor Nego do Borel sofreu um acidente de moto na tarde desta segunda-feira (6) na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. A queda aconteceu no condomínio onde ele mora. De acordo com a assessoria de imprensa do artista, ele tem apenas ferimentos leves, está bem e foi encaminhado para um hospital para ser medicado. Em nota, a equipe do cantor tranquilizou os familiares, fãs e amigos.
- Publicado em Cultura
Charlie Daniels, cantor do hall da fama da música country, morre aos 83 anos
Ganhador do Grammy pela canção 'The Devil went down to Georgia' sofreu um AVC nesta segunda-feira (6). Charlie Daniels toca o violino em apresentação com sua banda em 2016 Harrison McClary/Reuters Charlie Daniels, um dos grandes nomes da música country dos Estados Unidos, morreu nesta segunda-feira (6) aos 83 anos. Ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). O líder da Charlie Daniels Band ficou conhecido pelo grande sucesso da canção "The Devil went down to Georgia", pela qual ganhou um Grammy em 1979. Daniels começou a carreira nos anos 1960 como músico de gravações ao tocar guitarra, baixo, violino e banjo em discos de artistas como Bob Dylan, Ringo Starr e Leonard Cohen. Em 1971, formou a Charlie Daniels Band, um grupo de country-rock conhecido por improvisos e a mistura de diversos gêneros. Em 2016, ele foi integrado ao hall da fama do country.
- Publicado em Cultura
Discos para descobrir em casa – ‘Noel Rosa na voz romântica de Nelson Gonçalves’, Nelson Gonçalves, 1955
Capa do álbum 'Noel Rosa na voz romântica de Nelson Gonçalves', de Nelson Gonçalves Reprodução ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Noel Rosa na voz romântica de Nelson Gonçalves, Nelson Gonçalves, 1955 ♪ Em 1955, o gaúcho Antônio Gonçalves Sobral (21 de junho de 1919 – 18 de abril de 1998) já era Nelson Gonçalves – ou seja, um dos maiores e mais populares cantores do Brasil naqueles anos dourados – quando foi convidado a gravar álbum com o cancioneiro do compositor carioca Noel Rosa (11 de dezembro de 1910 – 4 de maio de 1937), um dos pilares do samba da cidade do Rio de Janeiro (RJ) quando, ao longo dos anos 1930, o gênero viveu processo de transição do morro para o asfalto. Duas circunstâncias mercadológicas geraram o convite para o disco intitulado Noel Rosa na voz romântica de Nelson Gonçalves e lançado pela RCA-Victor, gravadora na qual o cantor registrou toda a obra em trajetória fonográfica iniciada em 1941 e concluída em 1997, um ano antes da saída de cena do intérprete, a dois meses de completar 79 anos. A primeira é que a obra de Noel Rosa – que ficara incrivelmente esquecida ao longo da década de 1940 – estava em fase de redescoberta e de revalorização nos anos 1950, alcançando novas gerações de ouvintes. A segunda é que o LP de 10 polegadas – em bom português, um álbum com oito faixas – começou a ganhar forma no mercado fonográfico brasileiro em meados daquela década de 1950, sem ameaçar, num primeiro momento, a primazia dos discos de 78 rotações por minuto. Era nesse formato de 78 rpm que, até então, Nelson Gonçalves vinha registrando em disco a viril voz de barítono que começara ser notada pelo Brasil em 1942 com a gravação do fox-canção Renúncia (Roberto Martins e Mário Rossi), primeiro de muitos sucessos deste cantor de multidões apelidado de Metralha pela gagueira que desaparecia na hora do canto. Com afinação e emissão exemplares, a voz de Nelson Gonçalves estava mais identificada com o repertório folhetinesco dos compositores sobressalentes nos anos 1940 e 1950 – como Benedito Lacerda (1903 – 1958), David Nasser (1917 – 1980), Herivelto Martins (1912 – 1992), Mário Rossi (1911 – 1981) e Roberto Martins (1909 – 1992) – do que com o então esquecido samba urbano de Noel Rosa. Contudo, havia elo – o romantismo – que conectava a voz grave do cantor ao cancioneiro do compositor de Último desejo (1937). Não por acaso, esse ponto de ligação foi enfatizado no título do LP Noel Rosa na voz romântica de Nelson Gonçalves. Nesse primeiro dos 57 álbuns da vasta discografia, gravado com a opulência orquestral típica da era do rádio, o cantor mostrou, na gravação de Com que roupa? (1933), que sabia cair no samba mais sincopado de Noel – com a segurança vocal que assombrava produtores musicais e técnicos de estúdio – sem deixar de enfatizar no disco a maestria do compositor na arte do samba-canção. Não por acaso, o lado A do LP abriu com o já mencionado samba-canção Último desejo, derradeira obra-prima do cancioneiro de Noel nesse gênero romântico. Embora tenha repetido o erro recorrente na interpretação da letra ao cantar o verso “Que meu lar é um botequim”, em vez do correto “Que meu lar é o botequim”, Nelson acertou o tom melancólico desse grande samba-canção. Sem carregar no melodrama, o cantor também brilhou ao dimensionar corretamente a tragédia afetiva contada nos versos de Quando o samba acabou (1933), joia rara lapidada na abertura do lado B do LP. Se Coração (1931) pulsou na batida mais tradicional do samba, Só pode ser você (1935) – título menos conhecido da parceria de Noel com o paulistano Oswaldo de Almeida Gogliano (1910 – 1962), o Vadico – reverberou melancolia mais próxima de uma seresta do que de uma roda de samba. E cabe ressaltar que, tanto Coração como Só pode ser você, eram músicas que nunca mais tinha sido gravadas desde os anos 1930 até ganharem a voz lapidar de Nelson Gonçalves neste álbum histórico. Da parceria de Noel com Vadico, o cantor também reviveu Feitiço da Vila (1934). E, se algum ouvinte por acaso duvidava da habilidade de Nelson no canto do samba, a gravação de Palpite infeliz (1935), repleta de sincopes manemolentes no arranjo orquestral, atestou a versatilidade do cantor nesse terreno. Nelson também soube fazer Silêncio de um minuto (Noel Rosa, 1935) com a solenidade valorizada na época. Ainda que o álbum Noel Rosa na voz romântica de Nelson Gonçalves soe coeso, o LP se tornou um dos menos conhecidos da discografia do cantor, mesmo tendo sido reeditado em 1971 com outra capa, outro título – Nelson interpreta Noel – e quatro faixas adicionais. É que, a rigor, a voz de Nelson Gonçalves sempre esteve mais para a veia popular dos cancioneiros de Adelino Moreira (1908 – 2002) e Herivelto Martins do que para Noel Rosa – o que somente agrega valor a este LP de dez polegadas em que Nelson Gonçalves interpretou (muito bem) Noel Rosa.
- Publicado em Cultura
Antonio Bivar, ícone da contracultura, deixa marcas em cantoras e no punk brasileiro
Morto aos 81 anos, artista multimídia é lembrado pela direção de importantes shows de Maria Bethânia, Rita Lee e Simone. ♪ OBITUÁRIO – Artista multimídia, Antonio Bivar Battistetti Lima (25 de abril de 1939 – 5 de julho de 2020) atuou em muitas frentes da cultura nacional. Ou, melhor dizendo, da contracultura – universo ao qual sempre esteve associado esse diretor, produtor musical, dramaturgo, roteirista compositor, biógrafo, jornalista, escritor, tradutor e ator. Revelação do teatro nacional em 1969, Antonio Bivar sai de cena, aos 81 anos, deixando marcas expressivas nas trajetórias de cantoras como Maria Bethânia, Rita Lee e Simone – cujo primeiro show solo, apresentado em 1975 nas cidades de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), foi dirigido por Bivar. A Bethânia, a trajetória de Bivar se conectou em 1973, ano em que o artista concebeu e dirigiu – ao lado de Isabel Câmara – um dos mais cultuados shows da cantora, Drama – Luz da noite, de moldura teatral. Parcialmente eternizado no disco ao vivo Drama 3º ato (1973), o show mostrou Bethânia dando voz a alguns textos de Bivar (entre outros autores), sendo que um deles em especial, A trapezista do circo, atravessou gerações, sendo sampleado por Ana Carolina na gravação da música Dadivosa (2001), parceria da artista com Adriana Calcanhotto e Neusa Pinheiro. No embalo da repercussão de Drama – Luz da noite, primeiro show de Bethânia após o antológico Rosa dos ventos (1971), Bivar colaborou na direção do primeiro show profissional de Simone. E, com mais repercussão, ajudou Rita Lee a orquestrar o espetáculo Fruto proibido (1975). De Rita, Bivar virou amigo e parceiro na composição de Drag queen (1993), época em que integrou a equipe de criação do programa, TVleezão, apresentado pela artista na MTV nos anos 1990 – década em que, numa concessão ao mainstream, Bivar também dirigiu show da dupla sertaneja Leandro & Leonardo. Antes, em 1982, em universo bem mais indie, Bivar tinha sido um dos organizadores do festival punk O começo do fim do mundo, apresentado em novembro daquele ano de 1982 em São Paulo (SP), principal cidade-sede do punk no Brasil. A proximidade com o universo punk legitimou Bivar a escrever o referencial livro O que é punk?, editado em 1982 dentro da coleção Primeiros passos. O pequeno grande livrinho apresentou para gerações a ideologia do movimento punk dos anos 1970 em época em que, sem internet, as informações demoravam a circular entre os países. Foi relevante contribuição – mais uma! – de Antonio Bivar para a (contra)cultura nacional.
- Publicado em Cultura